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A banca no olho do furacão da revolução digital

A digitalização está a mudar a relação dos clientes com os bancos, o modelo de negócio tradicional tem os dias contados e só os que forem capazes de se adaptar conseguirão sobreviver.

André Veríssimo averissimo@negocios.pt 26 de Setembro de 2018 às 09:00
"A banca universal como a conhecemos está morta", sentencia António Ramalho, presidente executivo do Novo Banco, a propósito das mudanças que a digitalização está a forçar na actividade bancária e que serviram de mote para a conferência "Banca do Futuro", organizada pelo Negócios, em parceria com a Claranet e a Cuatrecasas, que decorreu esta terça-feira no Hotel Ritz.

Essa transformação é já uma realidade e manifesta-se de múltiplas formas. A relação quase exclusivamente digital que muitos clientes já privilegiam, o fecho de balcões, as novas regras e infra-estruturas de pagamentos, o "open banking", o surgimento e crescimento de um grande número de start-ups mais ágeis e flexíveis e dispostas a concorrer com os grandes bancos, a ameaça crescente das "bigtechs", a inteligência artificial, o "machine learning"... a lista podia continuar.

 "Estarão os bancos condenados a uma redução progressiva da sua dimensão e do seu valor acrescentado, tornando-se ‘backoffices’, ou poderão ser actores no mercado global na era digital?" A questão é lançada pelo governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e na resposta a ela se jogará a relevância dos bancos portugueses.

Os presidentes executivos  da banca que foram oradores na conferência estão optimistas, com a noção de que o caminho não será fácil. Os bancos têm de ser mais ágeis na resposta às necessidades dos clientes  – salientou Miguel Maia – e munir-se de talento humano adequado para o conseguir. Obrigatório é também investir em tecnologia, e estão a fazê-lo, na ordem das dezenas de milhões. Todos concordam que as parcerias, nomeadamente com as "fintech", são um caminho a seguir.

A ameaça das "bigtech"
Já as "bigtech" são uma ameaça a ter em conta. Pablo Forero, do BPI, assinalou a importância da escala e o impacto tremendo que a entrada de empresas como a Amazon, o Facebook ou a Google pode ter nas regras do jogo.

Neste campo, há uma preocupação comum: a existência de um "level playing field" que não distorça a concorrência ao impor uma carga regulatória mais pesada aos bancos incumbentes: uma ideia muito sublinhada por Paulo Costa Martins, sócio da Cuatrecasas. E uma vantagem: o conhecimento local e a confiança dos clientes.

A digitalização também tem riscos. António Miguel Ferreira, "managing director" da Claranet, assinalou os riscos cibernéticos e a necessidade de se investir em cibersegurança. Algo também assinalado pelo regulador.

O fim dos balcões?
"À medida que grandes ‘players’ totalmente digitais entram no mercado, e garantem licenças para operar em livre prestação de serviços, começa-se a questionar até quando será necessária uma rede de balcões como a que ainda caracteriza os sistemas bancários de vários países europeus?", questiona mais uma vez Carlos Costa, que antecipa uma mudança na experiência do cliente nestes espaços.
Os riscos de exclusão aumentam. O secretário de Estado Adjunto e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, deixou um apelo: "O avanço tecnológico não pode criar novos excluídos." Paulo Macedo anunciou que a inclusão digital será uma das prioridades da Caixa.

A banca universal está morta, há novos modelos de negócio a emergir e a estrutura do sector vai continuar a mudar. A consolidação será um dos agentes: Carlos Costa não tem dúvidas de que haverá uma "aceleração de movimentos de concentração bancária transfronteiriça".

Para tantos desafios, Mourinho Félix deixa uma nota de confiança: "Acredito que temos em Portugal bons gestores bancários, atentos ao futuro e que vão saber decidir estrategicamente o melhor para as suas instituições."
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