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Paulo Azevedo diz-se indignado também com a Assembleia da República

Em entrevista ao Expresso, o presidente da Sonae diz que reacção da Altice a declarações suas, ameaçando processá-lo, é "um bocadinho bizarra". Mas ataca Carlos Magno e o Parlamento por ter deixado arrastar a situação da administração da ERC, sem a solucionar.

Bruno Simão
Negócios 29 de Outubro de 2017 às 16:41
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Depois de ter dito que a compra da TVI pela Altice criaria condições para daqui a 10 anos estarmos "todos indignados com a descoberta de uma Operação Marquês 10 vezes maior", a Altice anunciou que iria "avançar com uma queixa-crime contra o engenheiro Paulo Azevedo".

Agora, Paulo Azevedo, numa rara entrevista, assume ao Expresso estar indignado com o que se está a passar no processo de concentração, nomeadamente com o que se passou com a ERC, que não chumbou o negócio, permitindo que a operação chegue à Autoridade da Concorrência. Tudo porque Carlos Magno votou de forma contrária aos dois vogais existentes na ERC e contra o parecer técnico da própria entidade reguladora. 

Paulo Azevedo fala de uma operação que "cria uma concentração grave de poder económico e controlo sobre os media", e por isso diz sentir a responsabilidade de "alertar as pessoas", até porque, acrescenta, "tive a infelicidade de ter de lutar contra um sistema em que havia promiscuidade entre o poder político, económico e o controlo dos media".

Garante que não se trata de estar a acusar a Altice, nas é um alerta. Sobre o anúncio da Altice de que iria avançar com uma queixa-crime contra si, Paulo Azevedo diz ser uma reacção "um bocadinho bizarra, porque esta é uma opinião que temos independentemente de quem possa vir a ter essa posição. Não é uma reflexão sobre o carácter da Altice, é uma preocupação sobre as condições de enfraquecimento da nossa sociedade, do papel de contrapoder e de escrutínio que os media devem ter. Foi nesse sentido que falei da Operação Marquês".

Garante não estar, com essa afirmação, a insinuar que haja, neste caso, alegados crimes como os que foram acusados os arguidos na Operação Marquês, de corrupção, branqueamento de capitais, falsidade de documentos, etc. "Claro que não", foi a resposta, à qual acrescentou: "O que estou a dizer é que se esta operação for para a frente, qualquer que seja a empresa que tenha o poder de controlar uma parte importante da informação que chega aos portugueses, cria condições para que possa surgir esse tipo de actividades ilegítimas. Como isso não aconteceu, obviamente que ainda ninguém se aproveitou disso. Eu não acusei ninguém de coisa nenhuma". 

Volta a dizer, recusando-se a fazer considerações sobre o comportamento ético da Altice, que "achei bizarro dizerem que fiz declarações ou insinuações difamatórias relativamente à Altice, porque eu nunca falei na Altice. Ando cá há algum tempo, não tenho medo nenhum de dizer o que penso. Não faço insinuações, quando faço declarações faço-as com clareza e acho que foi o caso".

"A reacção da Altice tem uma parte desagradável, que é a de tentarem silenciar-me com esta ameaça de queixa pessoal, fiquei surpreendido mas satisfeito, porque o que é mais importante para mim é ter oportunidade de dizer de forma mais aberta possível que há aqui uma operação que, no nosso entender, no entender de muita gente e também da ERC, é perigosa para Portugal".

Se o alvo não foi a Altice, Paulo Azevedo ataca, no entanto, Carlos Magno e a Assembleia da República. Considera que o presidente da ERC não deveria ter actuado como actuou, porque sozinho bloqueou o chumbo. "Quanto muito demitia-se porque esta situação só é possível porque a Assembleia da República não consegue há muito tempo criar o consenso para eleger os membros do conselho da ERC em falta". Por isso, "a AR tem uma responsabilidade política e a minha indignação tem a ver com o facto de isto se estar tudo a passar com pouca preocupação e visibilidade. Reafirma essa indignação para com a Assembleia: "Se o nosso sistema político não elege os membros do conselho regulador da ERC e por essa via esse conselho fica fragilizado, também há uma responsabilidade da AR".

Questionado sobre a possível reacção da Nos, caso o negócio se concretize, e dizendo que não defenda este tipo de operações, assume que "se o sistema político e o sistema regulatório acharem muito bem e que é assim que deve ser, a Nos terá de tomar as decisões e seguir os caminhos que lhe restam para defender os seus interesses". 
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