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Luís Marques Mendes 29 de Setembro de 2019 às 21:00

Cobertura que o primeiro-ministro continua a dar a Azeredo Lopes é inaceitável

As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. O comentador político fala sobre o caso Tancos, o balanço da campanha eleitoral, o tipo de governo que vamos ter e a cimeira do clima.

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O CASO TANCOS

 

Esta acusação do MP, não tendo nada de muito novo em relação ao que já se sabia, reforça esta ideia – Tancos é um caso gravíssimo a que, infelizmente, o povo nunca deu muita atenção.  Importa destacar quatro questões:

  1. Primeira: tudo isto é mau para a imagem das Forças Armadas. Os militares passam o tempo a queixar-se de que são desprestigiados. O problema é que não há maior desprestígio do que este. E este é da sua inteira responsabilidade.
  2. Segunda: tudo isto é mau para a imagem do Governo. Afinal, houve um Ministro que não falou verdade ao Parlamento, que omitiu questões essenciais ao PM e, sobretudo, que deu cobertura e apoio a uma tramoia ilegal, criminosa e inaceitável.
  3. Terceira: tudo isto é péssimo para António Costa. Primeiro, foi ele que escolheu Azeredo Lopes, tem essa responsabilidade política e não é pequena. Depois, já se devia ter demarcado do seu do seu ex-Ministro, em vez de lhe dar cobertura e apoio. Esta cobertura que o PM continua a dar a Azeredo Lopes é algo de inaceitável.
  4. Quarta: finalmente, a insinuação do PS de que tudo isto é uma conspiração do MP. Trata-se de uma insinuação sem sentido e até um sinal de desespero. É certo que esta acusação do MP surge em plena campanha eleitoral. Só que o MP não tinha alternativa. Tem prazos legais a cumprir. Havendo arguidos presos, há muito tempo que se sabia que a acusação tinha como limite temporal esta semana.

 

 

OS "ATAQUES" A MARCELO

 

  1. Lamentável em todo este processo foram as tentativas de envolver o PR nesta questão. Não é por ser Marcelo o Presidente. É sobretudo pela figura institucional do Presidente da República. Fosse qual fosse o Presidente, este comportamento seria sempre condenável.
  2. Primeiro, porque não há qualquer indício de envolvimento do PR;
  3. Segundo, e mais importante, o PR foi a única entidade política que ao longo destes anos nunca deixou cair o caso e sempre disse a mesma coisa: investigue-se, investigue-se, investigue-se. Custe o que custar. Doa a quem doer. Mesmo quando o Governo dava o assunto por encerrado.

 

  1. Lamentáveis são igualmente duas outras coisas: primeiro, que o MP alimentasse ou tivesse deixado alimentar estas insinuações mesmo antes de a acusação ser conhecida. A PGR já devia ter dado explicações sobre esta situação. Depois, é igualmente lamentável que um responsável da PJM tenha chamado "papagaio-mor do reino" e ainda não tenha tido sequer uma sanção disciplinar por parte do exército. Esta sensação de impunidade das Forças Armadas é altamente censurável sobretudo quando do outro lado está o Comandante Supremo das Forças Armadas.

 

BALANÇO DA CAMPANHA

 

  1. Primeiro apontamento: é uma campanha atípica. Porque é uma campanha marcada por dois casos de justiça (Tancos e golas anti-fogo). Não é habitual isto acontecer. Nem é saudável para a democracia que a justiça se "intrometa" numa campanha eleitoral. Mas tornou-se, infelizmente, inevitável. E são dois casos que geram desgaste ao Governo. Se o PS não tiver maioria absoluta – cenário mais provável – muita da explicação para essa derrota pode passar por estes dois casos judiciais. A verdade, porém, é que, num caso e noutro, o PS só pode queixar-se de si próprio e dos comportamentos dos seus governantes.

 

  1. Segundo apontamento: uma campanha com forte bipolarização. Ou seja, muito polarizada em torno do PS e do PSD. Mais do que à partida se imaginava. Isto favorece o PS, favorece o PSD e desfavorece os pequenos partidos.
  • Favorece o PS porque combate e ideia de que tudo estava garantido à partida, mobilizando os seus eleitores e evitando a abstenção à esquerda.
  • Favorece o PSD, ajudando-o a mobilizar as suas hostes, a conquistar indecisos e a subir nas sondagens.
  • Desfavorece os pequenos partidos e os novos partidos. É em certa medida a repetição do efeito das eleições na Madeira. Os dois grandes partidos crescem. Os mais pequenos ficam esvaziados.

 

QUE TIPO DE GOVERNO VAMOS TER?

 

  1. Não havendo maioria absoluta – cenário que considero o mais provável – há basicamente três hipóteses possíveis de governo:
  2. Primeira hipótese, aquela que considero a mais provável: um governo minoritário do PS, com um acordo de incidência parlamentar com o PAN, desde que os dois partidos em conjunto consigam 116 deputados. É uma espécie de governo tipo "queijo limiano". É uma solução "baratinha" em termos de negociação para o PS, mas é uma solução pouco consistente e pouco credível.
  3. Segunda hipótese, possível mas menos provável: um governo minoritário do PS, sem qualquer acordo parlamentar. Seria uma solução à Guterres ou à Sócrates 2 (no seu segundo governo). É uma solução altamente precária e instável. O espectro de crise política estará sempre no horizonte.
  4. Terceira hipótese, a menos provável de todas: repetir a geringonça com o PCP e BE. Não é nada provável em função do que tem sucedido. Implicará para o PS pagar a factura elevadíssima. O PCP, perdendo peso nas urnas, quererá compensar fazendo mais exigências. E o BE, para entrar nessa solução, fará a vida negra ao PS, "vingando-se" de tudo quanto o PS lhe tem dito e feito, "impondo" um vasto caderno reivindicativo.

 

  1. Neste quadro, há o risco de a próxima legislatura ser bem diferente destes últimos 4 anos: primeiro, vai ser mais difícil aprovar orçamentos de Estado; depois, o espectro da instabilidade e do regresso às crises políticas pode voltar à vida nacional. O que não é brilhante.

 

A CIMEIRA DO CLIMA

 

  1. Primeiro apontamento: o discurso da jovem Greta Thunberg. Não duvido das rectas intenções desta jovem sueca. Mas tem um discurso excessivamente radical e obsessivo, quase a tocar o fanatismo e o fundamentalismo. Ora todos os fanatismos são maus. Acresce que este tipo de discurso retira-lhe autenticidade e não fomenta o espirito pedagógico que o tema ambiental requer.

 

  1. Segundo apontamento: a reação dos Chefes de Estado. Aplaudirem com entusiasmo um discurso em que são insultados do princípio ao fim não tem nada de autêntico. É pura hipocrisia.

 

  1. Terceiro apontamento: goste-se ou não se goste desta jovem e do seu discurso, há, todavia, uma marca muito positiva. Greta Thunberg conseguiu fazer em pouco tempo o que muitos líderes (como Al Gore) e muitas ONG durante anos a fio nunca conseguiram – mobilizar o mundo inteiro para o tema das alterações climáticas. E isso é de uma mais-valia incalculável.
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