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Opinião
21 de Abril de 2006 às 13:59

Petróleo: só a América nos pode salvar!...

Imagine-se o reflexo no mercado se os EUA anunciassem medidas para reduzirem o consumo em 10%! Menos 2,5 milhões de barris dia na enxurrada consumista dos SUV da General Motors, ela própria vítima dos carros ineficientes que constrói.

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É verdade, a coisa com o petróleo está a ficar muito feia.

Desde que os preços começaram a subir, seriamente, em finais de 2004 que me perguntam se estamos perante o 3º choque petrolífero.

Sempre o neguei, apesar da pressão «excitada» da comunicação, de analistas económicos e financeiros, entre outros.

Direi agora que estamos já com «um pé» no choque petrolífero.

Em 2005 os responsáveis políticos e Governadores dos Bancos Centrais, apressaram-se a dizer que a passagem do petróleo dos 30 dólares, no início de 2004, para os 60 dólares, mal beliscaria a performance das economias dos países importadores, nomeadamente da Europa.

Como – nem todos – são ignorantes, é óbvio que tentavam desdramatizar a situação, para manterem a «moral alta», o célebre optimismo económico tão necessário à boa performance da economia.

O «mecanismo» dos choques petrolíferos de 1973 e 1979 é simples de perceber:

- O aumento do preço do «omnipresente» petróleo, exerce pressão sobre os preços, provoca ou agrava as pressões inflacionistas, o que obriga ao aumento das taxas de juro, o que torna o dinheiro mais caro, o que provoca a redução do investimento, provocando a redução da oferta de emprego, etc., etc.

Claro que o agravamento dos preços, ocorrido no «overnight» em 1973 e 1979, agora, arrasta-se há um ano e meio, o petróleo é menos  – mas muito (!) – relevante no cabaz das matérias primas energéticas, as políticas económicas e os bancos centrais são muito mais sofisticados, etc., etc.
Mas, «las que las hay ?las hay».

Sobretudo nas economias, como a nossa, com um problema gravíssimo de equilíbrio orçamental, com as empresas pouco capitalizadas e as famílias endividadas, o preço alto do petróleo – que está para ficar e com um potencial explosivo, a qualquer «má notícia» – é muito negativo para a economia e pode tornar-se mesmo devastador.

Veja-se, só à luz do «deficit» público:

- aumentos, a  este nível, dos preços dos combustíveis, implicam reduções do consumo de combustíveis, afectando a importantíssima receita que o Estado realiza por via do Imposto sobre os  Produtos Petrolíferos, ou seja, cai a receita;

- o Banco Central Europeu aumenta as taxas de juro para «controlar» a inflação, aumentando o serviço da elevada dívida pública, em centenas de milhões de euros, ou seja, aumenta a despesa;

- taxas de juro mais altas, implica falência de empresas ou diminuição dos lucros, logo o IRC, ou seja, cai a receita;

- menor investimento das empresas, por dinheiro mais caro e menor geração de lucros e auto financiamento, provoca mais desemprego, ou seja, mais despesa por via da segurança social;

- ainda, juros mais altos para famílias muito endividadas, provoca contenção no consumo, retraindo a procura interna dirigida às empresas e? por aí fora!!

Sem falar no agravamento do défice comercial, na perda de competitividade externa decorrente de sermos, particularmente, dependentes do petróleo e de o utilizarmos com mais «intensidade» do que outros países, ou seja, «incorporando» mais energia para produzir o mesmo que os outros.

Se juntarmos, então, a globalização, rigidez corporativa à mudança, inaptidão para produzirmos os célebres bens transaccionáveis, não é preciso ser pessimista para imaginar um quadro negro para o nosso País e uma situação muito negativa para a Europa, o que, «ressaca» no estímulo às nossas exportações?

Mas, e o petróleo, mãe de todo o mal?

Não vale a pena especular sobre os preços a um mês, ou a um ano. Não será sério porque ninguém domina a «bola de cristal» que contem, literalmente, dezenas de milhares de variáveis que condicionam que algo que custa 7 dólares seja vendido a 70!

O que sabemos é que todos os sintomas que alimentam esta «infecção» do preço, não vão desaparecer no futuro próximo:

- escassez de oferta;

- pujança da procura;

- instabilidade política na maior parte dos países produtores/exportadores;

- ambiente pesadíssimo nas relações internacionais;

- terrorismo islâmico, o mesmo Islão que domina 85% das reservas actuais;

- desconforto com os sauditas, desconfianças com o Irão, arrogância dos russos, anarquia no Iraque, caos na Nigéria, autismo na Venezuela, balda em Angola, tentativas de assassínios de líderes e corrupção desde o Azerbeijão ao Kazaquistão.

Parece que, onde há petróleo, emerge a «aranha negra». Talvez não que por acaso?.

Neste quadro, só vejo uma saída, a América!

«God save América» dos pecados da altivez e da gula:

- da altivez, porque a burrice dos Bush, Rumsfeld & Cia criaram uma profunda crise na relação com o Médio Oriente (81,6% das reservas mundiais), com a Venezuela (7% das reservas mundiais), o Islão da Eurásia, o Islão do Borneo, da Indonésia e da Malásia, o Islão de África, da Argélia ao Egipto, do Gabão à Nigéria. Afinal, não foi George Bush que perguntou a Fernando Henrique Cardoso se no Brasil também tinham «negros»!....

- da gula (guzzeling) porque, nos EUA, 5% da população consome 25% de petróleo, porque cada americano consome 8 toneladas equivalente de petróleo por ano, o dobro do europeu. A China, com 23% da população, consome 8% do petróleo e a Índia consome 3,2%. Ou seja, a China e a Índia, cerca de metade da população mundial, dez vezes superior aos EUA, consomem, juntos, menos de metade dos EUA! No imediato a responsabilidade dos EUA é tão grande – se tivermos em conta que as reservas estratégicas cobrem 6 anos das necessidades americanas, leia-se um ano e meio do consumo mundial – que basta o Presidente Americano jogar com as reservas estratégicas para neutralizar os riscos concertados de todos os membros da OPEP.

Quando os preços podem variar até cinco dólares com o anúncio de mais um milhão de barris por dia da OPEP – que já não tem capacidade redundante – imagine-se o reflexo no mercado se os EUA anunciassem medidas para reduzirem o consumo em 10%! Menos 2,5 milhões de barris dia na enxurrada consumista dos SUV da General Motors, ela própria vítima dos carros ineficientes que constrói.

Seria a forma mais inteligente e fácil de os americanos, nestes dias difíceis, darem sinal ao mundo do seu anunciado empenhamento pela «moral» e pela democracia.

Serão as únicas armas que estão nas mãos dos consumidores/importadores do ocidente. Tudo o resto, é Ásia, Islão?.e a Natureza.

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