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01 de Março de 2012 às 23:30

QREN e caldos de galinha

Cá em Portugal bem se pode insultar a Merkl ou jogar ao bom aluno, é tudo igual ao litro, porque para crescer economicamente é preciso dinheiro e nós o que temos só vem por empréstimo nas condições dos prestamistas, pelo que o modo inteligente, poupando saliva e energia em geral, é comer e calar.

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(Onde o autor desavergonhadamente utiliza para título uma figura de retórica de autoria do secretário de Estado da Economia, Almeida Henriques, descrevendo o único caminho que resta a este vilipendiado Portugal para o crescimento económico, enquanto divaga sobre a discussão académica e prática, nacional e internacional, europeia e americana sobre o dito tema, salientando sempre que quem paga manda e o nosso país, coitado, está do outro lado do balcão).

Por um lado diz-se que o caminho para resolver o estado anémico das economias e arrancar de uma crise que ameaça instalar-se é pôr as contas em ordem, eliminar os desequilíbrios e, com as casas arrumadas, promover o crescimento sem distorções, nomeadamente a inflacionista; do outro, defende-se que a solução é promover o crescimento nem que seja à base de rotativa dos bancos centrais, porque é preciso semear para colher, e no final há sempre quem pague.

Eu sustento, com a habitual lógica arrasadora, que há a polémica para ricos e a para pobres falidos, e que ter razão depende do lado onde estivermos situados, pois o tira-teimas dos resultados ainda vem longe. Cá em Portugal bem se pode insultar a Merkl ou jogar ao bom aluno, é tudo igual ao litro, porque para crescer economicamente é preciso dinheiro e nós o que temos só vem por empréstimo nas condições dos prestamistas, pelo que o modo inteligente, poupando saliva e energia em geral, é comer e calar, fazendo o que se puder com o máximo de eficiência e o mínimo de dislates.

Ora, diz-se muito que o método que está a ser seguido conduz à recessão e esta se alimenta por si própria, provocando uma situação grega. Por muito que esta posição seja fútil, como já ficou estatuído, há que a impugnar pela razão de ela influenciar o sentimento dos cidadãos, contribuindo para minar a necessária resiliência e motivação para resistir. Perigoso. Até se afirma que nunca se viu resultar a ideia de que a austeridade pode produzir um ciclo virtuoso, mas isso é falso pois há casos históricos em que tal aconteceu, como demonstraram Alesina e Perotti ( este várias vezes indicado para o Nobel), referenciando 24% de casos de sucesso nos 107 analisados.

Nem é preciso ir tão longe, basta que a recessão não retarde a retoma, agora produzida num modelo económico mais eficaz, em suma, com a casa arranjada. Mas para que a recuperação apareça é preciso que venha o investimento, que surja o dinheiro que nos falta, e esse tem que vir primordialmente da Europa. Nesta frente, quem comanda é a Alemanha e outros países que impõem a austeridade e coarctam a função do Banco Central Europeu como prestamista de última instância, mas as coisas estão menos más e a entrada de Draghi é, no contexto, uma excelente nova.

Que nos fica no final? Pois, os dinheiros do QREN em maior abundância e a sua utilização mais eficaz, com efeito multiplicador – como disse com grande realismo o secretário de Estado referido no intróito. E ele acrescentou "colo" (eu pus "caldos de galinha"), afinal as reformas estruturais que nos permitirão avançar para o médio /longo prazo com hipóteses de se ter um futuro melhor.

Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
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