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Carris: vem aí outra TSU ou é só a geringonça a funcionar?
Depois da TSU, o PCP ameaça outro decreto aprovado em Conselho de Ministros: a passagem da Carris para a câmara de Lisboa. Os comunistas ainda não decidiram se vão mesmo pedir a revogação do processo, e para já o Governo diz-se tranquilo.
A descida da TSU foi o primeiro grande abalo na geringonça que suporta o Governo de António Costa no Parlamento. E o PCP acrescentou mais um possível foco de tensão à já extensa lista matérias em que não há consenso entre os parceiros da maioria parlamentar: a municipalização da Carris. Os comunistas pediram a apreciação parlamentar do decreto-lei que transfere a empresa para a câmara de Lisboa, mas ainda não decidiram o que vão fazer: se propor alternativas, se exigir a revogação de toda a operação.
A notícia surgiu este domingo, quando o Público escreveu que os comunistas surpreenderam o Executivo com este pedido de apreciação parlamentar. O PS, através do deputado João Paulo Correia, disse ao Negócios que já esperava esta iniciativa do PCP e diz que o partido está "convencido de que a municipalização é a melhor solução". Cabe aos comunistas "demonstrar que há uma solução melhor que esta", acrescenta, mostrando-se disponível para o diálogo.
Do lado do Governo, o episódio é visto com normalidade. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares não se mostra preocupado. "Estamos tranquilos com a iniciativa do PCP", disse ao Negócios.
Desta vez, o PS tem a companhia do Bloco de Esquerda, que já defendeu em público que apoia a passagem da Carris para a autarquia. Mas a posição do PSD é uma incógnita. O anterior Governo chegou a concessionar a empresa aos mexicanos da Avanza – e antes disso, em 2015, Passos Coelho travara a concessão da empresa à câmara de Lisboa. Não surpreenderia que, tendo de se pronunciar sobre o assunto, o PSD votasse pela cessação de efeitos da passagem da empresa para a autarquia.
Mas isso não é certo. O PCP ainda não decidiu se vai avançar com uma resolução para cessar os efeitos do diploma ou se vai apenas apresentar propostas de alteração. Esta segunda-feira, Jorge Frazão, dirigente do partido, disse que essa decisão "não está tomada". O agendamento da apreciação parlamentar será feito amanhã, em conferência de líderes parlamentares.
O que é certo, para já, é que amanhã a empresa passa mesmo para as mãos da câmara de Lisboa. Está até prevista uma cerimónia de manhã para assinalar a ocasião, em local ainda a confirmar, que vai contar com o presidente da câmara e com a administração da empresa.
Os sindicatos que representam os trabalhadores da Carris também estão divididos. De um lado, a Fectrans/STRUP (afecta à CGTP), que apoia a posição do PCP, e do outro o Sitra (afecto á UGT) que concorda com a municipalização. O secretário-geral deste último diz ao Negócios que considera "estranha" a posição do PCP. "No Barreiro [PCP] os transportes são geridos pela câmara e não consta que haja problemas", observa.
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Não será apenas a Carris a ameaçar a maioria de esquerda no Parlamento. Sexta-feira há pelo menos três outros possíveis focos de tensão.