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Buffett, o homem simples que gosta de pipocas e de jogar bridge com Bill Gates

Warren Buffett é um dos homens mais ricos do mundo. Transformou há 50 anos uma fabricante têxtil falida no grande conglomerado que é hoje, a Berkshire Hathaway, e que agrega mais de 80 empresas. Mas quem é Buffett, o homem?

Bloomberg
Carla Pedro cpedro@negocios.pt 30 de Agosto de 2015 às 10:00

Diz que é capaz de comer sandes de presunto durante 50 dias seguidos. Quando gosta de uma coisa, gosta mesmo e não enjoa. Chama-se Warren E. Buffett e é este o homem que está do outro lado do investidor. As regras que aplica nos investimentos, segue-as também na sua vida pessoal. E, até agora, saiu-se bem.

 

É, de facto, um homem de hábitos. Ainda mora na mesma casa no bairro de Dundee, em Omaha (no Estado do Nebraska), que comprou em 1958 por 31.500 dólares. "Todos os dias, exactamente às 8h30, senta-se na escrivaninha que pertenceu ao seu pai, Howard, para começar o dia. No trabalho, passa o dia a negociar e a ler o que acontece no mercado financeiro, incluindo relatórios diários do desempenho das suas empresas. E regressa a casa sempre às 17h30", conta a revista Época.

 

Considera-se uma pessoa simples e pauta a sua vida por isso. "Tenho prazeres simples. Jogo bridge online 12 horas por semana. E jogo com Bill Gates", confessou um dia.

 

No livro "Efeito Bola de Neve - a biografia de Warren Buffett, o maior investidor do mundo " [Actual Editora, 2009], escrito por Alice Schroeder, revela que gosta de comer sempre as mesmas coisas. "Poderia comer sandes de presunto 50 dias seguidos", diz. E conta que come em sequência, uma coisa de cada vez, pois não gosta que os elementos se misturem no prato. Entre as suas preferências estão os hambúrgueres, pipocas, gelado de chocolate com pedaços e Cherry Coke – uma versão da Coca-Cola com sabor a cereja.

 

Nascido a 30 de Agosto de 1930, é o segundo de três filhos de Leila e Howard Buffett e tem Doris e Bertie como irmãs. O pai foi corretor da bolsa e membro do Congresso norte-americano, e o avô paterno era dono de uma loja de géneros alimentícios em Omaha.

 

Desde criança que demonstrou interesse em fazer e guardar dinheiro, relata a Wikipedia. E sempre revelou grande habilidade com os números, acrescenta a Infomoney. Aos seis anos já comprava garrafas de Coca-Cola na loja do avô e depois ia vendê-las de porta em porta, conseguindo gerar algum lucro. Hoje é um dos accionistas da bebida que tanto aprecia.

Primeiros negócios antes dos 14 anos

 

Aos 10 anos, numa viagem a Nova Iorque, quis conhecer a bolsa (New York Stock Exchange). E foi nessa altura que teve o primeiro contacto com o mercado accionista, ao comprar seis títulos da empresa Cities Service, a 38 dólares cada uma, três para ele e três para a irmã Doris. O valor das acções caiu, mas teve paciência e esperou até que voltassem a subir. Vendeu com lucro, ao valor unitário de 40 dólares, mas depois chegaram a valer 200 dólares. Nunca mais se esqueceu de ter paciência. Muita paciência.

 

Warren Buffett não se ficou por aqui e foi procurando constantemente novas fontes de rendimento. Fazia entrega de jornais, recolhia e reciclava bolas de golfe e chegou mesmo a comprar um Rolls Royce, por 350 dólares, que alugava por 35 dólares por dia. Em 1945, gastou, mais um amigo, 25 dólares na compra de uma máquina de flippers, que colocaram numa barbearia. Ganhavam 50 dólares por semana. Rapidamente investiram esse dinheiro e em pouco tempo eram donos de várias máquinas repartidas por diferentes lojas. Comprou também algumas dezenas de hectares de terras no Nebraska e alugava-as a agricultores. Tudo isto antes de chegar aos 14 anos.

