Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

RTP1, Sociedade Portuguesa de Andrologia, ActivoBank

Os apresentadores de "5 para a Meia Noite", o talk show nocturno da RTP1, publicitaram o programa como "Um talk show de todo o tamanho". Tiraram uma foto todos nus, a que depois se aplicaram sobreposições digitais para não se verem os genitais.

  • 1
  • ...

 

Não deixa de ter alguma graça (mais até do que o próprio programa), mas é mais uma imagem em que a nudez total é aparente e simulada, pois escondida.

 

Cada vez se vê mais disto: pessoas fotografadas nuas, mas que não vemos totalmente nuas e, todavia, nos dizem que vemos totalmente nuas. Por um lado, há a vontade de exibicionismo, por outro o engano do que realmente se mostra. Há imensos fait divers nos media com tal situação: "Despem-se em protesto contra…", "Despe-se em defesa de…". Os pobres voyeurs esperam ver as pessoas totalmente despidas e elas estão, afinal, de cuequinhas, pintadas ou coisa assim. Também há a variante "Modelo Fulana faz nu integral" e, vamos a ver, as pernocas e bracinhos tapam as partes pudibundas.

 

O anúncio do "5 para a Meia-Noite" faz do tamanho dos pénis invisíveis o tamanho ou grandeza do talk show apresentado pelos protagonistas do anúncio. Mas como não se vêem os pénis, e tudo não passa de uma graça, para a próxima,… coragem, rapazes!

 

Dois anúncios em simultâneo com fósforos! Vamos a eles. Um reclame da Sociedade Portuguesa de Andrologia usa os fósforos como metonímia e antropomorfização pudicas para ilustrar em vídeo a ejaculação precoce e sua solução. Dois fósforos, bem grandinhos, em cima duma cama, contorcem-se em abraços amorosos; o fósforo macho, acende-se prematuramente e o fósforo fêmea, depois de suspiros de prazer, suspira de insatisfação. Ambos baixam a cabeça. Mas, como há solução, a cena repete-se com final feliz: embora só com abraços, os dois fósforos acendem-se em simultâneo. Substituindo seres humanos por fósforos animados, o anúncio é eficaz e impassível de ofender espectadores. 

 

Um anúncio do ActivoBank usa o fósforo para ilustrar uma metáfora da linguagem verbal: "No ActivoBank o cartão chega-lhe à mão antes que a chama lhe chegue aos dedos." A imagem mostra um desenho simplificado dum fósforo com a chama acesa. Dado ser a frase enigmática, o leitor sente o impulso de ler o resto do anúncio. Em letras grandes, outra frase denuncia essa intenção dos publicitários de suscitar a leitura depois da frase enigmática: "É tão fácil de explicar, como de mudar." Esqueçamos a vírgula a mais. Como a esmagadora maioria dos observadores não lê os anúncios na íntegra, os publicitários precisam de engodos para os atrair à "armadilha". Aqui, era obrigatório o pouco conhecido ActivoBank (um spin-off do Millennium) explicar um serviço completo, pelo que a táctica de atracção passou pelo enigma da chama que chega aos dedos.

 

O serviço é bem simples: o banco fornece um cartão de débito no momento da abertura de conta, no mínimo de 250 euros, "sem esperas nem burocracias desnecessárias." Acrescentando outra metáfora, os publicitários dizem que essas esperas e burocracias "já foram apagadas", como chama de fósforo. O anúncio atraiu-me à leitura, mas, no final, fiquei com sabor a enxofre na boca: qual a diferença entre não queimar os dedos tendo 250 euros em dinheiro vivo e tê-los num cartão de débito? Se fosse de crédito, sempre poderia ter dinheiro emprestado para pagar dívidas ou fazer compras antecipadas sem me "queimar". Será que a mensagem principal é a de poder abrir conta só com 250 euros? Para não envergonhar o observador sem liquidez que precisa de conta bancária, recorreu-se ao fogo-de-artifício do fósforo. 

 

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio