Notícia
Cavaco elogia Sócrates: "Não se deixou capturar pelo PCP e BE"
No livro "Quinta-feira e outros dias", o antigo Presidente da República desfere várias críticas a José Sócrates, mas termina-o com um elogio: "Não se deixou capturar pelo PCP e BE". "Sempre o vi bem consciente de que o caminho defendido por esses partidos seria desastroso para Portugal e para os Portugueses". Crítica implícita a Costa? Saberemos mais no próximo livro.
"Como acontece nas verdadeiras reuniões de trabalho, umas vezes estávamos de acordo, outras não. (...) Mas devo reconhecer que, na definição e execução das políticas económicas e sociais, o Primeiro-Ministro não se deixou capturar pelo Partido Comunista Português (PCP) ou pelo BE", escreve Cavaco Silva.
"A verdade é que não existe na Europa, nem tão-pouco no mundo, qualquer país que seja desenvolvido e que registe um caminho de sucesso tendo partidos da extrema-esquerda a determinar a condução da política económica", acrescenta o antigo Presidente, num elogio a Sócrates que pode ser também lido como uma crítica implícita a António Costa e à actual aliança do PS com os comunistas e bloquistas, capítulos que – deixa entender – farão parte de um seu provável segundo livro.
"Se o PCP e o BE tivessem tido influência nas decisões, promovendo a estatização da sociedade, a correcção dos desequilíbrios económicos e financeiros teria sido igualmente inevitável, mas muito mais penosa" (…) e a herança deixada pelos governos a que presidiu teria sido muito pior".
Estas considerações são feitas no contexto do relato da "última quinta-feira" em que se reuniu em Belém com Sócrates ainda primeiro-ministro. "Apesar da fama que lhe era atribuída, foram relativamente poucas as vezes em que o Primeiro-Ministro se exaltou no decorrer das reuniões e, na maior parte delas, aconteceu quando se referia a personalidades da oposição, do jornalismo, dos sindicatos ou da justiça".
Próximo volume sobre Costa?
As referências ao actual primeiro-ministro são escassas. Mas mesmo no final do livro, Cavaco afirma que, com a solução de governo de António Costa, passou a partir do Outono de 2015 a estar "mais contido" sobre as perspectivas da economia portuguesa "sem no entanto adoptar um discurso pessimista".
O antigo Presidente recorda que, até então, acreditava que estavam "perfeitamente ao alcance do país" défices inferiores a 3% sem medidas extraordinárias (o indicador ficou em 4,4% do PIB em 2015, com 1,4 pontos percentuais a deverem-se à banca, essencialmente ao custo de resolução do Banif; e terá ficado em 2,1% em 2016, em parte devido medidas extra, como o perdão fiscal), assim como um crescimento de 1,6% em 2015 (como se verificou), de 2% em 2016 (ficou em 1,4%) e de 2,4% nos anos seguintes (no OE de 2017, Mário Centeno assume como mais provável 1,5% mas a imprensa tem noticiado que o ministro das Finanças admite elevar em breve essa previsão).
"Deliberadamente, decidi não mencionar as grandes preocupações que, em relação à hipótese de um governo do PS apoiado pela extrema-esquerda, me tinham sido transmitidas pelas confederações patronais, pela UGT, pelos presidentes dos maiores bancos e por economistas que ouvira a propósito da formação do novo Governo". Mas, acrescenta Cavaco em jeito de promessa de novo livro, "essa é uma história que não faz parte deste volume…"
(notícia actualizada pela última vez às 17h40)