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"Meio mundo" este sábado em Omaha para ouvir o investidor que adora pipocas e bridge
Se a agenda for cumprida, pelas 08:00 horas de sábado em Omaha (14:00 em Lisboa), no Estado norte-americano do Nebraska, será divulgada a carta anual de Warren Buffett aos accionistas do seu conglomerado, a Berkshire Hathaway. Os resultados anuais serão também apresentados.
A reunião anual mais conhecida de Omaha, onde milhares de pessoas se concentram para ouvir o célebre investidor Warren Buffett, é já este sábado, 25 de Fevereiro. Logo pelas 08:00 da manhã (14:00 em Lisboa) será apresentada a carta do CEO da Berkshire Hathaway aos seus accionistas.
E não se trata de uma carta qualquer. É um documento exaustivo e cheio de ensinamentos, pelo qual os accionistas aspiram durante 12 meses. A visão e os conhecimentos de Warren Buffett, conhecido como o "Oráculo de Omaha", tornaram-se de tal forma importantes que o fim-de-semana de apresentação da carta e das contas da empresa – evento conhecido como "Woodstock para Capitalistas" transforma-se numa autêntica romaria, a ponto de as companhias aéreas chegarem mesmo a quadruplicar os preços dos bilhetes de avião para aquela localidade.
E este ano Buffett deverá debruçar-se sobre os méritos do investimento passivo, avançou a Reuters. E isto porque, em declarações recentes à Fortune, Buffett – actualmente com 86 anos – disse que esperava escrever "bastante" sobre investimento passivo.
O investidor, considerado um dos melhores do mundo, defende que a maioria dos investidores em acções terão melhores resultados com fundos de índices de baixo custo do que a pagarem elevadas comissões a gestores que muitas vezes apresentam um desempenho abaixo do mercado, salienta ainda a agência noticiosa britânica.
E Buffett sabe do que fala. As acções da Berkshire valorizaram 23,4% em 2016, superando assim a performance do mercado. E se analisarmos no mais longo prazo, a escalada é exuberante: nos quase 52 anos em que Buffett está à frente da empresa, esta gerou perto de 2.000.000% de ganhos. Sim, leu bem: dois milhões.
Segundo a Reuters, o investidor poderá também falar no sábado sobre o que pretende fazer com o dinheiro que estava destinado à compra da Unilever por parte da Kraft Heinz (da qual a Berkshire é accionista). Tendo o negócio ficado gorado, será altura de pensar noutras aquisições.
E, neste aspecto, o Morgan Stanley tem uma ideia: a aviação. Com efeito, na quinta-feira, 22 de Fevereiro, analistas do Morgan Stanley sublinharam numa nota de "research" que o mais recente historial de aquisições por parte de Buffett aponta para a possibilidade de o investidor poder estar a preparar-se para comprar uma companhia aérea.
Buffett comprou recentemente participações accionistas nas quatro maiores transportadoras aéreas dos EUA e o Morgan Stanley vê essas aquisições em larga escala como uma possibilidade de a Berkshire se posicionar no sector para avançar para uma aquisição total.
Outro tema que poderá ser igualmente abordado este fim-de-semana – porque Buffett não fala apenas de finanças – é o de Donald Trump na presidência. "Trump poderá ser também um foco de Buffett, que foi um aberto apoiante de Hillary Clinton", refere ainda a Reuters.
Buffett, o guru da bolsa
Warren Buffett construiu a Berkshire Hathaway ao longo de várias décadas, a partir de uma fabricante têxtil que tinha entrado em processo de falência, transformando-a numa poderosa empresa com uma enorme diversificação das áreas de negócio, desde os seguros à energia, passando pelos bens de consumo e pelo fabrico de doçaria.
O multimilionário alcançou estes resultados através de uma filosofia de gestão que se focaliza na importância dos resultados financeiros trimestrais e que dá autonomia aos directores das mais de 80 subsidiárias da Berkshire.
Entre alguns dos seus ensinamentos e conselhos mais célebres está um que deu quando tinha 21 anos. E provou estar certo, pois hoje é um dos homens mais ricos do mundo: "Tenham medo quando todos estiverem a ser gananciosos. Sejam gananciosos quando todos estiverem com medo".
