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10 de Outubro de 2008 às 13:00

Tsunami financeiro e meia de reflexão

Não posso deixar os meu leitores no desconhecimento da explicação da crise "subprime", tal como explanada (admiravelmente) por brasileiros, e posta nas minhas mãos por mão cúmplice. Já corre na Internet, pelo que muitos leitores já a conhecem. Mas como é, tal como agora se diz, "incontornável", não vou privar ninguém deste fabuloso naco de humor, que, além do mais, é basicamente a explicação, caricaturada mas exacta, de tudo o que está a acontecer:

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Mas como é, tal como agora se diz, "incontornável", não vou privar ninguém deste fabuloso naco de humor, que, além do mais, é basicamente a explicação, caricaturada mas exacta, de tudo o que está a acontecer:

"O seu Biu tem um bar, na Vila Carrapato, e decide que vai vender cachaça ‘na caderneta’ aos seus leais fregueses, todos bêbados, quase todos desempregados. Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobre-preço que os pinguços pagam pelo crédito).

O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um activo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.

Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exactamente o que quer dizer.

Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).

Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.

Até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o Bar do seu Biu vai à falência. E toda a cadeia sifudeu !".

Lendo os comentários dos chamados meios bem informados e com vantagem de conhecimentos altamente especializados, nota-se, para além de trechos muito pertinentes e alguns até úteis, (calcule-se), algo que o mero senso comum e a experiência passada já indicaria à saciedade: Um evento desta magnitude e com ausência de precedentes é como a pandemia da gripe espanhola de 1918. Tem-se uma ideia da causa, mas não se conhecem as consequências potenciais nem se tem a vacina rigorosamente apropriada. E como existe um efeito multiplicador de multidão em contágio, tal com um vírus aerotransportado, a vaga vai estancar, mas com muitos danos.

Agora ainda não é tempo de chegar às lições, tanto pela insuficiência de rigoroso conhecimento da situação como pela excessiva emotividade dominante que retira a capacidade de boa reflexão.

E nós, cidadãos comuns? A história e o conhecimento empírico dizem-nos que depois da tempestade aparece a bonança e isso também agora vai acontecer inevitavelmente, no momento até mais rapidamente porque os tempos actuais são velozes. Até chegará o momento em que há oportunidades a aproveitar, as tais que aparecem sempre associadas às crises, mas que nunca serão aproveitadas pelos que se deixam prostrar pelo pensamento depressivo.

Aliás, enquanto a confiança mínima se não consolidar não vamos a lado nenhum. (Por isso, tenha os olhos na Libor e na Euribor, mais importantes que as taxas directoras do FED e do BCE, porque não são decretadas, antes formam-se no mercado, e por isso revelam o sentimento dos principais agentes financeiros, os bancos).

(1) Nota aos leitores: Esta coluna rege-se por princípios de rigor e boa fé intelectuais, à sombra do guia que o autor venera, Emmanuel Kant. Sem embargo, também cultiva largamente a ironia (aí, o autor, frequentemente, nem a si mesmo se poupa) e, também, o estilo e alguns pontos de vista do modo a que se convencionou chamar "politicamente incorrecto". Basta ler a lista dos títulos, nem é preciso penetrar nos conteúdos, para ver sobressaída esta característica totalmente evidente.

Parece, porém, que certos leitores não percebem isso, que é claríssimo, e se calhar nem compreendem o conceito. Para estes, um conselho óbvio: Não leiam, e até evitam a dor de cabeça, ao tentar compreender. Ainda por cima gente que recorre ao insulto boçal, que, aliás, só diminui quem o profere. Eu tenho o maior dos gostos que me evite, não leia as minhas crónicas, não compre os meus livros e não procure os meus serviços.

(Um dia destes voltarei ao tema do "politicamente incorrecto", uma aproximação intelectual altamente minoritária, mas que muito me apraz e ao grupo de amigos que cultivo, e que posso usar à vontade porque nem sou candidato a coisa alguma nem almejo a popularidade).

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