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12 de Julho de 2007 às 13:59

Gordon Brown como travão da Europa

A Cimeira realizada em Londres, esta semana, entre José Sócrates, presidente em exercício dos Conselhos da União e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, desfez alguns receios relativamente ao acordo sobre um novo Tratado Europeu quando este referiu

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A Cimeira realizada em Londres, esta semana, entre José Sócrates, presidente em exercício dos Conselhos da União e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, desfez alguns receios relativamente ao acordo sobre um novo Tratado Europeu quando este referiu inequivocamente a sua vontade de o adoptar o mais rapidamente possível, com a condição de o Reino Unido ficar isento da aplicação das disposições referentes à política externa e de segurança comum, aos assuntos internos e de justiça, fiscalidade e política social, tudo isto também para evitar a necessidade de um referendo a nível nacional.

Estas dúvidas e incertezas em relação ao novo chefe do executivo britânico, de 56 anos, antigo jornalista e aliado de Tony Blair na sua ascensão ao poder, centram-se no facto de este ser um eurófilo convicto, enquanto, para já o que é destacado em relação a Gordon Brown é a sua falta de entusiasmo quanto ao projecto europeu.

Contudo, como se sabe, o Reino Unido é um caso enraizado de eurocepticismo que, embora composto de quatro nações diferentes e de uma imensa população de emigrantes, tem no seu inconsciente colectivo uma identidade britânica muito forte forjada, antes de mais pela geografia, que integra uma mentalidade insular, logo de excepção, até pelo facto de nunca ter sido ocupado por forças estrangeiras, ao contrário do que aconteceu com os Estados do velho continente, e de ter estado sempre do lado dos vencedores nas duas guerras mundiais.

Por outro lado, há o importante elemento linguístico que faz com que a esmagadora maioria dos britânicos só fale o inglês, o que constitui, na prática, um obstáculo à percepção da cultura dos outros povos. O facto, ainda, do país ter sido a primeira democracia moderna, o primeiro a industrializar-se e a reinar sobre um vasto império, desenvolveu e alimentou um sentimento de superioridade em relação ao Mundo, mas sobretudo em relação à Europa, que se manifestou logo com Churchill desde os primórdios da construção europeia, no seu célebre discurso em Zurique no ano de 1946.

Longe de envolver o seu país na reconstrução do pós-guerra recusando mesmo a oferta francesa de integrar a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, Churchill incitava, contudo, à associação dos países europeus vendo-se como líder do Commonwealth e do continente ao lado dos Estados Unidos.

O posicionamento britânico, apesar da sua adesão em 1973 à, então, Comunidade Económica Europeia, na sequência das crises económicas, é, ainda hoje, quase unânime no espectro político nacional que, à esquerda, vê o projecto comunitário como um clube capitalista, enquanto que a direita vive no medo permanente de perda de soberania nacional e do poderio do eixo franco-alemão.

Como ilustre representante deste sentimento de superioridade ilhéu em ralação ao continente europeu, Gordon Brown não deixará de se continuar a opor às políticas comuns em matéria social e económica. Em concreto, pela sua mão o Reino Unido nunca integrará a União Económica e Monetária e, logo, a Zona Euro, e terá sempre uma forte oposição no que se refere à Política Agrícola Comum e ao orçamento comunitário.

Porém, já no âmbito de outras políticas como a protecção do ambiente ou a ajuda ao desenvolvimento, sobretudo a África, terão, no contraponto, o apoio inequívoco e até de liderança deste novo chefe do executivo. Também a defesa da adesão da Turquia, a partir do momento em que esta cumpra os critérios respectivos, parece um ponto incontornável da política europeia britânica, embora fosse duvidoso que, caso se tivesse produzido no seu consulado a crise do Iraque, Brown tivesse apoiado os Estados Unidos, pelo menos da forma como o fez Blair.

Em suma, um novo líder, um novo governo à frente dos destinos do Reino Unido, mas aparentemente sem grandes surpresas na linha do sentimento céptico e de excepção e de defesa intransigente dos interesses nacionais, que faz deste país, para o melhor e, na maior parte dos casos para o pior, o travão da União Europeia.

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