Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Cavaco elogia Sócrates: "Não se deixou capturar pelo PCP e BE"

No livro "Quinta-feira e outros dias", o antigo Presidente da República desfere várias críticas a José Sócrates, mas termina-o com um elogio: "Não se deixou capturar pelo PCP e BE". "Sempre o vi bem consciente de que o caminho defendido por esses partidos seria desastroso para Portugal e para os Portugueses". Crítica implícita a Costa? Saberemos mais no próximo livro.

Miguel Baltazar/Negócios
16 de Fevereiro de 2017 às 16:29
  • ...
Foram 188 reuniões com o primeiro-ministro José Sócrates, e o seu relato ocupa boa parte das quase 600 páginas de "Quinta-feira e outros dias", livro escrito por Aníbal Cavaco Silva, publicado também nesta quinta-feira, 16 de Fevereiro. Nele, o antigo Presidente da República desfere várias e severas críticas a Sócrates, mas termina-o com um "reconhecimento": "Não se deixou capturar" pela extrema-esquerda.

"Como acontece nas verdadeiras reuniões de trabalho, umas vezes estávamos de acordo, outras não. (...) Mas devo reconhecer que, na definição e execução das políticas económicas e sociais, o Primeiro-Ministro não se deixou capturar pelo Partido Comunista Português (PCP) ou pelo BE", escreve Cavaco Silva. 

"Sempre o vi bem consciente de que o caminho defendido por esses partidos seria desastroso para Portugal e para os Portugueses. O modelo leninista que querem implementar só tem gerado miséria e totalitarismo".

"A verdade é que não existe na Europa, nem tão-pouco no mundo, qualquer país que seja desenvolvido e que registe um caminho de sucesso tendo partidos da extrema-esquerda a determinar a condução da política económica", acrescenta o antigo Presidente, num elogio a Sócrates que pode ser também lido como uma crítica implícita a António Costa e à actual aliança do PS com os comunistas e bloquistas, capítulos que – deixa entender – farão parte de um seu provável segundo livro.

"Se o PCP e o BE tivessem tido influência nas decisões, promovendo a estatização da sociedade, a correcção dos desequilíbrios económicos e financeiros teria sido igualmente inevitável, mas muito mais penosa" (…) e a herança deixada pelos governos a que presidiu teria sido muito pior".

Estas considerações são feitas no contexto do relato da "última quinta-feira" em que se reuniu em Belém com Sócrates ainda primeiro-ministro. "Apesar da fama que lhe era atribuída, foram relativamente poucas as vezes em que o Primeiro-Ministro se exaltou no decorrer das reuniões e, na maior parte delas, aconteceu quando se referia a personalidades da oposição, do jornalismo, dos sindicatos ou da justiça".

O capítulo termina, porém, lamentando as declarações deste depois de ter deixado o cargo. "José Sócrates atacou-me com frequência como Presidente da República, utilizando, por vezes, linguagem imprópria para um ex-Chefe do Governo de Portugal. Tal como a outros, ignorei-o. Entendi que não era merecedor de qualquer resposta".

Próximo volume sobre Costa?

As referências ao actual primeiro-ministro são escassas. Mas mesmo no final do livro, Cavaco afirma que, com a solução de governo de António Costa, passou a partir do Outono de 2015 a estar "mais contido" sobre as perspectivas da economia portuguesa "sem no entanto adoptar um discurso pessimista".

O antigo Presidente recorda que, até então, acreditava que estavam "perfeitamente ao alcance do país" défices inferiores a 3% sem medidas extraordinárias (o indicador ficou em 4,4% do PIB em 2015, com 1,4 pontos percentuais a deverem-se à banca, essencialmente ao custo de resolução do Banif; e terá ficado em 2,1% em 2016, em parte devido medidas extra, como o perdão fiscal), assim como um crescimento de 1,6% em 2015 (como se verificou), de 2% em 2016 (ficou em 1,4%) e de 2,4% nos anos seguintes (no OE de 2017, Mário Centeno assume como mais provável 1,5% mas a imprensa tem noticiado que o ministro das Finanças admite elevar em breve essa previsão).

"Deliberadamente, decidi não mencionar as grandes preocupações que, em relação à hipótese de um governo do PS apoiado pela extrema-esquerda, me tinham sido transmitidas pelas confederações patronais, pela UGT, pelos presidentes dos maiores bancos e por economistas que ouvira a propósito da formação do novo Governo". Mas, acrescenta Cavaco em jeito de promessa de novo livro, "essa é uma história que não faz parte deste volume…"




(notícia actualizada pela última vez às 17h40)

Ver comentários
Saber mais José Sócrates Aníbal Cavaco Silva Presidente da República Partido Comunista Português António Costa extrema-esquerda livro
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio