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Philip Morris: “Um futuro sem fumo não significa um futuro sem tabaco"

O IQOS, dipositivo de tabaco aquecido da Philip Morris, já é utilizado por mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo. Os consumidores portugueses, que no final de 2016 eram 10 mil, já devem ter duplicado. A empresa quer abandonar os cigarros mas não o tabaco.

Philip Morris International
06 de Maio de 2017 às 16:17
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O dispositivo de tabaco aquecido da Philip Morris International (PMI), dona da Marlboro, já está a ser utilizado por mais de dois milhões de pessoas em todo o mundo. O IQOS permite consumir tabaco sem combustão, o que, segundo a operadora, tem um potencial de redução de 90% a 95% dos componentes tóxicos que estão presentes no fumo de um cigarro. No mercado nacional, os utilizadores deste produto representavam, no primeiro trimestre deste ano, uma fatia de 0,4% do total dos consumidores de tabaco (o que deverá rondar 20 mil pessoas).

 

Estes dados foram avançados em Lausanne, Suíça, durante uma rara conferência de imprensa da tabaqueira Philip Morris, que comercializa marcas como Marlboro ou L&M e que em Portugal detém a Tabaqueira.

 

O dispositivo de tabaco aquecido IQOS é a grande aposta da Philip Morris para os próximos anos. O objectivo da empresa passa por converter todos os fumadores de cigarros convencionais para os seus produtos de tabaco sem combustão. A queima de um cigarro convencional gera temperaturas que oscilam entre os 600 graus e os 800 graus Celsius de cada vez que os utilizadores dão uma "passa". Já o IQOS, sublinha a PMI, mantém-se estável nos 350 graus. Os dispositivos de tabaco aquecido não são iguais aos cigarros electrónicos – estes últimos não contêm tabaco mas sim um líquido com ou sem nicotina.

 

"Hoje as pessoas querem algo menos nocivo", explicou Frederic de Wilde, presidente da região Europa da PMI. "Investimos durante 10 anos a tentar desenvolver estas alternativas" de tabaco sem combustão – um investimento de pelo menos três mil milhões de dólares neste período em investigação e desenvolvimento. O resultado é o IQOS, que permite consumir tabaco sem chama e, logo, sem cinza e sem um conjunto de componentes presentes no fumo do cigarro.

 

"A nossa visão é que estes produtos vão, um dia, substituir os cigarros", mas "isso não vai acontecer da noite para o dia", reconheceu. Ainda assim, o produto está a superar as expectativas da empresa. "Mais de dois milhões de pessoas mudaram dos cigarros para o iQOS", que está a ter um "sucesso incrível no Japão", onde já é utilizado por 8,8% dos consumidores de tabaco. Frederic de Wilde admite que é "preciso muito esforço para converter os 1,1 mil milhões de fumadores que existem em todo o mundo". Desses, cerca de 150 milhões de fumadores consomem produtos da PMI.

 

Apesar de a Philip Morris se mostrar preocupada em "converter" os fumadores de cigarros convencionais em utilizadores do IQOS, e admitir deixar de produzir cigarros convencionais, não pretende acabar com o consumo de tabaco. "Um futuro sem fumo não significa um futuro sem tabaco", realça de Wilde. As estimativas que vão sendo elaboradas indicam que o número de fumadores de tabaco se vai manter estável nos próximos anos, explica ao Negócios o português Miguel Coleta, que desempenha o cargo de responsável de sustentabilidade (sustainabilty officer) da PMI.

 

Portugal é um dos "mercados prioritários" para a PMI

 

O IQOS é constituído por um dispositivo electrónico recarregável – composto por um carregador e uma espécie de boquilha, oficialmente designada de "holder", na qual são introduzidos os "heatsticks", uma espécie de mini-cigarros, com filtro, que contêm o tabaco. Em Portugal, o dispositivo para consumir os "heatsticks" custa 70 euros. Cada maço de 20 "heatsticks", com a chancela Marlboro, custa 4,70 euros e está disponível em três variedades: "full flavour", suave e mentol.

 

Portugal foi um dos primeiros mercados a receber o IQOS em todo o mundo, porque foi considerado um "mercado prioritário" neste tipo de produtos. Ao Negócios, Frederic de Wilde justifica e diz que é um dos mercados que "tradicionalmente recebe bem a inovação". "Foi uma escolha acertada", porque "a fatia de mercado do IQOS chegou rapidamente a 0,4% no primeiro trimestre de 2017, apesar de estar apenas disponível em 25% dos pontos de venda", nota.

