Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
27 de Dezembro de 2007 às 13:00

Homenagem aos soldados desconhecidos da presidência

É verdadeiramente impressionante como este ano de 2007 decorreu célere, quase em ritmo de montanha russa, pelo menos a partir de meados do semestre, que começou em Junho com a aprovação de um mandato muito específico para o início de uma Conferência Inter

  • ...

É verdadeiramente impressionante como este ano de 2007 decorreu célere, quase em ritmo de montanha russa, pelo menos a partir de meados do semestre, que começou em Junho com a aprovação de um mandato muito específico para o início de uma Conferência Intergovernamental, que tinha a quase missão impossível de aprovar uma proposta de texto de um Tratado Reformador, em substituição da Constituição Europeia.

É verdade que só alguns especialistas e poucos curiosos é que se deram ao labor de ler esse mandato, que é uma verdadeira obra de bicho-da-seda que carreia e tece elementos, e que depois veio a ser aprovado em tempo recorde no texto do Tratado de Lisboa.

Com efeito, mesmo o cidadão interessado nestas matérias não se apercebe do labor que está por detrás deste e de outros textos feitos em filigrana jurídico e negocial, que só o empenho de muitos técnicos, juristas e diplomatas, em maratonas de trabalho infindas, puderam nos bastidores levar a bom termo todo estes êxitos e passos de gigante que durante estes últimos meses vimos a União Europeia galgar.

Só a título de exemplo, o texto que passou da presidência alemã para a Conferência Intergovernamental, aberta e terminada em presidência portuguesa, é um verdadeiro hino ao labor destes desconhecidos de todos os vinte e sete Estados membros, que se caracterizou por um exercício de uma verdadeira arte de opacidade, porque ao contrário da Convenção, nada transpareceu nem da substância nem da forma das negociações.

Contudo, as negociações que foram difíceis, apesar do mandato ser claro e com pouca margem para manobra, eram seguidas de muito perto pelas capitais.

O homem sombra deste êxito foi Jean-Claude Piris, desconhecido do grande público, mas jurista experimentado das CIG de Maastricht, de Amesterdão, de Nice e da Constituição e que conhece os tratados como as suas mãos e que com a sua equipa lança mãos ao trabalho assim que surgem os referendos negativos na França e na Holanda, no sentido de ver o que é possível salvar da CIG de 2004. O objectivo era um mandato tão blindado que não pudesse ser destruído e que desse pouca margem ao improviso.

Mesmo assim, as últimas duas noites que antecederam o Conselho Europeu que terminou a presidência alemã foram muito duras e foi necessário acrescentar e reformular articulados, acrescentar notas de pé-de-página, bem como protocolos para os serviços de interesse público, para satisfazer os holandeses, retirar a concorrência dos objectivos para convencer os franceses, bem como acrescentar sobre este assunto um outro protocolo, a pedido da Comissão, bem como explicitar, por exigência dos polacos os famosos acordos de Ioanina.

Após uma sessão inaugural em finais de Julho, em que cada Estado membro se fez representar por dois delegados, o Conselho Europeu de 18 e 19 de Outubro conseguiu o acordo, não sem antes se fazerem muitos ajustes de última hora, como o surpreendente deputado europeu italiano suplementar.

Porém, como referi, foi apenas um exemplo do que se passou nos bastidores, dado que outros acontecimentos como a Cimeira União Europeia - África ou a assinatura do Tratado, que mediaram escassos dias, foram exemplos de uma logística que funcionou impecavelmente a todos os níveis, desde os mais visíveis como a segurança, até aos mais ínfimos como a arte subtil da simpatia, expressa nos mais pequenos pormenores, para todos aqueles que nos visitaram.

O trabalho de organização foi insano e apenas ouvi repetidamente muita gente desejar que terminasse, tal o estado de exaustão a que conduziu todos a que nela estiveram envolvidos.

Estes são os obreiros que não vão ficar para a história, mas que contribuíram decisivamente para o engrandecimento daqueles que foram este ano os actores principais da União Europeia, como Durão Barroso, Ângela Merkel e José Sócrates.

Assim, neste final de ano, a minha singela homenagem vai para todos aqueles que, com o seu trabalho incógnito, mas esforçado, contribuíram para engrandecer a Europa e reforçar a sua unidade.

Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio