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03 de Outubro de 2005 às 10:57

Os Farmacêuticos, a Saúde e a Economia

Esta poderia ser uma questão levantada por muitos dos leitores, que face a uma verdadeira "onda" de liberalização da venda de medicamentos, poderá colocar em dúvida o interesse de formarmos e possuirmos, na sociedade, especialistas em medicamentos, como s

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Esta poderia ser uma questão levantada por muitos dos leitores, que face a uma verdadeira "onda" de liberalização da venda de medicamentos, poderá colocar em dúvida o interesse de formarmos e possuirmos, na sociedade, especialistas em medicamentos, como são os farmacêuticos.

Vejamos pois como podemos responder a esta questão.

"O Farmacêutico é um agente de saúde que tem como primeira e principal responsabilidade a saúde e o bem-estar do doente e do cidadão em geral"

Esta é seguramente uma máxima da profissão, norteada que está inclusivamente pela determinação, em Diário da República, do denominado "acto farmacêutico" que prevê as competências que dizem, respeito a esta profissão, e que, curiosamente, não estão definidas para muitas outras profissões na nossa sociedade.

Existem cerca de 11000 Farmacêuticos distribuindo-se por diversas áreas de actividade, nomeadamente a Farmácia Comunitária ou de Oficina (a que existe perto de cada Português em cada rua), Análises Clínicas, Indústria Farmacêutica, Far_má_cia Hospitalar, Ensino e Investigação, Distri_bui_ção Farmacêutica, entre outras de menor expressão.

A Farmácia, sendo, presumivelmente, o local de exercício do farmacêutico que historicamente lhe concedeu maior notoriedade e visibilidade, é simultaneamente o local de mais expressiva intervenção profissional, já que congrega no seu seio mais de 50% do total da classe.

Tendo como base a figura do doente, o farmacêutico comunitário, cuja presença constante é obrigatória em cada farmácia, está invariavelmente vocacionado, pela sua proximidade física, a prestar um inúmero conjunto de serviços de relevância ao nível da saúde pública.

Destacam-se naturalmente os relacionados com a utilização do medicamento, para os quais tem formação intensa, como sejam o correcto aconselhamento quanto ao seu uso mais adequado e esclarecimentos relativos a contra-indicações e reacções adversas.

Mas então, poderá perguntar o leitor mais atento, porque razão passam agora a existir também outros locais em que o farmacêutico pode vir a estar, mas não é aparentemente indispensável, concretamente, entre outras, lojas alimentares, que face a uma prorrogativa legal também podem vender medicamentos.

Para a maior parte das pessoas esta é, poderei considerar, uma questão lógica tendo em consideração que passará a haver mais acessibilidade aos medicamentos, e quiçá, podem-nos comprar mais baratos!

Curiosamente esta situação é minoritária na Europa, pois se é verdade que existem países como o são o Reino Unido, Alemanha, Holanda nos quais existem medicamentos à venda fora das farmácias, não é menos verdade que essa situação se limita a um número restrito de medicamentos.

É que os medicamentos não podem ser considerados um bem de consumo vulgar, já que têm riscos de utilização. Por ex. o paracetamol, a substância utilizada para debelar dores mais vendida em Portugal, se tomada em ligeiro excesso (relativamente ao tradicional uso) pode causar sérios riscos à Saúde. Estão mesmo descritos casos de morte numa dose acima de 4 g (note-se que o habitual costuma ser, para um adulto, tomar 2 comp de 500 mg de 8/8 h, o que significa 3 g por dia!)

Por esta razão é que julgo imprescindível cada cidadão ter a possibilidade de esclarecer dúvidas ou pedir conselhos sobre medicamentos a um farmacêutico, que está disponível em cada farmácia e que poderá não estar agora nos locais recentemente autorizados para a sua comercialização.

Quanto ao preço a sua liberalização é uma medida aparentemente benéfica para o cidadão e acredito que numa primeira fase sinta que efectivamente vai dispender menos pois cada local vai ter liberdade para os marcar livremente. Mas será que esta situação não pode, previsivelmente, resvalar, pelo nível concorrencial que se prevê poder vir a existir, para um acesso de anarquia que é lesivo da saúde pública, quase como de saldos ou promoções, tipo leve 3 pague 2, se tratasse? Isto para não falar do acesso facilitado de crianças, adolescentes e idosos que tomem muitos medicamentos e que podem prejudicar-se gravemente?

É que estamos a lidar com a Saúde, que é só o nosso bem mais precioso, e essa, contrariamente a muitos outros bens, não se pode comprar!

Não querendo estabelecer analogias inconsequentes veja-se no entanto o exemplo dos combustíveis para se perceber como o efeito liberalizador do preço pode ter surpresas, não previstas.

Esperando não ser acusado de advogar em causa própria, procurei, pela primeira vez neste espaço de opinião, retratar um pouco da vivência profissional diária da classe a que pertenço.

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