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20 de Abril de 2016 às 21:00

Atirar dinheiro de helicóptero é uma boa solução? Não

Parece óbvio que, pelo menos por agora, os helicópteros de dinheiro devem permanecer firmemente no domínio do debate académico.

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Após anos de política monetária expansionista, o Banco Central Europeu (BCE) falhou no objectivo de aumentar a taxa de inflação para valores "próximos, mas inferiores a 2%". E é muito pouco provável que a situação se altere devido às mais recentes medidas: taxa de juro de 0% nas principais operações de refinanciamento, aumento do valor mensal do programa de compras de activos de 60 mil milhões de euros para 80 mil milhões de euros e uma nova redução da taxa de depósitos para -0,40%. É por isso que alguns economistas defendem que o BCE deve ir mais longe com os chamados "helicópteros de dinheiro". Ou seja, oferecer dinheiro directamente às famílias da Zona Euro.       

 

Esta ideia remonta aos debates sobre o monetarismo dos anos 1960. Defendia-se, na altura, que um banco central tem sempre opções para estimular a procura agregada e a inflação se estiver disposto a tomar medidas radicais. Mas o que, naquele tempo, era uma ideia teórica é hoje uma possibilidade real.

Na prática, o helicóptero de dinheiro chegaria na forma de pagamentos fixos para as famílias ou "vouchers" de consumo para todos, financiado exclusivamente pelos bancos centrais. Aos governos e bancos comerciais responsáveis por distribuir o dinheiro seria creditado um depósito ou dado dinheiro sem contrapartida na coluna de activos do BCE. Esta medida reduziria o capital do banco central a menos que este vendesse reservas de avaliação de activos do seu balanço.  

Os defensores desta ideia argumentam que os bancos centrais estão sujeitos a regras contabilísticas especiais que, caso seja necessário, podem ser ajustadas. Entre os defensores dos helicópteros de dinheiro encontramos importantes figuras como o antigo presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, Ben Bernanke, ou o antigo presidente da Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido, Adair Turner. O presidente do BCE, Mario Draghi, já destacou os obstáculos técnicos, legais e contabilísticos desta medida, mas não a colocou totalmente de parte.

 

A questão que se coloca agora é: justifica-se avançar com uma medida tão extrema?

 

A resposta é não. Apesar de os helicópteros de dinheiro serem uma medida viável no caso de uma espiral deflacionista, como aconteceu no final dos anos 1920 e início dos anos 1930, essa não é a situação actual – nem na Zona Euro nem na economia global.

É verdade que a procura ainda não recuperou dos efeitos da crise financeira global de 2008. Bancos, empresas e famílias continuam a limpar os seus balanços e a libertar-se da imensa dívida que acumularam durante o auge do crédito. Mas já fizeram progressos significativos e o impacto negativo no crescimento está a diminuir.

Os consumidores não estão a restringir os seus gastos à espera de uma diminuição dos preços de bens e serviços, como acontece num período de deflação. Em vez disso têm aumentado, gradualmente, os seus gastos aproveitando a recuperação do crescimento dos rendimentos e o aumento significativo do poder de compra devido ao colapso dos preços do petróleo e das matérias-primas. Desta forma, a maioria das economias avançadas está, novamente, a produzir perto do limite da sua capacidade.  

Os resultados das empresas também contrariam a visão de que estamos presos numa situação de deflação. A estabilidade de preços não gerou pressão sobre as margens de lucros. Pelo contrário, em muitas economias avançadas os lucros aumentaram – alguns para níveis recorde – devido, em parte, à queda dos custos de produção.

Neste ambiente, distribuir dádivas financiadas pelo banco central teria consequências sistémicas perigosas no longo prazo, porque criaria incentivos perversos para todas as partes envolvidas. Os decisores políticos ficariam tentados a recorrer ao helicóptero de dinheiro sempre que o crescimento abrandasse, em vez de implementarem reformas estruturais difíceis para resolver as causas do fraco desempenho económico.

Esta medida aumentaria também a expectativa de que os bancos centrais e os governos estariam sempre disponíveis para intervir no sentido de aliviar bolhas de crédito e mitigar as suas consequências. Mesmo que isso obrigasse a acumular mais dívida. A percepção dos riscos dos agentes financeiros ficaria, assim, distorcida e desvirtuaria o papel do prémio de risco.

Se a tudo isto somarmos o impacto de uma razia no valor das reservas e o risco de o banco central passar a ter capitais próprios negativos (factos que podem debilitar a credibilidade dos bancos centrais e das moedas), parece óbvio que, pelo menos por agora, os helicópteros de dinheiro devem permanecer firmemente no domínio do debate académico.

 

Michael Heise é economista-chefe da Allianz SE

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Luísa Marques 

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