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Cavaco Silva: “Passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’” de Sócrates

Cavaco Silva descreve, no seu livro, os seus encontros semanais com os primeiros-ministros, realçando a preparação de Sócrates e o “rigor e verdade” de Passos. Depressa percebeu que as “boas notícias” que Sócrates trazia sempre eram “uma táctica” para iniciar a reunião, revela o Expresso.

O ex-Presidente da República Cavaco Silva lembrou o antigo chefe de Estado Mário Soares como uma das personalidades mais marcantes do século XX português, sublinhando a sua faceta de 'verdadeiro animal político'. 'A morte do doutor Mário Soares é um momento de profunda consternação para a generalidade dos portugueses. Foi indiscutivelmente uma das personalidades mais marcantes do século XX português', afirmou Cavaco Silva, numa declaração aos jornalistas no Convento do Sacramento, o gabinete de trabalho que ocupa desde que deixou a Presidência da República, em Março de 2016.
Apesar de reconhecer que em alguns momentos da vida política foi um adversário de Mário Soares, Cavaco Silva destacou as suas capacidades de 'verdadeiro animal político'.
'Sempre reconheci as capacidades políticas do doutor Mário Soares, como se dizia, um verdadeiro animal político, como eu tive oportunidade de testemunhar várias vezes', disse.
E, continuou, apesar de adversários em alguns momentos, isso não impediu que tivesse apoiado a sua recandidatura a Belém em 1991 e que elogiasse o seu contributo decisivo para a defesa da liberdade e da democracia.
Contudo, acrescentou, este não é o tempo de lembrar discordâncias do passado, mas de reconhecer a importância do contributo do antigo chefe de Estado para a democracia portuguesa, o trabalho que desenvolveu para a defesa dos ideais democráticos e 'reconhecer quanto Portugal deve ao político Mário Soares'. 'O seu contributo foi decisivo para a defesa da liberdade, para a defesa da democracia em momentos conturbados da vida nacional. O doutor Mário Soares esteve na primeira linha revelando uma coragem extraordinária na defesa da democracia pluralista e lutando contra todas as forças de opressão, de ditadura, de totalitarismo', declarou.
Cavaco Silva, que se encontrava no Algarve e viajou para Lisboa quando teve conhecimento da morte de Mário Soares, lembrou igualmente a visão estratégica revelada pelo ex-Presidente da República sobre a importância para o futuro de Portugal da adesão às comunidades europeias. Por isso, disse, hoje homenageia-se também um 'europeísta convicto, um homem que dedicou a maior parte da sua vida à defesa dos ideais republicanos e dos ideais democráticos'.
'Portugal deve-lhe muito, Portugal está de luto, os portugueses, todos os portugueses estou certo que hoje estão de luto, Portugal perdeu um dos maiores políticos do século XX', afirmou, transmitindo à família de Mário Soares as suas condolências e sentimentos de 'profundo pesar'.
Negócios 11 de Fevereiro de 2017 às 11:58
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"O primeiro-ministro José Sócrates, em geral, apresentava-se preparado para as reuniões. Tomava normalmente a iniciativa da conversa e notava-se que tinha pensado no que me queria dizer e que procurava antecipar as questões que eu lhe poderia colocar. Nos primeiros anos, foram muitas as vezes em que começou por me afirmar: ‘Hoje tenho boas notícias’. E avançava com números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma táctica de abertura do diálogo. Frequentemente, as palavras não se conformavam à realidade dos factos e passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’ do primeiro-ministro."

 

Esta descrição surge no 1.º capítulo do livro "Quinta-feira e outros dias", publicada este sábado pelo jornal Expresso.

 

Já Passos Coelho "apresentava-se geralmente sem uma preparação específica para as reuniões. Na maioria das vezes, esperava que fosse eu a abrir os temas que queria abordar e tinha tendência para se alargar nas respostas", afirma. "Fazia-o com uma preocupação de rigor e de verdade  e, quando não tinha conhecimento completo do assunto, dizia-o abertamente. Contrariamente a José Sócrates, nunca alterava o tom de voz, exibia uma permanente tranquilidade e era diligente no envio da informação que lhe solicitava."

 

Cavaco Silva recorda que Passos Coelho era sempre pontual, ao contrário de Sócrates. De tal forma que houve um dia que o primeiro-ministro socialista se atrasou tanto, sem ter avisado, que o Presidente da República pediu que informassem Sócrates "de que já não o receberia".

 

"Quinta-feira e outros dias" será lançado na próxima quinta-feira, 16 de Fevereiro, e é a primeira obra que o ex-Presidente da República vai lançar sobre as suas memórias. Cavaco Silva diz, no prefácio, citado pelo Expresso, que o livro pretende ser uma "prestação de contas aos portugueses".   

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