Depois de os rendimentos terem crescido de forma recorde este ano, isso não deverá acontecer em 2025. A expectativa das principais instituições é que os salários continuem a subir, mas muito menos. O avanço dos preços também deverá abrandar, mas a redução esperada das taxas de juro pode dar um alívio extra a famílias e empresas.
Este ano, o rendimento disponível das famílias, em termos reais, ou seja, descontando o efeito da inflação, subiu 7,1%, segundo o Banco de Portugal (BdP). No entanto, este aumento histórico não se deverá manter no próximo ano: qualquer que seja o indicador usado pelas principais instituições, a expectativa é que os salários travem a fundo em 2025.
O BdP antecipa que o rendimento disponível real cresça apenas 2,7% no próximo ano. Já o Conselho das Finanças Públicas (CFP) antecipa um crescimento nominal do rendimento de 3,9% em 2025, depois de um crescimento de 10,4% este ano; e a Comissão Europeia vê a compensação por trabalhador aumentar 3,6% em 2025 (depois do avanço de 6,5% este ano). Estes indicadores apontam para a evolução nominal dos salários, sem descontar o impacto da subida de preços no rendimento das famílias.
Ainda assim, estas estimativas sinalizam ganhos reais de poder de compra. Banco central, CFP e Bruxelas antecipam que os preços cresçam menos em 2025 (esperando uma inflação perto, mas acima, dos 2%). Nesse sentido, a expectativa é que o Banco Central Europeu (BCE) continue a cortar as taxas de juro no próximo ano (até chegar a uma taxa neutra de 2%), aliviando, assim, os custos de financiamento de famílias e empresas.
Pensões e IRS puxam por salários
No próximo ano, o apoio do Estado aos rendimentos das famílias deverá ser inferior em 2025, segundo as simulações do BdP. Se este ano as medidas decididas pelo Governo e Parlamento aumentaram os rendimentos disponíveis reais em 3,6%, em 2025 só devem fazer os salários subir 1,5%.
Recorde-se que o aumento de rendimentos este ano é explicado ao crescimento das transferências das famílias (nomeadamente pensões, mas também através do Complemento Solidário para Idosos, por exemplo) e da redução de IRS, mas também de outros rendimentos de empresas e propriedade (como a remuneração do trabalho independente, receitas de juros, dividendos ou rendas, entre outros).
Em 2025, a mão do Estado, embora faça crescer menos salários, será responsável por mais de metade desse aumento: quase 80% do reforço dado vai ficar concentrada em reduções no IRS, sobretudo dirigidas a quem tem até 35 anos. Os pensionistas vão receber os ganhos restantes (20%) do reforço de rendimentos.
Aumentos menores travam poupança
Com os aumentos salariais a perderem força este ano, a expectativa é que as famílias reduzam a sua taxa de poupança em 2025, para se protegerem de "futuros choques" sobre o rendimento.
Nesse sentido, o BdP antecipa que o aumento do rendimento seja direcionado, na sua totalidade (2,4 pontos percentuais), para o consumo real das famílias, sem deixar espaço para poupanças extra.
Isto dará fôlego à economia portuguesa em 2025, embora as instituições antecipem – ao contrário do que aconteceu até aqui – um maior contributo do investimento, à boleia de uma maior execução do PRR.