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06 de Julho de 2007 às 13:59

O Hamas na luta pelo reconhecimento

O papel determinante do Hamas na libertação de Alan Johnson, o jornalista da BBC sequestrado 113 dias em Gaza pelo autoproclamado “Exército do Islão” foi o primeiro movimento (público) do chamado “Movimento de Resistência Islâmica” (Hamas) para conseguir

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No princípio de 2006, o Hamas saiu vencedor das eleições palestinianas, o que não constituiu uma surpresa dada a quebra de confiança crescente na Fatah, acusada de corrupção e nepotismo, ainda em vida de Yasser Arafat. Da sua vitória eleitoral não resultou um Governo estável em coligação com a Fatah, como seria de esperar, mas uma constante rivalidade entre os dois principais movimentos palestinianos.

O Hamas que tem desde as Intifadas ganho apoios entre a juventude e recusava o diálogo com Israel onde levou a cabo atentados e raptos de soldados tornou-se aos olhos da Comunidade Internacional um parceiro pouco recomendável. A sua vitória desencadeou um conjunto de acções retaliatórias, se não mesmo punitivas, procurando o isolamento de um Governo liderado pela “Resistência Islâmica”.

Uma das consequências da vitória eleitoral do Hamas foi o embargo ao auxílio financeiro directo da Comunidade Internacional à Autoridade Palestiniana. Um apoio parcialmente restabelecido depois de o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, ter afastado Ismaïl Haniyeh, do Hamas, do cargo de primeiro-ministro do Governo de união nacional. Após a designação de um Governo de emergência da iniciativa do Presidente Abbas, houve um restabelecimento parcial do auxílio. Contudo, os apoios chegados da União Europeia e dos Estados Unidos têm sido canalizados directamente para os governantes da confiança do Governo de emergência excluindo explicitamente todos os que foram nomeados pelo Hamas enquanto esteve no Governo.

Controlada a faixa de Gaza, o Hamas tem procurado negociar com o Presidente da Autoridade Palestiniana ao mesmo tempo que recusou liminarmente o reconhecimento de Ismail Haniya na chefia do Governo. Um dialogo que se tem mostrado impossível, até pelas pressões internacionais. Do ponto de vista europeu e americano, o Hamas é considerado um “movimento terrorista” e qualquer dialogo fica assim fora de questão.

Consciente de que se pretende ter uma palavra a dizer nos destinos da Palestina, o Hamas tem de se demarcar dos métodos violentos que o tornaram conhecido, o movimento parece ter decidido enveredar pela diplomacia, pela prova de que pode ser um parceiro incontornável. Em Gaza, é uma verdade, a segurança tornou-se mais forte desde que o Hamas assumiu sozinho o poder.

O percurso que o Hamas parece pretender estabelecer não difere muito do que Arafat estabeleceu para o reconhecimento diplomático da Fatah. Mas ainda é muito cedo para saber de a libertação de Alan Johnson é apenas uma acção isolada ou o início de uma nova política de integração.

Ismaïl Haniyeh, o PM afastado, esteve em grande destaque na apresentação de Johnson. Não só o apresentou aos seus camaradas jornalistas como uma prova do controlo do Hamas, como teve o cuidado de discretamente fazer recordar como recomeçou e porquê o conflito com Israel: na oferta de uma caixa com a imagem gravada da mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, centro da disputa entre os dois povos e local escolhido por Ariel Sharom para passear quando o então PM israelita, um trabalhista, avançava num acordo que parecia sólido.

Ismaïl Haniyeh não se ficou por declarações de circunstancia e admitiu que o cabo israelita Gilad Shalit possa também vir a ser libertado.

O Hamas fez prova da sua capacidade de restaurar a ordem e pressionar eficazmente os grupos extremistas – colocando-se fora desse conjunto –, mas essa eficiência, que se traduziu na libertação de Johnson, não se irá transformar em reconhecimento e apoio nem na sua reabilitação. Continuará na listas dos “movimentos terroristas”.

Se a acção do Hamas não tem um impacto explícito nem prematuro, o movimento melhorou a sua imagem e a sua credibilidade. Não foi por acaso que o novo secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, David Miliband, reconheceu, em níveis iguais, que o Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana e Ismail Haniya, o PM do Hamas, que ele afastou, tiveram na libertação de Johnson: “um papel crucial”.

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