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Euforia em torno da IA relembra "exuberância" das dot.com mas sentimento é mais contido
Apesar de desenhar traços comuns entre as duas épocas, António Seladas acredita que o otimismo em torno da IA não está tão disseminado como o que antecedeu a queda das dot.com.
Foi há 25 anos que a bolha das dot.com rebentou. A "exuberância", como lhe apelida António Seladas, analista da AS Independent Research, atingiu o seu apogeu na viragem do século, antes de começar uma trajetória de quedas substanciais que leveram o índice tecnológico Nasdaq a afundar mais de 78% nos dois anos e meio que se seguiram.
"O [Price-to-Earnings Ratio do] S&P 500 estava a transacionar em 25 ou 26 vezes [os lucros]. Hoje em dia, negoceia apenas em 18 ou 19 vezes. Nunca voltou a tocar naqueles valores" registados na segunda metade de 1999, refere António Seledas em entrevista ao Negócios no NOW. "Foi um processo generalizado e muito difícil de gerir. As empresas estavam sobrevalorizadas", completa.
No entanto, a sobrevalorização das tecnológicas não foi o único fator que levou esta bolha das dot.com a rebentar. António Seladas relembra que foi por volta desta altura que a Reserva Federal (Fed) norte-americana começou o seu ciclo de agravamento de juros, com várias subidas de 25 pontos base seguidas.
"O chegada do ano 2000 obrigou ainda a muito investimento em tecnologia [para lidar com o 'bug' do milénio]", continua a explicar o analista da AS Independent Research. Os receios com esta passagem acabaram por não se concretizar e os investimentos em tecnologia abrandaram, uma vez que já muito capital tinha sido alocado a este setor. "As carteiras de encomendas baixaram nesta sequência e tudo isto precipitou o rebentar da bolha", declara.
Este cenário é muito diferente do atual, mas António Seladas não deixa de traçar algumas semelhanças com a euforia em torno da Inteligência Artifical (IA). "Agora também estão a aparecer algumas alternativas, como a DeepSeek, que podem implicar investimentos inferiores para se concretizar a IA, o que baixa muito as expectativas", afirma.
"As valorizações são um pouco diferentes". O sentimento era muito mais generalizado pelos mercados mundiais do que a atual euforia com a IA. "A Europa até transacionava acima do S&P 500. Estamos a falar da época da chegada do euro e havia um grande estusiasmo na Europa – que não existe hoje, antes pelo contrário", conclui.