Opinião
Natal a chegar, peso a ganhar
É uma altura propícia para gastar dinheiro e comer mais; é por isso também uma época em que, se não existir cuidado contribui-se decisivamente para aumentar o peso.
E em Portugal, esta é uma matéria economicamente preocupante; se não vejamos:
- A obesidade aumentou 240% nos últimos vinte anos, principalmente entre crianças e adolescentes.
- Em Portugal 35% da população tem excesso de peso , e cerca de 15% é mesmo obeso.
- A obesidade afecta mais mulheres do que homens, mas quando falamos em excesso de peso a taxa é maior nos homens.
Nas crianças este valor começa a ser cada vez mais preocupante com cerca de 30% dos adolescentes a terem, igualmente, excesso de peso.
O excesso de peso está associado a milhares de mortes anuais e a um risco acrescido de patologias como o Cancro (do cólon, da mama e do endométrio), Hipertensão Arterial, Diabetes, Acidente Vascular Cerebral, Enfarto do Miocárdio.
Para além das doenças que advêm desta problemática o estado, que somos todos nós, é onerado em vários milhões de euros por ano, cerca de 350 milhões, segundo anunciou a Asssociação dos doentes obesos, e ex-obesos de Portugal (ADEXO), enquanto a Associação Portuguesa de Economia da Saúde, acredita mesmo que este valor é mais elevado em 100 milhões de euros, ou seja 450 milhões, cerca de 5% das despesas totais com a Saúde.
Se não houver já um investimento no tratamento da obesidade podemos até 2025 aumentar os custos nacionais com a doença para os 750 milhões de euros, prevê a ADEXO.
Mas existem outros custos associados, já que diariamente, dezenas de pessoas que sofrem desta doença dão entrada em listas de espera para consultas e cirurgias nos hospitais públicos, os quais, curiosamente, não têm capacidade de resposta face ao índice crescente destas listas, o que significa que muitas destas pessoas morrerão vítimas desta ou de outra doença directamente associada.
Esta situação leva-nos a reflectir num ponto sensível, que é:
Deve o estado comparticipar medicamentos que estejam indicados especificamente para a perda de peso?
As opiniões dividem-se, entre os que, manifestamente, apoiam esta medida e os que a contrariam. Entre os argumentos utilizados pelos primeiros refira-se a questão, que me parece pertinente, que é o facto de a obesidade ser a causa do agravamento de muitas outras doenças, pelo que se não a tratarmos iremos gastar mais dinheiro a tratar o mesmo doente.
Os defensores da comparticipação de fármacos referem, igualmente, que em outros países a estratégia de «combate» à obesidade, prevê não só essa mesma comparticipação como também outro tipo de tratamentos.Claro está que, neste ponto, temos que situar economicamente o nosso país, pelo que é uma medida com uma dimensão, porventura, complexa para ser instituida.
Já os que não subscrevem este tipo de abordagem, essencialmente farmacologistas com responsabilidades na avaliação económica dos medicamentos, referem que a comparticipação deste tipo de medicamentos seria indiciadora de uma ausência de critérios mais rigorosos, comparativamente a outras prioridades terapêuticas.
Se é certo que a obesidade é cada vez mais um problema resultante das sociedades modernas, devido ao estilo de vida (com maiores niveis de sedentarismo) e alimentação incorrecta (por recurso a alimentos excessivamente industrializados que perdem grande parte do seu valor nutritivo e estão cheios de açúcar, portanto com elevados níveis calóricos), também não deixa de ser verdade que os decisores políticos tem de olhar para a mesma com «olhos de ver», tantas são as consequências da mesma.
Já agora, na quadra que se aproxima, não abuse tanto da sua saúde!