 

Diz a Wikipedia que a sua primeira declaração fiscal foi feita em 1944 (aos 14 anos), alegando que a sua bicicleta e o relógio eram essenciais para o seu trabalho. Teve uma dedução de 35 dólares.

 

Quando frequentava o ensino secundário, já tinha acumulado uma considerável quantia de dinheiro: aos 16 anos tinha 6.000 dólares. E quando terminou a faculdade tinha na sua conta mais de 90.000 dólares.

 

Aos 19 anos, com licenciatura em Economia pela Universidade Nebraska-Lincoln, tentou entrar em Harvard para fazer o mestrado mas foi rejeitado. Acabou por entrar na Faculdade de Economia de Columbia, onde conheceu Benjamin Graham – que foi muito importante no seu percurso, pois com ele aprendeu os conceitos do valor intrínseco e da margem de segurança ("value investing").

Desde então, Buffett ganhou o gosto por comprar acções de empresas que estejam a ser negociadas abaixo do seu valor intrínseco (valor real e não o valor da acção fixado em bolsa), que é mensurado pelos activos, lucros e dividendos. O segredo, segundo Graham, que também advogava a diversificação das carteiras para repartir o risco, era comprar acções a um preço suficientemente baixo para dar garantias de que poderiam ser depois vendidas por um valor superior. E Buffett gosta de seguir essa regra.

 

Em 1951 terminava o seu mestrado. Graham – que diz que Buffett foi o único aluno a quem deu uma nota máxima em toda a sua vida – foi a segunda pessoa mais influente na vida do dono da Berkshire, depois do seu pai. Após concluir os estudos, manteve-se em contacto com o seu ex-professor, tendo ido trabalhar em 1954 na sua empresa, a Graham-Newman, que se dissolveu dois anos depois.

Além de Benjamin Graham, Philip A. Fisher foi outro investidor que influenciou as abordagens de Buffett. "Para Fisher, comprar uma empresa barata não era tudo. Fisher acreditava que os investidores deviam comprar títulos de grandes empresas. Empresas líderes no sector, com alguma vantagem competitiva duradoura", descreve a Wikipedia.

No livro "O toque de Midas", de John Train, publicado em 1987, o autor descreve Warren Buffett [que se diz ter o toque de Midas por transformar em ouro tudo aquilo em que toca] como sendo 85% Benjamin Graham e 15% Philip Fisher em termos de influências. E Buffett concorda. 

 

Para o chamado "Oráculo de Omaha", é importante que tenhamos mentores na nossa vida. "Tive a sorte de ter os heróis certos. Diz-me quem são os teus heróis e dir-te-ei quem serás. As qualidades das pessoas que admirares são rasgos que, com um pouco de prática, podes tornar teus. E se os praticares, irão transformar-se em hábitos", diz.

 

Em 1956, criou a Buffett Associates, com as suas irmãs e outros sócios, que começou por gerir os investimentos de sete pessoas que lhe confiaram 105 mil dólares. Logo nos primeiros anos a empresa gerou retornos de cerca de 250%.

 

Então, aos 35 anos decidiu tomar as rédeas da Berkshire Hathaway, uma empresa do ramo têxtil quase falida que transformou no grande conglomerado que é hoje. Actualmente a empresa vale cerca de 335 mil milhões de dólares e é uma das maiores do mundo.


Filantropo convicto

Filantropo convicto, doa regularmente dinheiro à Fundação Bill e Melinda Gates e em Junho de 2006 comprometeu-se a deixar-lhes aproximadamente 85% da sua fortuna. Com o restante, assegura, os filhos poderão viver com o necessário para fazerem o que quiserem – "mas não em demasia, caso contrário podem decidir não fazer coisa alguma".

