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Guerra comercial: Draghi pede aos EUA que aprendam com a história. Powell admite receios

Os bancos centrais estão preocupados com o impacto do escalar das tensões comerciais na economia mundial. Powell, o escolhido de Trump para liderar a Fed, foi mais comedido, mas os restantes não se pouparam nas críticas.

Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt 20 de Junho de 2018 às 18:23

O agravamento das disputas comerciais entre a administração norte-americana e o resto do mundo começa a aumentar os riscos do cenário macroeconómico que os bancos centrais traçaram para os próximos anos. Para já o efeito sente-se na confiança dos agentes económicos, o que poderá comprometer o ritmo da actual expansão económica. Essa preocupação foi assumida pelos banqueiros centrais no painel do Fórum do Banco Central Europeu (BCE) que encerra esta quarta-feira em Sintra.

Um cenário de guerra comercial generalizada teria um impacto nos preços dos produtos, afectando assim a inflação, um indicador que está no centro do mandato de vários bancos centrais, inclusive o do BCE. Nesse cenário, os governadores seriam forçados a decidir entre apoiar o crescimento económico ou equilibrar as pressões inflacionistas, aumentando os juros, por exemplo.

No painel, o presidente da Fed, Jerome Powell, nomeado pelo actual presidente norte-americano, foi o mais cauteloso. Na declaração em que mais longe foi disse que há empresários nos Estados Unidos que estão a adiar decisões de novos investimentos ou contratações por causa da guerra comercial, semelhante ao que disse na semana passada na conferência de imprensa após ter subida pela segunda vez os juros.

Contudo, esta preocupação ainda é limitada e tem origem em impressões que os presidentes regionais da Reserva Federal recolheram a nível local. Além disso, este potencial impacto ainda não está incorporado nas projecções que a Fed actualizou também na semana passada.

Powell admitiu que "as mudanças na política comercial poderão levar-nos [à Reserva Federal] a questionar o cenário macroeconómico". Contudo, isso ainda não é possível: "Não temos nenhuma forma de saber como introduzir isso [guerra comercial] no cenário macroeconómico para já", confessou.

As declarações mais bruscas vieram dos outros três elementos do painel, onde se inclui o anfitrião. "Há lições que podemos aprender do passado [das guerras comercias] e todas são negativas", alertou Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), referindo que não há motivos para se estar optimista.

Esta quarta-feira a Reuters avançou, citando fontes do BCE, que Draghi está preocupado com os efeitos da guerra comercial na recuperação económica da Zona Euro, o que poderá complicar ou até pôr em causa o fim dos estímulos. Ou seja, a retirada da política monetária acomodatícia. As mesmas fontes comentaram que "o proteccionismo terá um impacto muito mais elevado do que agora é estimado". Uma reacção negativa dos mercados seria expectável, mas prejudicial.

No mesmo painel estava o governador do Banco da Austrália, Philip Lowe, que classificou a questão da guerra comercial de "muito preocupante" e o governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, que disse que este era uma "matéria de grande preocupação" para o país.

Esta quarta-feira a Comissão Europeia anunciou que as tarifas que vai impor a cerca de 100 produtos norte-americanos vão entrar no terreno esta sexta-feira, dia 22 de Junho. As tarifas dos EUA ao aço (25%) e alumínimio (10%) importados da União Europeia estão a ser aplicadas desde 1 de Junho.

Além desta frente com os seus parceiros comerciais, os Estados Unidos têm em curso uma guerra comercial mais profunda com a China: o pingue-pongue das tarifas aduaneiras entre estas duas grandes economias mundiais continua e já afectou os mercados financeiros

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