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Agudizar da guerra comercial pode tirar 0,7% ao PIB português

O PIB português pode encolher 0,7% em três anos num cenário de guerra comercial mais ampla. Um estudo do Banco de Portugal refere que a economia portuguesa está mais exposta por causa da dependência das exportações.

Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt 21 de Junho de 2018 às 13:01
Se a guerra comercial entre os EUA e os seus parceiros comerciais se agudizar, a dimensão do PIB português poderá ser 0,7% inferior ao nível que está previsto no cenário macroeconómico projectado actualmente. A estimativa é do Banco de Portugal e consta do Boletim Económico de Junho. Este impacto seria num cenário em que os EUA e os países parceiros aplicam tarifas de 10% de forma recíproca.

Nas projecções que divulgou esta quinta-feira o Banco de Portugal traça um cenário macroeconómico nacional e internacional assumindo que as tensões proteccionistas se mantêm "contidas" e os conflitos comerciais não se agravam. Ou seja, que tudo fique no patamar em que está: os EUA aplicaram tarifas ao aço (25%) e alumínio (10%) a vários países parceiros e essas economias aplicaram retaliações de ordens diferentes. No caso da UE, as tarifas aos produtos norte-americanos entram em vigor esta sexta-feira.

Contudo, este cenário pode vir a ser bem diferente caso os Estados Unidos intensifiquem a sua política proteccionista. Por exemplo, já se fala num ataque direccionado ao sector automóvel europeu, tendo em vista reduzir o défice comercial que os EUA têm com a Alemanha. "Os riscos de um maior proteccionismo ao nível das trocas comerciais globais tem vindo a aumentar, impulsionados em larga medida pela retórica e acções recentes dos EUA, bem como pelas ameaças de retaliação dos seus parceiros comerciais", frisa o Banco de Portugal.



Para simular o impacto do aprofundamento das tensões comerciais, o Banco de Portugal traçou dois cenários. Por um lado, um cenário de guerra comercial limitado onde os EUA aplicam tarifas sobre as importações de todos os bens originários dos países parceiros na ordem dos 10% e a respectiva retaliação desses países na mesma dimensão. Por outro lado, um cenário de guerra comercial generalizada que assume que todos os países impõem tarifas aduaneiras sobre as importações dos restantes na ordem dos 10%.

Em termos globais, a conclusão do Banco de Portugal é clara: "Os resultados apontam para um impacto negativo e significativo para todas as economias envolvidas". Em Portugal, o impacto do primeiro cenário, aquele que actualmente é mais provável, seria de uma redução de 0,7% na actividade económica ao longo de três anos. O efeito nos preços seria um aumento de 0,4%.

Este impacto é particularmente significativo para Portugal por causa da recente transformação da economia durante a última década. As exportações nunca pesaram tanto no PIB e, apesar de ser considerado mais saudável pela maior parte dos economistas, isso deixa a economia portuguesa mais vulnerável às flutuações do comércio internacional. "O aumento de barreiras comerciais pode ter um impacto bastante negativo sobre a economia portuguesa, dado que o crescimento recente tem assentado, em larga medida, no dinamismo das exportações", concretiza o banco central.

O próprio Banco de Portugal admite que esta estimativa possa pecar por defeito. Ou seja, substimar o impacto. É que um maior grau de proteccionismo pode afectar as economias envolvidas através da incerteza e confiança, "o que contribui para amplificar os efeitos negativos sobre a actividade económica", e ainda a menor concorrência internacional e a redução das possibilidades de especialização, "o que tem impacto no médio prazo sobre o crescimento da produtividade".



Apesar da escalada das disputas comerciais representar "um risco significativo em baixa para as perspectivas económicas globais", a estimativa do Banco de Portugal aponta para que os Estados Unidos sejam os mais afectados. O efeito negativo acumulado na economia norte-americana pode chegar quase aos 2% num período de três anos. O impacto no PIB mundial seria de 0,7%. Já o comércio mundial iria reduzir-se em quase 3%.

No segundo cenário traçado pelo Banco de Portugal de guerra comercial generalizada, o impacto negativo no PIB português seria de 2,5%, igual ao impacto no PIB mundial.
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