Notícia
Bancos estão a aliviar condições para financiar empresas na Zona Euro
As medidas do BCE parecem estar a puxar pelo crédito. É, pelo menos, isso que mostra o inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito na Zona Euro. Mas também revela que os bancos estão a sentir o peso na rentabilidade.
Os bancos estão cada vez mais disponíveis para concederem crédito. As condições impostas pelo sector financeiro dos países que pertencem ao euro continuaram, no primeiro trimestre, a aliviar, facilitando o acesso das empresas a financiamento. É um reflexo das medidas de estímulo que estão a ser implementadas pelo Banco Central Europeu (BCE) que, contudo, estão a pesar nas contas do sector.
As condições para acesso a crédito por parte das empresas aliviaram no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito na Zona Euro, divulgado pelo BCE. Ao mesmo tempo, a procura por financiamento pelas empresas aumentou, com a queda dos juros.
"Pressões concorrenciais e a menor percepção de risco foram os principais factores que contribuíram para um alívio das condições de financiamento" às empresas, revela o BCE. No que respeita às famílias, o inquérito mostra que a procura por financiamento para a compra de casa aumentou, mas as condições de acesso deterioraram-se "inesperadamente".
"No que concerne ao programa de compra de instrumentos de dívida titularizados (ABS), os bancos utilizaram a liquidez adicional no quarto trimestre de 2015 e no primeiro de 2016 para concederem mais crédito", refere o inquérito realizado pelos vários bancos centrais às instituições financeiras da Zona Euro.
Pressão na rentabilidade
Esta evolução positiva do crédito dá força às medidas de estímulo que têm sido postas em marcha por parte da autoridade monetária da Zona Euro, liderada por Mario Draghi. Contudo, parte dessas medidas estão já, dizem os bancos, a ter repercussões negativas ao nível da rentabilidade do sector.
No inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito, "os bancos da Zona Euro indicaram que o programa de compra de activos tem tido um impacto negativo na sua rentabilidade nos últimos seis meses", nota o BCE. "A taxa de depósitos negativa (em -0,4%) tem tido impacto positivo nos volumes de crédito, em particular para as famílias, mas tem um impacto negativo na margem financeira e na dos créditos", remata.
Medidas anunciadas pelo BCE a 10 de Março 1. A taxa de juro central baixa de 0,05% para 0%
A partir de Março de 2016 pedir dinheiro ao banco central em Frankfurt não custará rigorosamente nada aos bancos. O objectivo é tornar o custo do dinheiro ainda mais barato na Zona Euro para incentivar o consumo e o investimento. Dado que a taxa de juro central já estava próxima de 0% o impacto económico poderá não ser grande, mas é um sinal da determinação do BCE em ir ao limite das possibilidades dos seus instrumentos para estimular a economia e a inflação. Chegados aqui Mario Draghi diz que não antecipa novos cortes nas taxas de juro, sinalizando que eventuais novos estímulos deverão chegar por outros instrumentos, com destaque para as compras de activos.
2. Taxa de depósito passa de -0,3% para -0,4%
O BCE colocou ainda em terreno mais negativo a taxa que cobra pelas reservas que os bancos depositam no banco central. O objectivo desta medida, que tem sido adoptada por outros bancos centrais, é o de incentivar os bancos a emprestarem dinheiro à economia em vez de o depositarem em Frankfurt. Os bancos queixam-se dos custos que tal lhes impõe, mas os responsáveis do BCE garantem que as suas medidas têm ajudado a rendibilidade dos bancos por vários canais. Na conferência de imprensa Vítor Constâncio sublinhou que as medidas do BCE baixaram os custos de financiamento dos bancos nos mercados monetários; permitiram ganhos de capital com valorização dos títulos em carteira; e ajudaram à recuperação da economia o que, por sua vez, melhorou o negócio dos bancos e baixou o crédito mal parado.
3. Mais 240 mil milhões de euros em compras de activos
Em Dezembro, o BCE prolongou o programa de compra de activos que era suposto terminar em Setembro deste ano até Março de 2017, acrescentando 360 mil milhões de euros ao valor do programa de compras inicial. Anunciou ainda o reinvestimento dos juros obtidos com as compras (avaliados em 320 mil milhões de euros). Em Março de 2016 Mario Draghi anuncia novo reforço, aumentando do volume de compras mensais de 60 para 80 mil milhões de euros, a começar em Abril. Isto equivale a mais 240 mil milhões de euros injectados na Zona Euro - os quais incluem as compras de obrigações de empresas. O sinal é claro: o BCE confia que a injecção de dinheiro na economia gera facilita a concessão de crédito, ajuda à retoma e puxará pela inflação.
4. O BCE também comprará obrigações de empresas
Além de activos do sector público, o BCE passará a comprar também obrigações de empresas da Zona Euro que tenham ratings com níveis de investimento. Com esta medida, além contribuir mais directamente para baixar os custos de financiamento por dívida do sector privado, a autoridade monetária cria incentivos para os investidores procurarem rendibilidades mais elevadas fora do segmento dos títulos de dívida.
5. BCE poderá pagar aos bancos por empréstimos de longo prazo
Finalmente, o BCE vai avançar com quatro novos empréstimos de longo prazo (maturidades de 4 anos) aos bancos (em Junho, Setembro, Dezembro de 2016 e Março de 2017), mas com uma novidade surpreendente: sob certas condições, o BCE está disposto a pagar aos bancos para lhes emprestar dinheiro. Como até aqui, a taxa de juro destes empréstimos será fixa e igual à taxa central no momento da operação (que desde hoje é de 0%), mas poderá ser reduzida em função do volume de empréstimos concedidos pelos bancos à economia, podendo mesmo igualar a taxa de depósitos que passou a ser de -0,4%. Ou seja, da mesma forma que o banco central cobra aos bancos por depósitos, poderá pagar-lhes por empréstimos, desde que estes emprestem à economia. O objectivo é incentivar os bancos a recorrer aos empréstimos do BCE para emprestarem a empresas e famílias. Pelo caminho compensam em parte o custo de terem de pagar por depositarem dinheiro em Frankfurt. Os bancos poderão recorrer a estes empréstimos até um máximo de 30% do total do valor da sua actual carteira de crédito.