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Tarifas levam BCE a baixar estimativas de crescimento deste ano e do próximo
Projeções macroeconómicas atualizadas pelo staff do BCE apontam para menos crescimento e mais inflação este ano do que o esperado. Preços energéticos e incerteza nas polícias comerciais penalizam.
Devido à elevada incerteza no comércio internacional, que deverá pesar nas exportações europeias, o 'staff' do Banco Central Europeu (BCE) reviu em baixa a sua estimativa de crescimento da Zona Euro para 0,9% este ano e para 1,2% no próximo. A previsão para a inflação deste ano também subiu, devido aos preços mais elevados da energia.
Num comunicado publicado nesta quinta-feira, 6 de março, depois da reunião do Conselho de Governadores, o BCE dá conta das suas estimativas macroeconómicas atualizadas, esperando agora que a economia da Zona Euro cresça menos 0,2 pontos percentuais do que o esperado em dezembro, tanto este ano, como em 2026. O BCE mantém a estimativa para 2027, esperando um crescimento de 1,3%.
"As revisões em sentido descendente para 2025 e 2026 refletem exportações mais baixas e a continuação da fraqueza do investimento, decorrente, em parte, da elevada incerteza em termos de políticas comerciais e da incerteza mais geral a nível de políticas", lê-se no comunicado do BCE. Embora não o diga claramente em causa estão sobretudo as tarifas que Donald Trump pretente aplicar sobre a importação, pelos Estados Unidos, de produtos europeus.
O BCE também piorou as suas estimativas para a inflação deste ano, prevendo agora que o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor desça para 2,3%, abaixo da descida esperada em dezembro que colocava o indicador em 2,1%. Assim, o 'staff' afasta a inflação do objetivo de médio prazo do BCE, de ter uma inflação nos 2%.
"A revisão em alta da inflação global para 2025 reflete uma dinâmica mais forte dos preços dos produtos energéticos", explica a autoridade monetária.
O staff manteve a projeção para a evolução do IHPC nos 1,9% em 2026 e desceu a previsão para 2027, apontando agora para os 2% (antes estava nos 2,1%.
Por outro lado, o BCE melhorou a estimativa para a inflação subjacente (que retira os preços dos bens energéticos e alimentares) este ano, descendo-a para 2,2%, menos 0,1 pontos face ao projetado em dezembro. Mas subiu-a para 2026 (em 0,1 pontos, para 2%) e manteve-a nos 1,9% em 2027.
"A economia enfrenta desafios continuados", acrescenta o BCE.
Os riscos em cima da mesa
Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião dos governadores, a presidente do BCE afirmou que "os riscos para o crescimento económico continuam em sentido negativo", ou seja, há o risco de a economia crescer menos do que o previsto.
"Uma escalada nas tensões comerciais pode diminuir o crescimento da Zona Euro prejudicar as exportações e enfraquecer a economia global. A incerteza continuada nas políticas comerciais pode reduzir o investimento", afirmou Christine Lagarde. "As tensões geopolíticas, como a agressão injustificada da Rússia à Ucrânia e o conflito trágico no Médio Oriente, continuam a ser um grande fator de incerteza também", acrescentou.
Além disso, a "fricção aumentada no comércio internacional está a aumentar a incerteza" nas projeções para a inflação. Uma tensão pode levar a uma depreciação do euro e aumentar os custos das importações, com impacto na subida de preços, explicou Lagarde. Ao mesmo tempo, se existir uma procura inferior por exportações da Zona Euro - em resultado das tarifas e de uma redifinição das rotas - pode reduzir a pressão sore os preços, acrescentou.
Por fim, as tensões geopolíticas criam riscos "de dois lados" para a inflação. "Um aumento na despesa com defesa e com infraestruturas pode aumentar a inflação através dos seus efeitos na procura agregada", admitiu Christine Lagarde.
(Notícia atualizada com mais informação às 14:23)