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Draghi despede-se com corte dos juros em setembro

Uma sondagem realizada pela Bloomberg junto de economistas revela consenso em relação à próxima mexida do BCE: um corte dos juros dos depósitos em setembro.

Reuters
27 de Junho de 2019 às 12:00
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A expectativa já vinha crescendo no mercado, mas Mario Draghi materializou-a na semana passada, ao admitir claramente que o Banco Central Europeu (BCE) poderá avançar com novos estímulos à economia, e que entre as ferramentas à disposição está uma descida dos juros.

Esta porta aberta pelo presidente do banco central já levou os economistas a reverem as suas projeções para a evolução dos juros na Zona Euro e a anteciparem agora que, em julho, o BCE deverá preparar o terreno e, em setembro, anunciar um corte nos juros dos depósitos (os juros que os bancos recebem ou pagam para depositar liquidez junto do BCE).

É esta a perspetiva da maioria dos economistas consultados pela Bloomberg, que acreditam que na reunião de 25 de julho, a autoridade monetária irá alterar a sua linguagem para sinalizar que os juros podem descer, já que neste momento a indicação é de que se manterão "nos níveis atuais pelo menos durante a primeira metade de 2020".

Segundo os economistas, dois meses depois, em setembro, o BCE deverá cortar a taxa dos depósitos – que já está em mínimos - em 10 pontos base para -0,5%. O HSBC antecipa um novo corte da mesma magnitude em dezembro, enquanto o ABN Amro vê uma nova descida só no início do próximo ano. No mercado monetário, as fichas também estão postas num corte de 10 pontos em setembro.


A confirmar-se, esta, que será a última decisão de peso de Mario Draghi à frente do BCE (o seu mandato termina a 31 de outubro), marcará uma viragem no rumo da política monetária na Zona Euro, que começava a seguir o caminho da normalização e a apontar para uma subida dos juros algures no próximo ano.

Contudo, e tal como sinalizou Mario Draghi no Fórum do BCE em Sintra, na semana passada, a incerteza prolongada, sobretudo devido às tensões comerciais, significa que os riscos negativos para o crescimento e inflação se materializaram, obrigando à redefinição das políticas.

A mesma mensagem tem surgido de vários responsáveis da Reserva Federal dos Estados Unidos, incluindo o presidente Jerome Powell, que admite agora um corte dos juros na maior economia do mundo, o primeiro desde a crise financeira, e que colocará um ponto final na série de aumentos iniciada em dezembro de 2015.   

Mas o BCE e a Fed não estão sozinhos nesta viragem: os bancos centrais de países como a Austrália, Rússia, Índia e Chile já inverteram a marcha para o caminho da flexibilização.  

O regresso do QE?

Se há um certo consenso em relação aos timings para a descida dos juros dos depósitos, o mesmo não acontece em relação a um possível regresso do programa de compra de ativos em grande escala. Este programa – o chamado "quantitative easing" – terminou no final do ano passado, depois de um volume de compras de obrigações de 2,6 biliões de euros desde 2015.

Entre os economistas que acreditam no regresso no programa, a expectativa é de que seja reiniciado no final deste ano, a um ritmo de 30 mil milhões de euros por mês, e com uma duração de 15 meses.

"O BCE precisa de vir em grande para ter impacto nos mercados", afirma Piet Christiansen, analista do Danske Bank, especializado em questões da Zona Euro e BCE. "Temos confiança de que o BCE vai cumprir", acrescenta o responsável, que prevê um corte de 20 pontos base nos juros dos depósitos e um anúncio do regresso do QE em setembro.

Contudo, os analistas lembram que um novo programa de compra de ativos pode obrigar a uma alteração dos limites do banco central, que não pode ter mais de 33% das obrigações soberanas de um país.

Na semana passada, Draghi sinalizou que essas restrições poderiam ser aliviadas excecionalmente, tendo em conta as circunstâncias particulares que afetam a Zona Euro, o que também levanta a perspetiva de desafios legais, na medida em que esses limites impedem o BCE de quebrar as regras da União Europeia que proíbem a impressão de dinheiro para o financiamento dos governos.

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