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Agitam-se as águas diplomáticas no Canal do Panamá. O que se passa?
Donald Trump, presidente eleito dos EUA, ameaçou o Panamá com a recuperação da administração do Canal por causa das tarifas. A resposta não tardou e o Presidente José Raúl Mulino já garantiu que a "soberania e a independência não são negociáveis". O Explicador da semana diz-lhe o que está em causa.
O Canal do Panamá é uma via artificial que permite a ligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Foi inaugurado em 1914, celebrou um século este ano, e esteve sob a administração dos Estados Unidos até 1977.
Depois dessa data e até 1999 houve uma administração conjunta com o Panamá e a 31 de dezembro de 1999 passou exclusivamente para as mãos do país da América Central.
Tem 82 quilómetros de extensão e é, a par do Canal do Suez, uma das rotas mais importantes do mundo para o comércio global.
Nos últimos anos, a seca e a descida do nível das águas tem criado problemas e reduzido o número de travessias possíveis. Em 2023, a autoridade do canal decidiu mesmo dar prioridade às companhias que pagassem mais e abriu leilões que permitiam a certos clientes ter prioridade nas passagens.
A chegada de Trump
O presidente eleito dos Estados Unidos ainda não se sentou na Casa Branca mas já está a agitar as águas diplomáticas. Donald Trump acusa o Panamá de cobrar taxas excessivas e "ridículas" e ameaça recuperar a administração do canal se o Panamá não administrar a infraestrutura de forma aceitável.
Numa publicação no Truth Social, Trump também avisou que não deixaria o canal cair nas "mãos erradas" e pareceu alertar para uma potencial influência chinesa na passagem, escrevendo que o canal não deveria ser gerido pela China.
Na resposta, o Presidente do Panamá disse que "todos os metros quadrados do canal e a zona adjacente pertencem ao Panamá e assim vão permanecer". José Raúl Mulino disse ainda que "a soberania e independência do país não são negociáveis" e explicou que as taxas para o uso do canal são "estabelecidas publicamente e numa audiência aberta, considerando as condições de mercado, a concorrência internacional, os custos operacionais e as necessidades de manutenção e modernização da rota interoceânica".
O presidente do Panamá garantiu também que o canal "não está sob controlo direto ou indireto, nem da China, nem da comunidade europeia, nem dos Estados Unidos, nem de qualquer outra potência".
A Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA) já considerou as palavras de Trump "um ataque à soberania" do Panamá e "uma ameaça para a América Latina e as Caraíbas". Trump respondeu com a nomeação de um novo embaixador no Panamá, Kevin Marino Cabrera, reiterando que o país está a "defraudar" os Estados Unidos no Canal do Panamá.