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Cavaco pós-político deixa as munições em casa

O livro é ácido, mas a apresentação foi suave. O antigo Presidente da República justificou a publicação com uma "prestação de contas" aos portugueses e garantiu que sempre agiu na defesa do interesse nacional.

16 de Fevereiro de 2017 às 20:33
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"Prestar contas." Duas palavras que resumem o discurso de Aníbal Cavaco Silva, durante a apresentação do seu livro "Quinta-feira e Outros Dias". Numa sala a abarrotar no Centro Cultural de Belém, esta quinta-feira, 16 de Fevereiro, poupou nas críticas e concentrou-se nos motivos que o levaram a escrever este primeiro relato da sua experiência como Presidente da República. Esta, frisou, é a sua vida pós-política.

Depois de se conhecerem alguns excertos do livro - pouco lisonjeiros para com José Sócrates -, havia expectativa que os recados pudessem ter continuidade na apresentação da obra. No entanto, Cavaco Silva absteve-se de comentários mais contundentes, concentrando-se nos motivos que o levaram a escrever este primeiro volume de quase 600 páginas do seu tempo em Belém, que se estende até ao início da legislatura PSD/CDS.

"Sempre fiz questão de prestar contas. Foi assim quando exerci funções de ministro das Finanças, de primeiro-ministro… Quando terminei, publiquei livros", afirmou, perante uma plateia com várias figuras políticas da direita, como Pedro Passos Coelho. "Este livro é, em primeiro lugar, uma prestação de contas aos portugueses pela forma como exerci as funções de Presidente da República."

Os conteúdos mais destacados do livro têm sido as divergências com José Sócrates, assumindo por exemplo que desconfiava das boas notícias que o ex-primeiro-ministro lhe trazia para as reuniões semanais, à quinta-feira. O dia da reunião com o chefe de Governo dá título ao livro, até porque o Presidente considera essas reuniões "a via mais eficaz para influenciar o processo político". O relato dessas quinta-feiras é "fundamental para compreender o tempo conturbado da política nacional nos dez anos em que fui Presidente da República", acrescentou.

No livro, Cavaco Silva acusa José Sócrates de "fingimentos", "mentiras" e "falta de lealdade", mas hoje não se ouviu o nome do antigo líder do PS. Apenas de forma indirecta e não pela boca do ex-Presidente. Manuel Braga da Cruz, encarregado de apresentar o livro lembrou que Cavaco Silva "não se cansou de chamar a atenção para os graves riscos orçamentais […] que levaram o país à intervenção externa", afirmou o antigo reitor da Universidade Católica, tendo também, movido pelo "superior interesse nacional" impedido "investimentos ruinosos, como o novo aeroporto ou a terceira travessia do Tejo". Ainda assim, fez questão de notar que o livro é para prestar contas, "não é um ajuste de contas". 

Cavaco Silva sublinhou que "teve uma preocupação permanente com o rigor dos factos" e que pretende que, com este livro, os portugueses possam fazer "um juízo esclarecido e objectivo da forma como procurei defender o interesse nacional".

Deixou vários agradecimentos. Da família - em especial a mulher, Maria Cavaco Silva – à equipa da Casa Civil. Mas quis deixar uma última palavra aos portugueses. "Servir o povo português na Presidência da República foi uma dádiva que Deus me deu", frisou. "Considero-me um homem de sorte. Mas a sorte deu muito trabalho."

E numa espécie de fechar de capítulo sublinhou o fim da sua vida política. "Este foi o primeiro acto público do período pós-político da minha vida. Pós-político que continuará a ser até ao fim dos meus dias."

Talvez seja. Mas ainda falta o segundo volume.

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