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Caixa paga 10,75% pela emissão de dívida perpétua
A Caixa Geral de Depósitos fechou o preço da emissão de dívida com elevada subordinação. A procura excedeu em quatro vezes os 500 milhões em oferta.
O banco liderado por Paulo Macedo fechou a taxa final para emitir dívida subordinada que conta como capital (AT1). Para convencer os investidores a apostar nestes títulos perpétuos, a Caixa Geral de Depósitos vai pagar 10,75%, segundo dados avançados pela Bloomberg. O valor indicado inicial era de entre 11% e 11,5%. No entanto, o juro elevado atraiu um nível e procura que triplica o montante em oferta. A liquidação da operação está prevista para 30 de Março.
As intenções de compra registadas no livro de ordens ultrapassaram em mais de quatro vezes os 500 milhões de euros da oferta, ou seja,atingiram mais de 2 mil milhões de euros.
De acordo com um comunicado do banco do Estado colocado na CMVM, os títulos de dívida foram subscritos por mais de 160 investidores.
A Caixa revelou também a distribuição da colocação dos títulos, quer por tipo de investidores, quer por geografia. As gestoras de activos ficaram com praticamente metade dos títulos, sendo que os "hedge funds" compraram 41%. Uma distribuição explicada pelo risco elevado dos títulos colocados, que atraem os investidores mais propensos ao risco, como é o caso dos "hedge funds".
Os investidores do Reino Unido compraram mais de metade dos títulos (59%), sendo que os portugueses ficaram apenas com 14%.
A Caixa encerrou esta quarta-feira o "roadshow", indicando que participaram 120 investidores nessa operação. E o banco tinha considerado que os institucionais mostraram um "forte interesse na operação". Logo após essas apresentações, o banco público colocou a operação a decorrer a partir das 9:00 desta quinta-feira.
Caixa justifica juros elevados com risco dos AT1 e por não estar cotada
Para cumprir com esta emissão, que é crucial para o plano de capitalização já que foi exigida por Bruxelas, a CGD teve de aceder a pagar uma taxa elevada. Num comunicado enviado à CMVM, o banco explica, em relação ainda ao intervalo inicial de preço, que isso teve "em consideração os referenciais recebidos nos contactos com os investidores".
Acrescentou que "estes referenciais foram influenciados pelo facto da CGD não ser um banco cotado, pela ausência de emissões similares por parte de bancos nacionais, dificultando a sua comparabilidade, e sobretudo pelos riscos intrínsecos a este tipo de instrumentos". Os analistas contactados pelo Negócios previam, antes da operação que o banco público tivesse de acenar com um prémio generoso, apesar de reconhecerem que era difícil encontrar entidades que emitiram em condições semelhantes à da CGD.
Além desses motivos, enumeravam ainda a necessidade da CGD fazer essa emissão para cumprir com as directrizes da Comissão Europeia como algo que os investidores iriam fazer reflectir no preço. "Como a emissão de obrigações AT1 é parte do plano de recapitalização, é importante que tenha êxito. E os investidores irão, provavelmente, ter isso em conta quando decidirem qual deverá ser o preço desses instrumentos", tinha referido Pauline Lambert, directora da Scope Ratings, ao Negócios.