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Negócios com o dedo de Governos? Trabalhadores da CGD apontam cinco casos

O presidente do sindicato dos trabalhadores da CGD, em entrevista ao jornal i, enumera cinco negócios que se terão feito com interferência política. De Cavaco até aos dias de hoje.  

Cátia Barbosa/Negócios
Negócios 22 de Junho de 2016 às 12:29
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Ao longo dos anos a CGD fez um conjunto de operações que só poderiam ter sido feitas "com a conivência ou, nalguns casos, até a própria orientação da tutela. Quem o diz é João Lopes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do grupo CGD, que, em entrevista concedida esta quarta-feira ao jornal i, enumera algumas.

 

1. Aquisições no Brasil e Espanha
"No Governo de Cavaco Silva, a Caixa avançou para a compra de um banco no Brasil. um banco que só por si era maior do que a Caixa". Avançou também para a compra de três bancos em Espanha.


Cavaco Silva foi primeiro-ministro entre 1985 e 1995. Foi neste período que a CGD apostou forte no Brasil, com a aquisição do Banco Bandeirantes. A instituição financeira brasileira foi deficitária durante vários anos e o banco estatal português só vendeu o banco brasileiro em 2000. Em troca deste activo ficou com 12,3% do Unibanco, actualmente um dos maiores bancos brasileiros (na altura era o terceiro). Hoje a presença no Brasil é bem mais residual e resume-se à presença directa através do Banco Caixa Geral – Brasil (Brasil).

 

O mercado espanhol foi também uma dor de cabeça para as contas da CGD, mas mais recentemente. O banco estatal também ganhou dimensão no mercado vizinho ainda no século passado.   

 

João Lopes assinala que se o processo foi "importante ou se foi desastroso, isso já ninguém vai pedir satisfações".

 

 

2. Em empréstimo ao genro de Onassis
A Caixa emprestou dinheiro ao genro de Onassiss, Theirry Roussel, para fazer uma plantação de flores perto da zona de Odemira. A operação foi realizada durante o governo de Cavaco Silva, e revelou-se um "trágico negócio em que o banco perdeu uns largos milhões.

Segundo noticiou o Correio da Manhã em 2004, Thierry Roussel terá ficado a dever mais de 15 milhões de euros à CGD sem nunca ter saldado a dívida, o que ‘chamuscou’ a presidência de Oliveira Pinto e Rui Vilar à frente do banco público.

 

3. Empréstimos a Joe Berardo
"A Caixa fez uma intervenção que serviu claramente para influenciar a gestão do BCP no tempo de Jardim Gonçalves, emprestando dinheiro a João Berardo, ficando como garantia as acções do baco que hoje em dia não valem nada".

 

A CGD teve um papel activo na luta pelo poder no BCP, tendo financiado a tomada de posição de vários accionistas no banco fundado por Jardim Gonçalves. Ao empresário madeirense concedeu empréstimos de cerca de 350 milhões de euros, que tinham acções do BCP como garantia. Devido à forte desvalorização dos títulos e como Berardo não estava a rembolsar o empréstimo, o banco público foi obrigado a executar a garantia e a vender as acções do BCP. 

"Ninguém é louco ao ponto de pôr centenas de milhões de eurosnas mãos de uma pessoa, aceitando como garantia as acções de outro banco", refere João Lopes, que está convencido que "alguém esteve por trás para dizer à administração para o fazer". José Sócrates era o primeiro-ministro na altura.

 

4. Apoio a Jardim Gonçalves
"Quando Jardim Gonçalves atacou a compra de activos de Champalimaud, tentando dar um passo maior que a perna", a Caixa esteve lá para garantir financiamento.

 

João Lopes acusa a tutela da altura de ter dado ordens à gestão da CGD para apoiar o BCP neste processo. O primeiro-ministro na altura era António Guterres. 

 

5. Accionista do BCP
A Caixa chegou a ser o maior accionista do BCP, num investimento em que se estima ter perdido mais de mil milhões de euros no negócio.

Além de ter financiado a compra de acções do BCP por parte de vários accionistas, o banco estatal também comprou acções do banco e teve um papel relevante na luta pelo poder que assolou o banco. A CGD foi reduzindo a posição no BCP ao longo de vários anos, que penalizaram as contas do banco à medida que as acções do BCP foram perdendo valor em bolsa. 

"Alguém deu a orientação para se fazer isso e depois resultou numa tragédia de prejuízos", acusa João Lopes. 

 

6. Empréstimo para Vale de Lobo
A polémica compra de Vale de Lobo, que agora está a ser investigada no âmbito da Operação Marquês, também pode ser um desses casos. A  decisão pode ter partido da própria administração, "que considerou a operação como um negócio rentável, ou pode ter existido realmente uma indicação por parte da tutela", diz. 

 

Ao longo da entrevista, o dirigente sindical considera que a CGD está a ser usada como "arma de arremesso político" e lamenta o avanço da comissão parlamentar de inquérito, que "vai ser um problema sério e vai ter consequências imprevisíveis".

 

Lamenta ainda que a nova administração tarde a assumir funções e considera irresponsáveis as notícias que dão como certa a necessidade de redução de dois mil funcionários, alegadamente através de reformas antecipadas. 

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