Sobre a qualidade das empresas onde investir, defende que "se não considerarmos a possibilidade de deter um determinado título durante 10 anos, não devemos detê-lo nem por 10 minutos". Já sobre a relatividade do preço das acções lembra que "é melhor pagar um preço razoável por uma óptima empresa do que pagar um óptimo preço por uma empresa razoável".
Gosta de dizer que o seu período de tempo favorito para deter uma acção é "para sempre" e ensina aos seus "acólitos" que avalia as empresas com base na sua estabilidade, na sua vantagem competitiva e naquilo que ele pensa que elas valerão no futuro, em vez de tentar identificar quando é que as acções estarão ao preço mais baixo para as comprar.
Recorde-se que Buffett só investe em empresas que possuam vantagem competitiva duradoura. Para descobrir quais são, analisa as demonstrações financeiras ao detalhe: a demonstração de resultados, o balanço e a demonstração dos fluxos de caixa, também conhecida como "mapa de cash flow".
É conhecido por dizer que os seus investimentos não se baseiam num sector ou indústria em particular, mas sim em cada empresa que valha a pena. "Simplesmente procuro empresas que operem em áreas que eu compreenda e que me pareçam bem posicionadas dentro de cinco ou dez anos. Não procuro sectores específicos".
Buffett, o homem
Diz que é capaz de comer sandes de presunto durante 50 dias seguidos. Quando gosta de uma coisa, gosta mesmo e não enjoa. Chama-se Warren E. Buffett e é este o homem que está do outro lado do investidor. As regras que aplica nos investimentos, segue-as também na sua vida pessoal. E, até agora, saiu-se bem.
É, de facto, um homem de hábitos. Ainda mora na mesma casa no bairro de Dundee, em Omaha (no Estado do Nebraska), que comprou em 1958 por 31.500 dólares. "Todos os dias, exactamente às 8h30, senta-se na escrivaninha que pertenceu ao seu pai, Howard, para começar o dia. No trabalho, passa o dia a negociar e a ler o que acontece no mercado financeiro, incluindo relatórios diários do desempenho das suas empresas. E regressa a casa sempre às 17h30", conta a revista Época.
Considera-se uma pessoa simples e pauta a sua vida por isso. "Tenho prazeres simples. Jogo bridge online 12 horas por semana. E jogo com Bill Gates", confessou um dia.
No livro "Efeito Bola de Neve - a biografia de Warren Buffett, o maior investidor do mundo " [Actual Editora, 2009], escrito por Alice Schroeder, revela que gosta de comer sempre as mesmas coisas. "Poderia comer sandes de presunto 50 dias seguidos", diz. E conta que come em sequência, uma coisa de cada vez, pois não gosta que os elementos se misturem no prato. Entre as suas preferências estão os hambúrgueres, pipocas, gelado de chocolate com pedaços e Cherry Coke – uma versão da Coca-Cola com sabor a cereja.
Nascido a 30 de Agosto de 1930, é o segundo de três filhos de Leila e Howard Buffett e tem Doris e Bertie como irmãs. O pai foi corretor da bolsa e membro do Congresso norte-americano, e o avô paterno era dono de uma loja de géneros alimentícios em Omaha.
Desde criança que demonstrou interesse em fazer e guardar dinheiro, relata a Wikipedia. E sempre revelou grande habilidade com os números, acrescenta a Infomoney. Aos seis anos já comprava garrafas de Coca-Cola na loja do avô e depois ia vendê-las de porta em porta, conseguindo gerar algum lucro. Hoje é um dos accionistas da bebida que tanto aprecia.
O sucessor
Buffett, que é também o maior accionista da Berkshire, tem referido muitas vezes que a próxima geração de líderes da empresa deverá repartir as suas incumbências entre um CEO, vários gestores de investimento e o seu filho Howard, um agricultor e filantropo que tem assento na administração da companhia desde 1993 e que é o guardião do património da empresa. Howard é o filho do meio dos três filhos de Warren.
O seu sucessor na presidência executiva da Berkshire está já identificado desde 2009, conforme anunciou em Março de 2012 na célebre carta aos seus accionistas. No entanto, Buffett continua sem dizer o seu nome. Mas já disse que será alguém com experiência na gestão de uma grande empresa, não um investidor".