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Rio diz que o “mais provável” é que Azeredo tenha avisado Costa sobre Tancos

O presidente do PSD considera "pouco crível" que o ex-ministro da Defesa tenha articulado o processo da recuperação das armas roubadas do paiol de Tancos com o presidente da concelhia do Porto e não o ter feito com o líder socialista e primeiro-ministro, António Costa. Cristas também já tinha duvidado da possibilidade de António Costa não ter sido informado por Azeredo Lopes.

Tiago Petinga/Lusa
26 de Setembro de 2019 às 18:39
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Rui Rio não gosta de julgamentos na praça pública nem de falar sobre casos a cargo da justiça, porém, devido à "gravidade" do caso de Tancos, decidiu fazer uma "declaração" em que coloca em causa a possibilidade de o primeiro-ministro desconhecer o plano do ex-ministro Azeredo Lopes no processo de recuperação das armas furtadas de Tancos. 

Em conferência de imprensa, o presidente do PSD começa por salientar tratar-se de um "caso grave" para depois precisar não ter tido ainda tempo para "ver melhor a acusação", contudo aquilo que leu já permite "tirar algumas conclusões". "O que está escrito na acusação pode não ser tudo verdade e pode não ser tudo provado em tribunal, mas seguramente que também não é tudo mentira dada a forma com a acusação está formulada", sustentou salientando as "notórias cumplicidades para dificultar a ação da justiça".

Sem querer comentar a questão relativa ao ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, cujo processo "está entregue à justiça", Rio disse haver "conclusões de ordem política" a tirar, das quais resulta uma pergunta: "Perante um assunto desta gravidade, o ministro da Defesa não avisa o primeiro-minsitro, não articula com o primeiro-ministro? Sabemos, através da acusação, que articulou com o presidente da comissão política concelhia do PS do Porto [Tiago Barbosa Ribeiro], que também é deputado. Articula com o presidente da concelhia e não articula com o secretário-geral e acima de tudo primeiro-minsitro do Governo a que ele pertence?"

Para Rui Rio é "pouco crível que um ministro não articule aspetos desta gravidade com o primeiro-ministro". Certo é que o líder social-democrata rejeita ilibar António Costa de responsabilidades porque das duas uma: ou Azeredo "informou como é o mais provável" e isso representa um "problema" pois faz do primeiro-ministro "conivente com o que se passou", ou não comunicou e isso é "na mesma um problema grave" porque significa que Costa lidera um Governo "em que os ministros não informam o primeiro-ministro de tudo aquilo que de relevante, importante e grave se passa no respetivo ministério".

No entender do presidente "laranja" não é possível deixar de parte este caso numa altura em que decorre uma campanha eleitoral, até porque caberá ao eleitorado "tirar consequências" no dia das eleições se o primeiro-ministro "insistir em dizer que nada sabia". "Sabia ou não sabia? Tem de responder", insistiu. 

Na reação às declarações do líder da oposição, António Costa falou aos jornalistas garantindo que até hoje a justiça não lhe "colocou qualquer questão e que se tivesse alguma dúvida tê-lo-ia feito". Voltando ao mantra "à justiça o que é da justiça e à política o que é da política", o primeiro-ministro disse não reconhecer autoridade a Rio para que este faça "julgamentos morais" e acusou o presidente do PSD de estar a retirar "dignidade" à campanha eleitoral em curso.

Rio iliba Marcelo e esclarece "encenação"
Quanto ao alegado envolvimento do Presidente da República na farsa em que consistiu o chamado "achamento" do armamento militar roubado do paiol de Tancos, Rui Rio diz não ter visto nada na acusação que diga respeito a Marcelo Rebelo de Sousa. "Sobre o Presidente da República, do que vi, não encontro lá nada que tenha a ver com o senhor Presidente, nem direta nem indiretamente."


Na quarta-feira de manhã, depois de ter falado sobre a crise dos professores, Rio dizia estar à espera de "outra encenação" do Governo já nos próximos dias. Esta tarde, o líder do PSD defendeu que "é bem possível" ter existido uma "encenação do Governo" que visou "criar uma cortina de fumo" à volta do caso de Tancos mediante a saída de notícias envolvendo o Presidente da República.

Na quarta-feira, Marcelo reiterou que não pretende voltar a falar sobre o caso de Tancos, isto depois de no dia anterior ter frisado que "o Presidente não é criminoso". Esta garantia foi dada na sequência da notícia da TVI segundo a qual o major da Polícia Judiciária Militar (PJM), Vasco Brazão, se referia, numa escuta telefónica, ao Presidente da República como o "papagaio-mor do reino", sustentando que Marcelo tinha conhecimento completo da farsa montada em torno da recuperação do armamento militar furtado. 

Já sobre o papel desempenhado por Tiago Barbosa Ribeiro, a quem, segundo revelou o Observador, Azeredo Lopes comunicou por sms ter conhecimento do encobrimento, Rio considera que a atitude do deputado socialista "merece a reprovação de todos" na medida em que "procurou ocultar a verdade e ajudar a ocultar a verdade", ação que "não abona a favor da credibilidade" do grupo parlamentar do PS. De acordo com o despacho da acusação citado pela Lusa, o Ministério Público pretende ouvir o que o deputado tem a dizer. 

Cristas concorda com Rio e Bloco nota que houve mentiras no Parlamento
Antes ainda da declaração de Rio, já Assunção Cristas tinha abordado o assunto e nos mesmos moldes do presidente social-democrata. A presidente do CDS também duvida que um deputado do PS soubesse do encobrimento e que o chefe do Governo desconhecesse, o que leva Cristas a considerar que António Costa ou é "extraordinariamente incompetente" ou é "conivente" com o caso.

Depois de uma posição inicial em que Bloco de Esquerda, PCP e PAN não quiseram contaminar a campanha com o caso de Tancos, a coordenadora bloquista, Catarina Martins, veio entretanto a terreiro afirmar que se aquilo que está na acusação do Ministério Público for verdade, então "não foi dita a verdade na comissão de inquérito do Parlamento" e isso significa que "houve responsáveis políticos que mentiram" na casa da democracia. 

Por sua vez, David Justino, presidente do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, recorreu ao Twitter para recordar a aprovação, pela esquerda, com votos contra do PSD e do CDS, do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito ao furto de material militar em Tancos, o que leva o social-democrata a considerar que a "badalada 'autoridade moral' do BE e do PCP levou um valente pontapé nas partes mais sensíveis", pois o relatório aprovado "encobria a responsabilidade política e criminal do Governo".

Num total de 23 arguidos acusados pelo Ministério Público no caso do furto em Tancos, Azeredo Lopes é acusado de prevaricação, abuso de poder, denegação de justiça e favorecimento de funcionário. Na ótica do antigo ministro, a acusação formulada é "eminentemente política".


(Notícia atualizada pela última vez às 19:50)
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