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Draghi admite mais estímulos já em Março
O presidente do BCE diz que as medidas estão a funcionar, mas os riscos negativos sobre o crescimento e a inflação da Zona Euro aumentaram. As equipas técnicas do BCE vão preparar-se para decisões de mais estímulos.
O BCE poderá avançar com mais estímulos monetários já em Março, admitiu quinta-feira, 21 de Janeiro, Mario Draghi, o presidente da instituição. As equipas técnicas do banco central vão estudar no próximo mês e meio as várias alternativas possíveis para que o BCE possa tomar uma decisão na reunião dedicada à política monetária, que decorrerá a 10 de Março.
O presidente do BCE entende que as medidas adoptadas até agora, incluindo o reforço de Dezembro (que estendeu o final do programa de compra de dívida pública de Setembro de 2016 para Março de 2017), foram adequadas. Mas a informação conhecida desde então desapontou, afirmou em Frankfurt, na conferência de imprensa, que se seguiu à primeira reunião do ano dedicada à política monetária na qual se decidiu a manutenção em mínimos das taxas de juros na Zona Euro.
"Será necessário rever e possivelmente reconsiderar a nossa posição da política monetária no início de Março, quando as novas projecções macroeconómicas do ‘staff’ forem disponibilizadas, e que cobrirão também 2018", afirmou.
Segundo Mario Draghi, os riscos sobre o crescimento da Zona Euro ficaram mais negativos e a inflação de Dezembro saiu abaixo do esperado. Assim, em Março, e já com as novas previsões actualizadas para a inflação e crescimento das equipas do BCE, os estímulos poderão ser reforçados.
Em reacção às declarações de Draghi as bolsas europeias reagiram em alta e o euro chegou a cair 0,9%. A possibilidade de mais estímulos por parte do BCE era já dada como provável por muitos analistas em Março ou Junho. Desde hoje ficou mais provável uma actuação já no primeiro trimestre, suportada por revisões em baixa das previsões de inflação do 'staff' do BCE.
BCE diz que não tem limites
Antecipando questões sobre possíveis divergências dentro do banco central sobre a implementação de mais estímulos, Draghi sublinhou que a linha de comunicação adoptada no arranque do ano foi "aprovada por unanimidade" e voltou à mensagem que já havia deixado em Dezembro: o BCE não tem limites na sua capacidade de estimular a economia da Zona Euro.
Para Holger Schmieding, economista-chefe do Banco Berenger, a mensagem foi cara: "O BCE reafirmou fortemente (...)[que] está preparado para actuar contra riscos negativos sobre as perspectivas de crescimento. Draghi tentou também lidar com as preocupações de que o BCE possa estar a ficar sem instrumentos para apoiar a procura", escreveu numa nota a clientes, destacando com possíveis armas um reforço do volume mensal de compras de activos (actualmente em 60 mil milhões de euros) e um corte adicional na taxa de juro que o BCE cobra aos bancos pelos depósitos em Frankfurt (actualmente em -0.3%).
Riscos aumentaram
A mensagem de Draghi foi de apreensão para a evolução dos últimos indicadores económicos e financeiros na região. Os riscos negativos para a economia da Zona Euro aumentaram, nomeadamente pela turbulência nas economias emergentes e em particular a situação na China. A queda nos preços do petróleo está a baixar a inflação mais do que se antecipava em Frankfurt: os preços na Zona Euro aumentaram apenas 0,2% em Dezembro. E as expectativas dos investidores quanto à evolução da inflação no médio prazo estão em queda, e abaixo do valor de 2% que, para o BCE, define a estabilidade de preços a médio prazo.
"Nós usamos uma variedade de medidas de expectativas de inflação. Todas baixaram. E o mais preocupante é que a correlação com os níveis actuais de inflação aumentou, e por isso a correlação com os preços do petróleo também aumentou", afirmou Mario Draghi, que respondeu também aos que defendem que não deveria dar tanto peso ao impacto do preço do petróleo.
O presidente do BCE não concorda: "Se fosse um efeito passageiro, nós ignoraríamos, mas não é isso que estamos a ver" no último ano afirmou, sublinhando que desde Setembro, os preços do petróleo já caíram 40%. "Preços baixos de mercadorias por um longo período de tempo podem ter efeitos negativos de segunda ordem" sobre outros preços e salários, puxando ainda mais pela inflação, defendeu. "Temos de estar muito vigilantes", defendeu.
(Última actualização às 16:50)