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Guerra comercial: Draghi pede aos EUA que aprendam com a história. Powell admite receios
Os bancos centrais estão preocupados com o impacto do escalar das tensões comerciais na economia mundial. Powell, o escolhido de Trump para liderar a Fed, foi mais comedido, mas os restantes não se pouparam nas críticas.
O agravamento das disputas comerciais entre a administração norte-americana e o resto do mundo começa a aumentar os riscos do cenário macroeconómico que os bancos centrais traçaram para os próximos anos. Para já o efeito sente-se na confiança dos agentes económicos, o que poderá comprometer o ritmo da actual expansão económica. Essa preocupação foi assumida pelos banqueiros centrais no painel do Fórum do Banco Central Europeu (BCE) que encerra esta quarta-feira em Sintra.
Um cenário de guerra comercial generalizada teria um impacto nos preços dos produtos, afectando assim a inflação, um indicador que está no centro do mandato de vários bancos centrais, inclusive o do BCE. Nesse cenário, os governadores seriam forçados a decidir entre apoiar o crescimento económico ou equilibrar as pressões inflacionistas, aumentando os juros, por exemplo.
Contudo, esta preocupação ainda é limitada e tem origem em impressões que os presidentes regionais da Reserva Federal recolheram a nível local. Além disso, este potencial impacto ainda não está incorporado nas projecções que a Fed actualizou também na semana passada.
Powell admitiu que "as mudanças na política comercial poderão levar-nos [à Reserva Federal] a questionar o cenário macroeconómico". Contudo, isso ainda não é possível: "Não temos nenhuma forma de saber como introduzir isso [guerra comercial] no cenário macroeconómico para já", confessou.
As declarações mais bruscas vieram dos outros três elementos do painel, onde se inclui o anfitrião. "Há lições que podemos aprender do passado [das guerras comercias] e todas são negativas", alertou Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), referindo que não há motivos para se estar optimista.
Esta quarta-feira a Reuters avançou, citando fontes do BCE, que Draghi está preocupado com os efeitos da guerra comercial na recuperação económica da Zona Euro, o que poderá complicar ou até pôr em causa o fim dos estímulos. Ou seja, a retirada da política monetária acomodatícia. As mesmas fontes comentaram que "o proteccionismo terá um impacto muito mais elevado do que agora é estimado". Uma reacção negativa dos mercados seria expectável, mas prejudicial.
No mesmo painel estava o governador do Banco da Austrália, Philip Lowe, que classificou a questão da guerra comercial de "muito preocupante" e o governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, que disse que este era uma "matéria de grande preocupação" para o país.
Esta quarta-feira a Comissão Europeia anunciou que as tarifas que vai impor a cerca de 100 produtos norte-americanos vão entrar no terreno esta sexta-feira, dia 22 de Junho. As tarifas dos EUA ao aço (25%) e alumínimio (10%) importados da União Europeia estão a ser aplicadas desde 1 de Junho.
Além desta frente com os seus parceiros comerciais, os Estados Unidos têm em curso uma guerra comercial mais profunda com a China: o pingue-pongue das tarifas aduaneiras entre estas duas grandes economias mundiais continua e já afectou os mercados financeiros.