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Os investidores pagam para emprestar à Alemanha. Mas porquê?

A Alemanha já tinha juros negativos na dívida até nove anos. Mas a tendência alastrou, agora, para a maturidade de referência. Um passo inédito, graças à procura por activos de refúgio e às medidas acomodatícias do BCE.

14 de Junho de 2016 às 16:29
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Há muito que a Alemanha vem registando taxas de juro negativas. Mas esta tendência – que até há poucos anos era impensável – ainda não tinha chegado à taxa de referência, as obrigações com maturidade a dez anos. No entanto, os elevados níveis de risco no mercado combinados com a segurança creditícia alemã levaram a que, pela primeira vez na história, a "yield" a dez anos fosse precedida de um sinal de menos. Mas o que significa?

A taxa de juro das obrigações reflecte inversamente o seu preço. Isto é, se os investidores estiverem a oferecer mais pelo mesmo título de dívida, a taxa de juro irá recuar. Mas a taxa engloba também os cupões – pagamentos periódicos - que a obrigação vai distribuir. Desta forma, se um investidor comprar dívida com taxas de juro negativas, isto significa que está disposto a pagar um preço superior à soma do reembolso da obrigação na maturidade e de todos os cupões pagos até então.

Isto é o mesmo que dizer que, no momento da compra do título, o investidor estará a assumir automaticamente uma perda potencial. Foi isso mesmo que aconteceu esta terça-feira, 14 de Junho, com a dívida alemã. A taxa a dez anos chegou a negociar num mínimo de -0,033%, o que reflecte a assunção de uma menos-valia por, pelo menos, um investidor. Essa perda apenas poderá ser revertida se os títulos valorizarem acima do preço pago pelo investidor e este aproveitar, então, para vender.

A grande questão é: porque aceita um investidor comprar um título com perda? Não há uma única resposta para isto, mas há vários factores que, actualmente, estão a desempenhar um papel importante no mercado. O primeiro é, desde logo, o Banco Central Europeu e as suas políticas acomodatícias. A instituição monetária da Zona Euro já cortou por várias vezes as próprias taxas de juro, além de que lançou um programa de compra de dívida soberana em Março de 2015.

Se a primeira medida pressiona, automaticamente, as taxas de juro do mercado, a segunda actua numa óptica diferente. É que o BCE vai ao mercado enquanto agente comprador que está disposto a pagar preços elevados pelas obrigações. Por isso, estimula uma valorização dos títulos, o que leva a uma redução da taxa de juro. Além disso, a procura extra que o banco central representa é, por si, um elemento dinamizador do mercado. E é esta possibilidade de valorização que pode levar os investidores a comprarem obrigações que, num primeiro momento, representam uma perda potencial. 

Mas há também que ter em conta o ambiente de fuga ao risco que o mercado atravessa actualmente. O Brexit é um cenário cada vez mais forte, o que tem levado os investidores a sair de activos de maior risco. Uma tendência reforçada pelos dados do emprego nos EUA, que em Maio ficaram aquém do esperado. Para aplicar a liquidez obtida com a venda destes activos, os investidores procuram, por isso, instrumentos financeiros que sejam mais seguros.

Esse é o caso das obrigações alemãs, mas também do Japão, cuja taxa a dez anos está igualmente negativa. Uma vez que estes países têm um "rating" muito elevado, que atesta a sua capacidade creditícia, os investidores apostam nas suas obrigações como se fossem um depósito com capital garantido. E mesmo que tenham juros negativos, o investimento poderá compensar para grandes bancos. Isto porque na Zona Euro, por exemplo, o BCE cobra 0,4% pelos depósitos lá aplicados, pelo que os bancos resgatam menos capital do que o aplicado.

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