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[507.] Louis Vuitton AW13

Mais uma "polémica" nos media para alimentar "polémica" nos media! Um vídeo promocional da nova colecção de Louis Vuitton, assinada por Marc Jacobs, para a revista Love causou reacções de organizações feministas e o habitual sururu nos media.

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Os artigos de imprensa usam as declarações dessas organizações para conseguirem títulos tão incríveis como este, repetido no Jornal de Notícias e na Lux: "Louis Vuitton transforma modelos em prostitutas". A fome de "polémica" é tão grande que os media se denunciam, como neste título de um blogue brasileiro de moda: "Top models ou prostitutas? A nova campanha da Louis Vuitton é P-O-L-É-M-I-C-A!"


Agora os factos. O vídeo de 3’30 não é abertamente uma campanha de Louis Vuitton (http://www.youtube.com/watch?v=9FjUWAA--Kk). Foi uma encomenda da revista "Love" ao realizador James Lima. A colaboração da marca é evidente, pois aparece o seu desenhador Jacobs no final, um desfile da colecção, o agradecimento a Jacobs no final. E, afinal de contas, todo o vídeo é uma apresentação da colecção. Todavia, dado o formato institucional escolhido, a marca podia demarcar-se do vídeo se houvesse "polémica": houve "polémica" e a marca demarcou-se.

O que se vê no vídeo? Primeiro, o título, "Love". A palavra não associa apenas à revista, mas a amor. Ironia para sexo? Amor à marca? Amor exibicionista pelas criações da marca? Depois, durante três minutos, jovens mulheres andam e encostam-se pelas paredes à noite em ruas esconsas de uma cidade (impossível identificar Paris, apesar de os artigos sobre a "polémica" o fazerem). Nenhuma delas aparece totalmente nua, ao contrário do que dizem notícias. A nudez é parcial. Todas estão vestidas com alguma peça de roupa e acessórios, apesar de o exibicionismo do corpo marcar as imagens.

Nunca se vêem homens. Não há qualquer exibição de violência física, ao contrário do que li em notícias. Num ou dois casos, o vídeo mostra a relação das raparigas com automóveis que passam nas ruas: uma olha para dentro do carro (mas não se vê que fale com alguém), noutro caso entra no carro e faz poses sensuais (enfim, também pode ser que se esteja a espreguiçar!).

Estas imagens permitem a interpretação de que são prostitutas abordadas por possíveis clientes motorizados, mas não há qualquer concretização dessa actividade: não se vêem homens (ou mulheres) clientes, nem transacções sexuais, nem pagamentos. Apenas, como dizia uma notícia, "indícios de prostituição".

A linguagem visual usada permite outras interpretações, dado tratar-se de um vídeo artístico, quer dizer, que precisa necessariamente de conter mistério. E é uma narrativa ficcional. A invenção da "polémica" é, por isso, forçada. Nem o realizador nem Louis Vuitton transformam os modelos em prostitutas: são actrizes numa ficção semi-misteriosa. Não se vê prostituição, quando muito sublimada; e violência, só se estiver na cabeça dos espectadores do vídeo. Não se vê nenhuma mulher "completamente nua", ao contrário do que li numa notícia. Não se dá qualquer imagem "glamorosa" da prostituição, ao contrário do que disse uma organização crítica do vídeo.

Mais importante, trata-se de ficção, ficção, ficção! Só a partir dos 2’14, o vídeo se vai transferindo da ficção nas ruas para o universo da moda (bastidores, desfile, agradecimentos), sugerindo que o "desfile" nocturno "polémico" dos modelos nas ruas foi um pretexto para mostrar peças da marca de forma ficcional, misteriosa, e com apelo estético. Basta comparar a primeira parte do vídeo com os planos do desfile para se verificar que as roupas e acessórios chamam mais a atenção no modo ficcional (com movimentos mais livres, modelos quase nus, iluminados por faróis de carros) do que no modo realista (desfile de moda, a chatice do costume).

Enfim, os media já gritaram tantas vezes "polémica!" a respeito de anúncios e campanhas que provavelmente já ninguém acredita.

ect@netcabo.pt

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