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28 de Outubro de 2005 às 13:59

Transportes, E.T.’s!

O panorama dos transportes públicos no nosso país ultrapassa tudo o que as empresas públicas (E.P.’s) representam de habitual inépcia e ineficiência, para raiarem o quadro do inexplicável, do que vem de «outra» lógica, de outro planeta (E.T.’s)!

  • ...

Vejamos, de um lado o que se passa com o transporte/energia.

A nível nacional:

- O petróleo pesa 60% no consumo de energia do país representando 15,5 milhões de toneladas de petróleo, ou seja, 113 milhões de barris;

- Em 2003 o barril custou cerca de 29 dólares, 39 dólares em 2004 e será na ordem dos 55 dólares em 2005;

- Isto significa uma factura petrolífera superior a 6 mil milhões de dólares (???) e um aumento face a um ano atrás de mais de 1,5 mil milhões de dólares (!!!);

- Os transportes são responsáveis pelo consumo de 37% do total da energia consumida pelo país e pelos portugueses, sendo que 50% das importações e factura petrolífera é consumida pelos transportes, esmagadoramente dependentes dos derivados do petróleo e última «contada» desta commodity.

Significa isto que o sector dos transportes, aquele que mais tem crescido nos últimos 30 anos e que tem a maior rigidez «mono combustível», é o calcanhar de Aquiles de qualquer política de mitigação da dependência petrolífera do país e... dependência macro económica e vulnerabilidade conjuntural, face à volatilidade dos preços do petróleo, para mais num «horizonte carregado» para próximos tempos.

Daqui se infere a óbvia necessidade de dar particular atenção a esta área da procura.

Tal implica a implementação de medidas de política, de natureza estrutural - com efeitos a médio/longo prazos - mas também de «acção» imediata.

O consumo específico de combustíveis no nosso país, seja por passageiro/km, seja por tonelada/km transportado, é absolutamente chocante, se comparado aos indicadores de outros países.
As razões são variadas e bem conhecidas:

- (Des)ordenamento do território impondo, nomeadamente, deslocações pendulares casa-trabalho diárias, dos centros desertos para as periferias atafulhadas;

- Fiscalidade «distorcida» que penaliza a posse de veículo particular, em vez de incidir sobre a sua circulação;

- Não existência de restrições ao estacionamento (selvagem) nos centros urbanos;

- Proliferação da frota de veículos «comerciais» de transporte de mercadorias, em desfavor de transporte profissional, com subutilização da capacidade de mobilização de cargas que melhorem as taxas de ocupação da frota;

- Ineficiência do transporte de mercadorias por via-férrea e navegação, que tem consumos por tonelada transportada muitíssimo inferiores ao transporte rodoviário.

Isto só para invocar algumas realidades.

Mas, o mais surpreendente é a passividade dos operadores (públicos) de transportes de passageiros.

Vejamos:

- Têm sido investidos biliões de euros na melhoria de infra-estruturas e material circulante na CP/REFER, METRO, CARRIS, SOFLUSA, TRANSTEJO, STCP, etc.

- Os transportes públicos têm uma qualidade, que é globalmente comparável aos outros países europeus, no que respeita a equipamentos;

- Os veículos particulares continuam a circular com uma ocupação escandalosa de um indivíduo/carro em mais de 90% dos casos;

- Os proprietários e utentes dos veículos particulares perdem tempo e paciência em filas intermináveis e confrontam-se com um aumento brutal dos custos com os combustíveis.

Perante estes factos, como se compreende que se tenha verificado que os transportes públicos de passageiros, nomeadamente da Região da Grande Lisboa, perderam utentes, em termos absolutos (!!) no primeiro semestre do ano.

A conclusão é óbvia, absoluta incapacidade e motivação destas empresas públicas em virarem-se para o cliente!
Como aconteceu em outras utilidades, até há uma década, os gestores e técnicos dos transportes acham que o que é «nobre» é estarem ligados à construção de infra-estruturas e modernização de equipamentos, embora não subestime este aspecto.

Na busca de novos «brinquedos», esquecem o cliente, conceito que, aliás, não faz parte do seu léxico.

Daí terem esquecido, durante muito tempo, as interfaces entre modos de transporte e descurarem hoje a informação e gestão do sistema com os olhos postos no cliente.

A lógica é sacar dinheiro para pagar o «hardware», claro, com garantias da República, afinal de todos nós, e acumularem sistematicamente prejuízos operacionais, que são pagos pelos nossos impostos.

As empresas de transportes públicos no nosso país ainda não saíram do PREC, geridas por clientelas partidárias e com sindicatos anacrónicos, vivem uma autofagia, alimentada pelos nossos impostos.

Por favor, repitam a soma de 2+2:

- Confusão actual com os gestores da CP/REFER;

- Gastos de biliões nos transportes;

- Sobre custos de biliões do «pó-pó» particular;

- Diminuição de «utentes» nos transportes públicos (!), caso inédito, pelo menos na Europa.

Pois é, o resultado é zero!

Por mim, estou disposto a dar mais uns euros dos meus impostos, pelo menos para pagar uma boa campanha publicitária e de marketing para atrair as pessoas para o transporte público.

Poderá não ser «chique», na lógica destas empresas fechadas sobre si e anacrónicas, mas,... é tão óbvio. Não acham?

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