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A. Hipólito de Aguiar 14 de Novembro de 2005 às 13:59

Hospitais-empresa

Serão os hospitais geríveis como se de empresas se tratassem? Pese embora com outra designação o novo executivo da saúde decidiu manter o mesmo modelo de gestão para os hospitais.

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De facto, as actuais Entidades Públicas Empresariais (EPE) sucedem aos hospitais SA, designação lançada pelo então ministro da saúde Dr. Luís Filipe Pereira, e que, recordemos, constituiu então uma medida grandemente inovadora no modelo tradicional de gestão do sector público.

Por ora, o actual governo parece estar de acordo com o facto de ter de se atingir outras «perfomances» de gestão, ou não fosse os 439 milhões de euros de prejuízo a falarem mais alto. Assim, os actuais 31 hospitais SA estão a ser transformados em EPE, sendo no entanto o objectivo a médio prazo mais ambicioso já que se pretende alargar este conceito a todas as unidades hospitalares do sector público administrativo.

Estas operações estão inclusive previstas para duas «jóias da coroa» do sistema hospitalar Português, concretamente, os hospitais de Santa Maria (Lisboa) e São João (Porto), uma operação que necessitará de qualquer coisa como 300 milhões de euros para a constituição do capital social.

Mas há mais; em 2006 o Estado continuará, decisivamente a investir na melhoria do modelo de gestão, estando previsto um investimento de 400 milhões para a criação de novos hospitais-empresa, além de que se preconiza a concentração de várias unidades geograficamente próximas em centros hospitalares, para aumentar supostamente a eficiência da gestão dos recursos.

Os hospitais como mega-empresas, com milhares de trabalhadores e um parque tecnológico notável, tem, sem sombra de dúvida, de ser gerido em moldes diferentes, nomeadamente fazendo-se rentabilizar a capacidade instalada, já que é incompreensível que muitos equipamentos tenham um uso a meio tempo, já que dependem de técnicos que muitas vezes não estão interessados em dedicar todo o seu tempo a este meio.

Certo é que só com uma filosofia de prestação de serviços de maior amplitude, se poderá tornar viável, financeiramente, estes enormes «elefantes», que custam a «mexer-se» e a ter, mais receitas do que despesas. Não que o Estado deva ganhar dinheiro com uma função que a Constituição refere ser tendencialmente gratuita (a assistência na saúde), mas não se pode deixar de pedir mais retorno a estruturas de grande esforço financeiro para todos os contribuintes.

Outro aspecto essencial para apreciarmos a possibilidade de gestão empresarial dos hospitais diz respeito à capacidade dos recursos humanos que são responsáveis pela implementação do modelo. É que a saúde, tratando-se de uma actividade com evidentes contornos económicos, tem que ser bem gerida pelo que os gestores públicos têm que, não só ter conhecimentos profundos nesta área, como igualmente deter um evidente bom-senso pois estão a lidar com seres humanos, cuja vida não pode ser traduzida por cifrões.

Independentemente do «negócio» da saúde, o importante é que se possam levar a cabo reformas que permitam a todos os Portugueses aspirar a melhorar um bem que não se pode comprar, nem vender, e que quando se perde não há dinheiro que a restitua; a Saúde.

Por este conjunto de razões a resposta à pergunta que formulámos no início deste artigo deverá ser Sim, pese embora com as necessárias adaptações que devem ser tidas em conta. Acredito que a metodologia de gestão pode ser igual à de qualquer empresa, embora o contexto difira, e deva ser esse o toque de mestre que diferencia o gestor.

À parte a orientação política do governo, e a própria cor partidária dos governantes, julgo que se estará no caminho certo se, pelo menos, formos capaz de diminuir drasticamente o enorme desperdício de meios e materiais que existe no campo da Saúde.

Mas para sonharmos com um futuro melhor é preciso que cada um de nós, cidadãos e profissionais, dê o seu contributo no sentido da optimização dos recursos, que são, como sabemos, cada vez mais escassos para todos.

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