Os dados relativos ao número de consumidores no primeiro trimestre não foram avançados pela empresa, mas considerando que os 0,2% de "market share" no final de 2016 correspondiam a 10 mil pessoas, pode-se antecipar que os 0,4% registados até final de Março deste ano correspondam a cerca de 20 mil pessoas.

 

Dados da empresa revelam ainda que Portugal é um dos mercados com a maior percentagem de consumo predominante de IQOS entre os consumidores de tabaco que começam a utilizar este produto – 65% deles utilizam exclusivamente o IQOS; os restantes fazem-no em simultâneo com o consumo de cigarros tradicionais. A taxa de conversão (entre os consumidores que experimentam o produto e passam a utilizá-lo em exclusivo) é de 79%, abaixo apenas do Japão (80%).

 

O IQOS já está presente em 25 países e a PMI conta chegar aos 35 até final do ano.

 

Redução da nocividade aproxima-se de deixar de fumar, diz PMI

 

A empresa conduziu dezenas de estudos científicos e testes clínicos, nos quais concluiu que a redução de nocividade é praticamente similar à que se obtém quando se deixa de fumar. "O monóxido de carbono, o benzeno e 1,3 Butadieno (carcinogénios) e a acroleína descem quase todos quando se pára de fumar", começa por dizer Ruth Dempsey, que integra a área científica da PMI.

 

"Quando se começa a utilizar IQOS, o padrão é mais ou menos similar: o monóxido de carbono, o 1,3 butadieno e o benzeno descem quase na mesma magnitude [a deixar de fumar]. Na acroleína a descida já não é tão significativa mas fica ainda assim bem abaixo dos níveis do cigarro convencional", explica, com base nos estudos clínicos. Em conclusão, "o IQOS não gera combustão nem fumo, e o aerossol que liberta contém níveis de partículas tóxicas que são em média 90% a 95% inferiores ao fumo de um cigarro". A única coisa que o aerossol do IQOS tem em níveis semelhantes ao cigarro é a quantidade de nicotina.

 

A mutagenicidade bacteriana – isto é, a possibilidade de as células provocarem alterações no ADN – também cai "mais de 98%".

A principal fragilidade que é apontada às conclusões desta investigação científica é que não é conduzida - e ainda não foi testada - de forma independente por entidades sem ligação à PMI. A empresa defende-se dizendo que a investigação conduzida pelas farmacêuticas é unanimemente aceite no sector.

 

Portugal prepara-se para dificultar a vida ao tabaco aquecido

 

Por isso, as conclusões destes estudos ainda não convencem as autoridades de saúde pública de vários países. Um deles é Portugal. A proposta do Governo de revisão à lei do tabaco pretende acabar com a distinção actualmente em vigor entre os cigarros convencionais e o tabaco aquecido, o que significa que o IQOS passará a estar sujeito às mesmas restrições que o tabaco convencional. Actualmente, este produto beneficia de um regime diferenciado em termos de advertências de saúde – não exibe imagens chocantes nem mensagens a avisar para o perigo de morte – e em termos fiscais, estando sujeito ao mesmo regime do tabaco de enrolar (mais favorável que o dos cigarros).

 

Essa proposta em concreto não mereceu quaisquer reparos dos partidos da geringonça. A justificação avançada pelo deputado Moisés Ferreira, do Bloco de Esquerda, ao Negócios, foi o desconhecimento do impacto que tem a utilização prolongada deste produto. Adicionalmente, a Direcção-Geral de Saúde tem afirmado que a presença de tabaco no IQOS significa que o seu consumo acarreta riscos.

Apenas a deputada socialista Isabel Moreira apresentou medidas para garantir que se mantenha o regime diferenciado para o tabaco aquecido e para os cigarros electrónicos (que não contêm tabaco mas sim nicotina em estado líquido). A Lusa noticiou posteriormente que alguns deputados de peso na bancada socialista – como o porta-voz do PS, João Galamba – poderiam votar ao lado de Isabel Moreira.

 

Frederic de Wilde lamenta este estado de coisas. "Por vezes há governos que demoram muito tempo a agir. Alguns países não estão muito avançados no conceito de redução de nocividade, e muitos não estão preparados para rever a nossa investigação", porém, "os reguladores vão acabar por perceber que têm de tratar estes produtos como um produto diferente". Adicionalmente, "em alguns países será preciso rever as regras de comunicação, que são tão restritas que nem nos permitem apresentar este produto".

 

A Japan Tobacco International (JTI) e a British American Tobacco (BAT) também já lançaram produtos de tabaco aquecido, mas ainda não os introduziram em Portugal. A Imperial Tobacco apenas desenvolveu alternativas no campo dos cigarros electrónicos e tem contestado o dispositivo IQOS.


* O jornalista viajou para a Suíça a convite da Tabaqueira

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