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O grande conselho, a aposta e as “comissões que nunca dormem”, segundo Buffett
O Oráculo de Omaha tem um conselho simples para os investidores. Comprar um simples e barato fundo de índice para evitar os produtos com "comissões que nunca dormem" e que pouco rendem.
Warren Buffett é considerado por muitos como o investidor mais bem-sucedido da História. E é frequente o Oráculo de Omaha ser questionado sobre qual a melhor forma de fazer dinheiro na bolsa. A resposta tende a ser sempre a mesma, mas há uma diferença entre os que seguem a recomendação e os que a ignoram.
"Ao longo dos anos, é frequente ser questionado sobre conselhos de investimento, e no processo de responder aprendi bastante sobre o comportamento humano. A minha recomendação mais regular tem sido a de se ter um fundo de baixo custo do índice S&P 500", revela Buffett na carta anual aos investidores, divulgada este fim-de-semana. O investidor diz "que os meus amigos que apenas têm meios modestos têm, geralmente, seguido a minha sugestão".
Mas o comportamento dos investidores que têm mais poder de fogo é diferente. "Acredito, no entanto, que nenhum dos indivíduos mega-ricos, institucionais ou fundos de pensões tenha seguido o mesmo conselho. Em vez disso, estes investidores agradecem-me polidamente pelas minhas perspectivas e partem para ouvir o canto da sereia de gestores com elevadas comissões e, no caso de muitos institucionais, procuram outro tipo de ajudante chamado consultor".
E, segundo Buffett, isso deve-se à natureza humana. "Os ricos acostumaram-se a sentir que têm de ter a melhor comida, educação, entretenimento, imobiliário, cirurgias plásticas, bilhetes para eventos desportivos. O seu dinheiro, sentem, deve comprar algo superior ao comparado com o que é disponibilizado para as massas".
A aposta e as "comissões que nunca dormem"
E quem fez mais dinheiro no mercado? Os que optaram por um barato fundo a replicar o S&P 500 ou os grandes institucionais rodeados de gestores e consultores bem pagos? Buffett não tem dúvidas. Replicar o índice traz mais ganhos que recorrer a gestores e a consultores. E fez mesmo uma aposta de 500 mil dólares em como tinha razão.
Há muitos anos que Buffett defende que apostar em produtos de gestão activa é um bom negócio para quem os vende, mas não para quem os compra. O Oráculo de Omaha disponibilizou-se mesmo a apostar 500 mil dólares em como um simples fundos de índice bateria um conjunto de produtos sofisticados. E encontrar quem aceitasse entrar na aposta para provar o contrário não foi fácil.
"Estes gestores que urgem os outros a apostar milhões de milhões nas suas capacidades, porque deveria recear colocar um pouco do seu dinheiro em jogo?", pensou Buffet. Mas o que se seguiu, segundo o líder da Berkshire Hathaway, foi "o som do silêncio". "Apesar de existirem milhares de gestores de investimento profissionais que acumularam fortunas extraordinárias a promoverem as suas proezas na selecção de acções, apenas um homem – Ted Seides – aceitou o desafio".
Ted Seides é gestor da Protégé Partners, uma entidade especializada em investir em fundos de fundos. Para o desafio com Buffet, que se iniciou em 2008, Seides escolheu cinco fundos que investem em "hedge funds" para tentar bater o S&P 500.
O resultado, segundo Buffett? Nos primeiros nove anos da aposta, "os cinco fundos de fundos renderam em média, até 2016, uma taxa composta anual de apenas 2,2%. Isso significa que por cada milhão de dólares investidos nestes fundos teria um ganho de 220 mil dólares. O fundo de índice, por seu lado, teria ganho 854 mil dólares".
E ao mesmo tempo que têm resultados abaixo do mercado, os gestores de "hedge funds" recebem generosas comissões. "Ou como Gordon Gekko poderia colocar o assunto: ‘As comissões nunca dormem’". A conclusão de Buffett: "Quando biliões de dólares são geridas por Wall Streeters que cobram comissões elevadas, geralmente são os gestores a colher os lucros, não os clientes. Tanto os grandes como os pequenos investidores devem ficar com fundos de índice com baixas comissões".
O dinheiro e a experiência
Apesar de considerar que provou que no que diz respeito ao investimento, o melhor é não fazer nada do que ir em mensagens sofisticadas de investimento, Buffett considera que o "comportamento humano não irá mudar. Os indivíduos ricos e os fundos de pensões irão continuar a sentir que merecem algo ‘extra’ de aconselhamento financeiro".
E o resultado, segundo Buffett, tenderá a ser o do adágio que diz "quando uma pessoa com dinheiro conhece uma pessoa com experiência, a que tem experiência fica com o dinheiro e a que tem o dinheiro fica com a experiência".