 

Atento às instituições de beneficência, todos os anos leiloa um almoço que reverte a favor de uma causa à sua escolha. Quem arremata o almoço com o célebre investidor entrega o dinheiro à instituição seleccionada nesse ano.

 

Todos querem ouvir os seus conselhos. E nem Barack Obama foge à regra. Não raras vezes, o presidente dos Estados Unidos recorre aos conselhos do investidor, que é apologista de um aumento dos impostos sobre os mais ricos e que defende semanas de trabalho de quatro dias.

 

Em Fevereiro de 2008, comentou que os problemas do sector financeiro norte-americano eram uma espécie de "justiça poética" para os banqueiros que conceberam e venderam instrumentos de investimento complexos que entretanto se deterioraram. Dois anos mais tarde defendia, em entrevista à Fox News, que se uma empresa falir, o CEO deve afundar com ela. Para Buffett, a regulação da banca deveria incluir uma cláusula para que se confisquem os bens dos CEO (e seus cônjuges) que levem à falência as empresas a que presidem.

O homem dos sete ofícios

Em Julho 2009 protagonizou uma banda desenhada destinada a ensinar as crianças a lidar com dinheiro. Foi assim que se tornou a personagem central da série "Secret Millionaires Club", onde os mais pequenos vivem aventuras de negócios e aprendem lições de finanças em episódios de três a cinco minutos.

 

Conhecido como o homem dos sete ofícios, de vez em quando mostra mais uma faceta desconhecida da maioria do público. Em comemoração do Novo Ano Chinês de 2012, cantou e tocou ukulele, a guitarra havaiana, uma actuação que foi transmitida pela televisão estatal chinesa, a CCTV. Alguns meses depois, fez um dueto com o cantor Bon Jovi, tocando a música ‘The Glory of Love’, de Benny Goodman, num evento filantrópico organizado pela Forbes. 

 

Um outro momento inesperado foi quando imitou Axl Rose, vocalista dos Guns n’ Roses, em Março de 2010, num anúncio da Geico, companhia de seguros da Berkshire Hathaway, onde a mensagem que passa é ‘somos sempre verdadeiros para si’.

 

Este ano, em Abril, foi um convidado especial da assembleia geral de accionistas da Coca-Cola. Foi apresentado num vídeo, onde canta, com a sua ukulele nas mãos, ‘I’d like to teach the world to sing’, que é uma música dos anúncios clássicos da empresa. No fim, graceja, dizendo que poderia comprar uma Coca-Cola para cada pessoa do mundo, mas que os accionistas da Berkshire não iriam gostar.

 

Buffett casou em 1952 com Susan Buffett Thompson e tiveram três filhos: Susan, Howard e Peter. Separaram-se em 1977, mas o casamento não foi oficialmente desfeito. Estavam juntos num evento, em Julho de 2004, quando Susan morreu de enfarte.

Em 2006, Buffett casou-se com a letã Astrid Menks, com quem vivia desde finais dos anos 70 e que tinha conhecido através de Susan. É que quando Susan decidiu retomar a sua carreira de cantora, em meados dos anos 70, fê-lo num bar de Ohama, chamado French Café, onde Astrid Menks trabalhava como empregada de mesa.

Menks foi viver com Buffett em finais dessa década, depois da separação amigável do investidor e de Susan, que entretanto tinha decidido rumar até São Francisco, para prosseguir a sua carreira. No entanto, a separação de ambos foi apenas parcial, pois continuaram a ver-se assiduamente e a socializarem e a trabalharem juntos. Susan foi sua mulher até morrer. Ao longo desses anos, por altura do Natal, conta o The Guardian, chegavam a enviar postais assinados como "Warren, Susie e Astrid".

 

Buffett continua a fazer uma vida simples, a jogar bridge com Bill Gates, a comer sandes de presunto e a tocar guitarra havaiana. Faz hoje 85 anos. 

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