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FMI: Juros negativos podem roubar 40% dos lucros da banca nacional
A estimativa é do FMI: uma redução de 10 pontos base na margem financeira corta em 40% o lucro antes de impostos dos bancos portugueses. Tudo devido às taxas de juro negativas, com a instituição liderada por Christine Lagarde a prever que a banca nacional seja a mais afectada.
As taxas de juro negativas parecem ter vindo para ficar e, por isso, os avisos já surgem de todos os lados. Agora, é o Fundo Monetário Internacional (FMI) que alerta para os riscos de estas se manterem por muito tempo. É que apesar dos benefícios no crédito, há bancos que não conseguem passar o custo dos juros negativos para os clientes. É o caso da banca portuguesa que, estima a instituição liderada por Christine Lagarde, será mesmo a mais afectada por uma redução da margem financeira.
"As políticas monetárias não-convencionais, incluindo as compras de activos e as taxas de juro negativas, continuam a ser cruciais para fazer face ao fraco ambiente macroeconómico", defende o FMI no Relatório de Estabilidade Financeira Global, publicado esta quarta-feira, 13 de Abril. A instituição sediada em Washington diz mesmo que "os bancos são, no geral, dos mais beneficiados com estas medidas", uma vez que resultam numa "maior qualidade creditícia dos devedores, uma redução do crédito malparado, em ganhos na detenção de obrigações e numa redução generalizada nos custos de financiamento".
O problema é a falta de historial para compreender "os benefícios e os custos totais que poderão surgir durante um período prolongado de taxas de juro baixas ou negativas", aponta o FMI. Nesse sentido, a instituição liderada por Christine Lagarde nota que "poderá haver alguns efeitos colaterais adversos nos bancos". Até que ponto? "Dependerá da capacidade dos bancos em passar os custos através dos empréstimos e dos depósitos, da relativa importância dos ganhos financeiros para a rendibilidade, bem como da capacidade de gerar outros rendimentos", defende.
E é aqui que o cenário fica "negro" para a banca nacional. Quando analisados os diversos factores, o FMI coloca o sector financeiro português entre os principais afectados. Até porque, estima a instituição, uma redução de 10 pontos base - ou 0,1% - na margem financeira deverá levar a uma queda de 40% nos lucros antes de impostos da banca nacional. Segundo as estimativas dos especialistas, Portugal será mesmo o mercado mais afectado e com uma larga distância da Alemanha, que surge em segundo lugar com uma redução aproximada de 25% dos lucros.
"Um limite de 0% nos depósitos terá um maior impacto negativo nos bancos cujo financiamento depende mais dos depósitos das famílias e das empresas", aponta o FMI, mas também "em países com menores taxas de juro nos depósitos". Por estes motivos, "Alemanha, Itália, Portugal e Espanha destacam-se como relativamente mais vulneráveis do que a média da Zona Euro", ao passo que "França, Holanda e Reino Unido poderão estar melhor posicionados".
Mas a instituição sediada em Washington acrescenta que "a pressão das taxas de juro negativas na rendibilidade é provável que seja mais pronunciada em países onde as carteiras de crédito reajam mais rapidamente". E mais uma vez Portugal surge no topo dos mais afectados, juntamente com Itália e Espanha, devido à "elevada sensibilidade a alterações na taxa de referência interbancária". Isto deverá levar a uma redução "mais rápida nas taxas implícitas dos activos nestes mercados", prevê o FMI, devido ao elevado número de empréstimos à habitação com taxa variável. A instituição aponta que, em Portugal, estes ascendem a 95% do total de crédito concedido neste segmento.