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BES regista prejuízos históricos de 3,57 mil milhões de euros no semestre

O prejuízo do Banco Espírito Santo supera os 3,5 mil milhões de euros nos primeiros seis meses do ano. O banco, em comunicado, diz que o valor se deve a factores extraordinários. Só em imparidades, o BES contabilizou 4,3 mil milhões.

Sara Matos/Negócios
30 de Julho de 2014 às 21:19
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O prejuízo do Banco Espírito Santo alcançou os 3.577,3 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, acima dos cerca de 3.000 milhões de euros que circulavam na última semana.

 

"Factores de natureza excepcional ocorridos durante o corrente exercício determinaram a contabilização de prejuízos, de imparidades e de contingências que se reflectiram num prejuízo de 3577,3 milhões de euros (-3488,1 milhões de euros no 2º trimestre)", diz o comunicado emitido pelo banco liderado por Vítor Bento, publicado no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

 

O banco avança com várias razões para que se tenha verificado este agravamento das contas, já que, no primeiro semestre de 2013, o resultado líquido tinha sido negativo, mas apenas na ordem dos 237,4 milhões de euros. Sem tais efeitos extraordinários, refere o comunicado, o prejuízo do banco seria de 255,4 milhões de euros (ainda assim, mais agravado que o homólogo).

 

Uma das principais questões para este resultado negativo histórico é a constituição de provisões (dinheiro colocado de parte de modo a assegurar eventuais perdas futuras) com o objectivo de "fazer face à exposição perante as empresas do Grupo Espírito Santo". Por exemplo, a exposição à sociedade Espírito Santo International (que pediu protecção de credores) foi agravada.

 

Mas a unidade de Angola também prejudicou as contas, nomeadamente através da "anulação dos juros incobráveis sobre o crédito concedido no BES Angola" e da "constituição de provisões para contingências fiscais". O BES Angola verificou prejuízos de 355 milhões de euros.

 

O "agravamento da carteira de crédito" e o "reconhecimento da imparidade na participação na Portugal Telecom" (que perdeu grande parte do seu valor em bolsa) são outros dos factores referidos pelo documento emitido pelo banco.

 

No seu todo, o custo das imparidades e contingências somou 4.253,5 milhões de euros.

 

"O conselho de administração acredita que o reforço [de imparidades] realizado fortalece o balanço [e] cria condições para a recuperação económica do grupo", aponta o comunicado. Além disso, a equipa de administração acredita que também será capaz de mitigar "os futuros impactos" da avaliação que o Banco Central Europeu (BCE) está a fazer às contas dos bancos europeus.

 

Produto bancário afectado pelo BESA

 

Nos primeiros seis meses do ano, o produto bancário comercial do banco, que serve de base para as receitas obtidas, ficou-se nos 619,9 milhões de euros, 23,8% abaixo do verificado entre Janeiro e Junho de 2013. Uma descida determinada "pelos ajustamentos contabilísticos realizados no BESA". O BES refere, contudo, que a variação sem estes efeitos extraordinários que condicionaram o semestre foi positiva (um crescimento homólogo de 6,6%%), chegando aos 867,1 milhões de euros.

 

O produto bancário (que, ao contrário do comercial, tem incluído o efeito de operações financeiras) foi negativo em 356 milhões de euros, quando havia sido positivo nos primeiros seis meses do ano.

 

Por sua vez, os custos operativos do banco, que durante o primeiro semestre foi gerido por Ricardo Salgado, subiram 5,7% para os 594,8 milhões de euros. Razões: "custos com as reformas antecipadas de 139 colaboradores e alterações no perímetro de consolidação".

 

Daí que o resultado bruto da instituição financeira tenha ficado num valor negativo de 331 milhões de euros (419 milhões no primeiro semestre). Só que foram reconhecidas provisões, ou seja, 4.253,5 milhões de euros foram colocados de lados e assumidos como perdidos, já que se espera que seja necessário utilizá-los no futuro.

 

Daí que o resultado após o impacto fiscal e a contribuição para o sector bancário (esta última foi de 16,4 milhões no semestre) se tenha fixado no prejuízo de 3.577,3 milhões de euros.

 

Rácio de solidez financeira abaixo do mínimo exigido

 

Com o reforço de imparidades, e mesmo depois do aumento de capital de 1.045 milhões de euros realizado em Maio, o BES apresenta um rácio de solidez financeira abaixo do mínimo exigido (o que o vai obrigar a um reforço de capital).

 

O rácio "common equity tier 1 (‘phased-in’), utilizado para um período transitório para a adequação às normas europeias, estava em 5% a 30 de Junho de 2014. O número é inferior aos 7% exigidos pelo Banco de Portugal.

 

Depósitos descem 5%

 

Os depósitos de clientes no BES desceram 5,2% nos primeiros seis meses de 2014 para um total de 35.932 milhões de euros, de acordo com o comunicado. Um movimento que ocorreu num altura em que o crédito a clientes (bruto) subiu muito ligeiramente (0,3%) para 51.281 milhões de euros. O rácio de crédito líquido sobre depósitos (de transformação) caiu de 129% em Março para 126% em Junho.

 

O crédito vencido há mais de 90 dias representava, no final de Junho, 6,4% do crédito total a clientes (5,1% em Junho de 2013). Já as provisões para crédito cobriam 164% do crédito vencido a 90 dias quando, um ano antes, o indicador encontrava-se em 120,4%. 

 
Vítor Bento não se responsabiliza por perdas

A equipa de gestão que foi nomeada recentemente para liderar o banco (Vítor Bento, João Moreira Rato e José Honório) quis esclarecer que não participou na elaboração nem na aprovação dos resultados relativos ao primeiro semestre, um "período anterior ao do respectivo início de funções enquanto administradores".

 

Além disso, também é referido que o conselho de administração "está empenhado em apurar todos os factos que conduziram à necessidade de proceder a este conjunto adicional de provisões". Nomeadamente, "eventuais comportamentos ilícitos"

(Notícia actualizada às 22h20 pela última vez com mais informações)

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