Opinião
Iraque domina “rentrèe” do Congresso
Ao retomarem os seus trabalhos após a tradicional pausa de Verão os Congressistas dos Estados Unidos vão ter de analisar os relatórios de progresso que encomendaram ao general Petraeus, comandante das forças no Iraque e ao embaixador Crocker.
Os dois responsáveis, um pela condução das operações militares, outro pelo cumprimento da politica da Administração vão ter a árdua tarefa de convencer o Capitólio de que houve progressos no Iraque.
A política da Administração Bush e o rotundo fracasso do Governo de Nouri al-Maliki nas suas tentativas de reconciliação e pacificação do Iraque, irão estar bem no topo das agendas de senadores e representantes de ambos os partidos que, nas últimas semanas não se coibiram de fazer acusações directas de “incompetência” ao primeiro-ministro Nouri al-Maliki pelo seu fracasso em conseguir a reconciliação e pacificação do Iraque partido. Alguns, com responsabilidades em comissões chave nas duas câmaras e de partidos diferentes chegaram mesmo a pedir a substituição do primeiro-ministro iraquiano.
George Bush viu-se obrigado a interromper as suas férias para tentar controlar a situação e manter o seu lado uma maioria de senadores que dissuada o Congresso, ou pelo menos o Senado de aprovar um plano de retirada, o que o obrigaria ao uso do seu veto. Mas o público americano está cada vez mais desapontado e descrente e, embora não seja hábito o Congresso tomar medidas que possam pôr em causa as tropas americanas, isso não significa que não venha a recusar a aprovação dos fundos adicionais pedidos por Bush.
Bush necessita obter do Congresso uns adicionais 50 mil milhões de dólares, só para manter as operações que a Administração se propõe intensificar. Uma verba que acresce aos 147 mil milhões orçamentados para 2008 para as guerras no Iraque e no Afeganistão. Ao todo, a revisão orçamental solicitada ao Congresso atingirá os 200 mil milhões de dólares, ou seja, a guerra no Iraque está a custar três mil milhões por semana. Estas serão as primeiras contas que os congressistas irão fazer, muito provavelmente mesmo antes de quatro comissões da Câmara e do Senado ouvirem as avaliações a apresentar por Petraeus e Crocker.
A missão de Petraeus era acabar com a insurreição e pacificar o Iraque, uma missão falhada. Quando o general está a extinguir um fogo logo outro se reacende. O embaixador deveria conseguir levar o Governo a compromissos que promovessem o entendimento entre todas as facções – não está nem perto de o conseguir e, de facto, o primeiro-ministro (xiita) muito tem contribuído para esse fracasso. O entrosamento, indispensável à contra-insurreição, entre tropas americanas e iraquianas e a população está bem longe de ser conseguido, excepção feita a umas poucas e não representativas zonas.
O presidente dos Estados Unidos tem de conseguir uma de duas coisas: ou um apoio forte do Congresso ou ser capaz de passar ao lado do ramo legislativo, como Ronald Reagan, e dirigir-se directamente ao público (eleitores e contribuintes) e saber conquistá-lo. Reagan era um mestre nesta arte de comunicação. George Bush já conseguiu uma vez inverter a posição dominante no Capitólio graças aos apelos que dirigiu à opinião pública americano. Com eleições próximas, os congressistas não quiseram então ser apontados como responsáveis por um desastre. Agora, mais uma vez, as eleições estão aí. A opinião publica tem vindo a mudar consistentemente. Mas será que a mudança é sólida?
O Congresso está cada vez mais céptico e a opinião pública americana cada vez mais insatisfeita com o presidente. Porém, independentemente da solidez – ou falta dele – do apoio na opinião pública, não se pode à partida excluir uma nova vitória presidencial nesta questão. Graças ao argumento da retirada vergonhosa do Vietname ou o chamado desaire da Somália, acrescidos do discurso sobre a “ameaça” iraniana – ou seja, fazendo recurso aos instintos mais primitivos dos americanos – Bush poderá conseguir fazer passar a sua mensagem e obter um compromisso.
Se tal acontecer, a situação irá tornar-se cada vez mais complicada e a retirada cada vez mais difícil. Os aliados americanos no Médio Oriente vão ver a sua vida mais sombria, poucas são as democracias ou os regimes tolerantes na região. E resta esperar que não se crie com o Irão uma situação extremamente grave, muito embora seja indispensável um acordo que leve Teerão a abdicar de um programa nuclear militar. Uma realização extremamente complicada num país cercado por vizinhos rivais entre si e detentores de armas desta natureza.
Se o Congresso chumbar os fundos adicionais para o Iraque, as alternativas não são brilhantes. A retirada é uma inevitabilidade. Ou seja, já não se trata, seja qual for a saída da situação que agora decorre, de saber se os americanos vão retirar. Trata-se de saber quando e como...