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Sucessora de Merkel preocupada com política de juros baixos do BCE
A líder da CDU diz que a política monetária está a penalizar a poupança e a motivar a saída de capitais da Europa, pelo que pede contenção da autoridade monetária no período em que os juros vão continuar baixos.
Annegret Kramp-Karrenbauer, que sucedeu a Angela Merkel na liderança da CDU no final do ano passado, está preocupada com o impacto da política monetária do Banco Central Europeu na poupança dos alemães e a saída de capitais da Europa.
Numa entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, citada pela Reuters, Kramp-Karrenbauer apelou a alguma contenção do período de taxas de juro muito baixas na Zona Euro.
Assinalando que o BCE é independente e assim deverá continuar, com o foco na estabilidade dos preços, a sucessora de Merkel na CDU disse ao jornal alemão que "ao mesmo tempo, temos de olhar para o futuro e analisar se a fase de baixas taxas de juro não deve ser um pouco restringida".
Este apelo de Kramp-Karrenbauer surge numa altura em que a perspetiva é precisamente a oposta, pois o BCE deverá em breve reduzir as taxas de juro dos depósitos para um valor ainda mais negativo (-0,5%). No mercado as estimativas apontam para que as taxas Euribor permaneçam com sinal negativo até 2024.
"O efeito destas baixas taxas de juro é problemático, entre outras coisas porque as pessoas com os depósitos convencionais – incluindo muitos na Alemanha – não beneficiam com eles", disse a política alemã.
Não é só a poupança dos alemães que preocupa Kramp-Karrenbauer. "Com taxas de rendibilidade tão baixas, os capitais saem da Europa. É por isso que temos de garantir margem de manobra na política monetária, mas ao mesmo tempo tornar a política monetária sustentável e muito sensível", disse a política alemã, acrescentando que esta é agora uma "tarefa de Christine Lagarde".
É conhecida a posição de muitos alemães contra a política monetária do BCE, que entendem ser uma forma de ajudar os países mais endividados, sobretudo no Sul da Europa, penalizando as poupanças dos alemães. A Reuters assinala que apesar deste sentimento, são muito raras as críticas diretas de políticos alemães ao BCE, o que Kramp-Karrenbauer acabou por fazer nesta entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.
A agência de notícias britânica lembra que a sucessora de Merkel na CDU já cometeu uma série de gafes desde que assumiu a liderança do partido em dezembro passado, o que tem levantado dúvidas sobre a sua capacidade para assumir o cargo de chanceler.