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Passos Coelho diz que só devolve parte dos salários, PS não diz nada

O primeiro-ministro revelou que manterá 60% dos cortes aos salários da Função Pública em 2016, dizendo que há margem constitucional para isso. PS não disse o que fará se ganhar as eleições legislativas.

30 de Outubro de 2014 às 21:31
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O debate era sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2015, mas foi uma medida do ano seguinte que acabou por marcar o dia.

 

Depois de ter prometido no seu discurso inicial uma "reversão de 20% em 2015 e integral no ano seguinte", o primeiro-ministro acabou por clarificar que a sua intenção é manter cortes em 2016. "Se eu for primeiro-ministro não deixarei de apresentar novamente essa proposta e proporei que essa reversão salarial seja de 20% em 2016, sublinhando que não deixará de "apresentar propostas de acordo com aquilo que seja razoável e exequível".

Pela primeira vez desde há muito tempo, o futuro
de Portugal está aberto diante
de nós. 
Pedro Passos Coelho
Primeiro-ministro


Perante as críticas da oposição de que o primeiro-ministro estaria assim a contrariar a decisão do Constitucional, Passos Coelho respondeu que o tribunal não fora conclusivo sobre esta matéria. "O Tribunal Constitucional disse que não se pronunciaria sobre ela na medida em que a proposta do Governo não tinha efeitos vinculativos para anos subsequentes e, portanto, era matéria que o Tribunal não avaliaria", afirmou, reafirmando a intenção de manter os planos iniciais do Governo de repor os salários "20% ao ano". Mais tarde confrontada com a mesma questão, a ministra das Finanças reiterou serem estes os seus planos.


A oposição explorou bastante este tema. "Se o primeiro-ministro continuasse depois das eleições, ficámos hoje a saber que o OE2106 continuaria a ser apresentado à margem da constituição", disse José Luís Ferreira, d’Os Verdes. João Semedo, do Bloco de Esquerda, disse que o primeiro-ministro "não fez um anúncio", mas sim "uma ameaça a todos os funcionários públicos". E deixou a provocação: "Resta agora saber o que fará, o que dirá o PS sobre os cortes nos salários da administração pública...".


E o PS nada disse. Já próximo das 18h, os socialistas tocaram no tema. A deputada Isabel Santos, secundada pouco depois por Jacinto Serrão, insistiu em saber o que fará o actual Governo se se mantiver à frente do País, mas nada disse sobre o que o PS faria. Questionado pelo Negócios à margem do debate, o deputado do PS, Vieira da Silva, disse que a questão da reposição integral dos salários não está "em debate neste momento". O que esteve em causa foi "o facto de o primeiro-ministro ter deixado vários compromissos para um período em que poderá, ou não, estar em funções", salientou. Perante a insistência na questão de saber o que fará o PS se for Governo, o ex-ministro respondeu que "o essencial é ter respeito pleno pelas decisões do TC". Mais tarde, questionado pelos jornalistas, Ferro Rodrigues disse que "a questão mais profunda é saber até que ponto essa medida [de repor só parte dos salários] seria constitucional".

 

Do futuro ao passado

 

Mas se o futuro dominou grande parte do debate sobre o OE 2015 durante a manhã, à tarde foi o passado que ganhou preponderância. Os deputados envolveram-se numa acesa discussão em torno das responsabilidades pelo resgate financeiro, com Vieira da Silva a assumir uma defesa frontal do legado governativo socialista em contraste com a estratégia seguida pelo anterior secretário-geral do PS.


Quanto à proposta do Orçamento do Estado para 2015, as principais críticas da oposição foram para o aumento da carga fiscal e para o novo tecto para as prestações sociais, que deverá conduzir a uma poupança de 100 milhões de euros. Os partidos da esquerda do hemiciclo colocaram ainda em causa a credibilidade dos números do orçamento, criticando o Governo por viver fora da realidade.

 

Da parte do PSD veio ainda a indicação de que poderá haver um recuo na eliminação da cláusula de salvaguarda que tem evitado aumentos significativos do IMI na sequência da reavaliação dos imóveis.

 
A decisão do Constitucional
Os juízes deram luz verde aos cortes salariais em 2015 por entenderem que, nesse ano, "não só perduram ainda os efeitos do programa de ajustamento, por via da fixação da meta do défice (…) como ainda se faz sentir o efeito do procedimento de défice excessivo". Já quanto a 2016, 2017 e 2018, entenderam que já não se estará perante uma "resposta a situação de emergência". Com a situação já estabilizada, a manutenção de cortes violaria o princípio da igualdade.
 
Dívida subiu menos com este Governo
O valor nominal da dívida pública aumentou menos de metade em três anos de governo PSD-CDS do que nos últimos dois anos do Governo de José Sócrates. Esta conclusão resulta de números do Banco de Portugal apresentados pela ministra das Finanças, tendo em conta o real perímetro da dívida segundo o novo sistema de contas europeu (o SEC2010), que obrigou à inclusão nas contas públicas dos encargos de 268 empresas públicas e entidades adicionais que até agora escapavam ao "radar" da contabilidade pública enviada para Bruxelas. Questionada por um deputado do PSD, Maria Luís Albuquerque revelou a evolução dos números da dívida pública em base comparável, afirmando que entre Setembro de 2009 e Junho de 2011, a dívida subiu mais de 54 mil milhões de euros. Já durante os três anos do actual Governo, esta subiu cerca de 28,5 mil milhões.
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