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Cavaco Silva: “Passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’” de Sócrates
Cavaco Silva descreve, no seu livro, os seus encontros semanais com os primeiros-ministros, realçando a preparação de Sócrates e o “rigor e verdade” de Passos. Depressa percebeu que as “boas notícias” que Sócrates trazia sempre eram “uma táctica” para iniciar a reunião, revela o Expresso.
"O primeiro-ministro José Sócrates, em geral, apresentava-se preparado para as reuniões. Tomava normalmente a iniciativa da conversa e notava-se que tinha pensado no que me queria dizer e que procurava antecipar as questões que eu lhe poderia colocar. Nos primeiros anos, foram muitas as vezes em que começou por me afirmar: ‘Hoje tenho boas notícias’. E avançava com números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma táctica de abertura do diálogo. Frequentemente, as palavras não se conformavam à realidade dos factos e passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’ do primeiro-ministro."
Esta descrição surge no 1.º capítulo do livro "Quinta-feira e outros dias", publicada este sábado pelo jornal Expresso.
Já Passos Coelho "apresentava-se geralmente sem uma preparação específica para as reuniões. Na maioria das vezes, esperava que fosse eu a abrir os temas que queria abordar e tinha tendência para se alargar nas respostas", afirma. "Fazia-o com uma preocupação de rigor e de verdade e, quando não tinha conhecimento completo do assunto, dizia-o abertamente. Contrariamente a José Sócrates, nunca alterava o tom de voz, exibia uma permanente tranquilidade e era diligente no envio da informação que lhe solicitava."
Cavaco Silva recorda que Passos Coelho era sempre pontual, ao contrário de Sócrates. De tal forma que houve um dia que o primeiro-ministro socialista se atrasou tanto, sem ter avisado, que o Presidente da República pediu que informassem Sócrates "de que já não o receberia".
"Quinta-feira e outros dias" será lançado na próxima quinta-feira, 16 de Fevereiro, e é a primeira obra que o ex-Presidente da República vai lançar sobre as suas memórias. Cavaco Silva diz, no prefácio, citado pelo Expresso, que o livro pretende ser uma "prestação de contas aos portugueses".