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Foi há um ano que Mario Draghi abriu a torneira. E está prestes a fazê-lo de novo

O BCE aprovou as compras de dívida soberana há um ano. Uma medida pela qual os especialistas há muito apelavam, que tinham como objectivo evitar que a Zona Euro caísse na armadilha da deflação. A instituição continua ainda numa encruzilhada e já apontou o dedo à reunião de Março.

Bloomberg
22 de Janeiro de 2016 às 19:00
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Há precisamente um ano, o mundo financeiro parou para ouvir atentamente Mario Draghi. Todos os olhos estavam postos em Frankfurt, à espera que o "James Bond monetário", como o apelida agora o banco ING, desse o último tiro pelo qual todos esperavam. E Mario Draghi não desiludiu. O Conselho de Governadores do Banco Central Europeu aprovava, a 22 de Janeiro de 2015, as compras de activos em larga escala, nas quais se incluíam a dívida soberana. Um ano depois, Mario Draghi apontou a "bazuca" para Março e disse estar pronto a disparar ainda mais.

"Uma grande maioria dos membros votantes apoiou a decisão de lançar um programa expandido de compra de activos, que englobe (…) compras de activos denominados em euros emitidos por governos da Zona Euro e agências e instituições supranacionais", disse então Mario Draghi. Era uma conferência de imprensa apinhada de jornalistas, a segunda na nova sede do BCE. E muitos outros assistiram à distância, pela televisão ou pela internet.

Esta decisão veio pôr fim a um muro que dividia a Zona Euro. Há muito que países como a Alemanha e a Finlândia resistiam a esta medida e, segundo os rumores de então, também não a aprovaram. Mas foram vencidos por uma maioria, que olhou apenas para o mandato do BCE: uma inflação perto mas abaixo de 2% no médio prazo. E era esta a preocupação essencial, gritavam unanimemente os mais diversos especialistas. A Zona Euro podia, assim, recuperar definitivamente, apesar dos seis anos de atraso face à Reserva Federal dos EUA e ao Banco de Inglaterra.

Deste então, já passou um ano. Mas não foram apenas 12 meses e 365 dias. Mario Draghi enfrentou um corte na taxa de depósitos, dois abalos da China, oito reuniões, 700 mil milhões de euros em activos do sector público e infindáveis quedas do petróleo. Um cocktail cujos elementos explosivos obrigaram os economistas do banco central a reverem em baixa, por diversas vezes, as suas estimativas para a inflação na Zona Euro.

Mas um dia antes de as suas declarações comemorarem um ano, Mario Draghi teve de voltar a atacar. Admitiu que os riscos negativos tinham aumentado, tanto por causa do crescimento dos emergentes como da queda do petróleo. E por isso, disse, "será necessário rever e, possivelmente, reconsiderar a nossa política monetária" na reunião de 10 de Março. O presidente do BCE utilizou palavras semelhantes em Outubro. Em Dezembro, apresentou um novo pacote de estímulos à economia.

"Estes comentários dão um sinal muito mais claro de flexibilização monetária em Março, face ao que prevíamos", aponta Kenneth Wattret. Apesar de o economista-chefe do BNP Paribas salientar que nada está decidido, nota que "Draghi não quererá desiludir tão cedo, após a experiência de Dezembro, e prejudicar a sua credibilidade duas vezes em pouco tempo". Já Anatoli Annenkov atira que o BCE deverá cortar a taxa de depósitos para -0,40%. E mais compras de activos? "Será preciso um cenário muito pior para a economia", diz o economista sénior do Société Générale.

Vários especialistas excluem mesmo esta possibilidade. Contudo, ainda não há qualquer certeza sobre que medidas poderão ser aplicadas, caso venha a ser entendido que assim é necessário. Certo, por agora, é que a inflação ainda está muito longe do objectivo do BCE. Ascendia a 0,2% em Dezembro. E Mario Draghi terá que ter cuidado, pois a pressão do petróleo não tem dado descanso e a economia mundial não dá sinais de querer ajudar. Até quando continuará o "James Bond monetário" nesta batalha?

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