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Trump anuncia que os EUA estão fora do acordo com o Irão

O presidente norte-americano confirmou as expectativas e anunciou que os Estados Unidos vão abandonar o acordo sobre o programa nuclear iraniano. Donald Trump vai impor o "mais alto nível" de sanções contra o Irão.

Comentario Trump
David Santiago dsantiago@negocios.pt 08 de Maio de 2018 às 19:25
Se dúvidas houvesse, ficaram dissipadas: Donald Trump anunciou que os Estados Unidos vão sair do acordo sobre o programa nuclear do Irão e já assinou a ordem presidencial para o efeito.

O presidente dos Estados Unidos explicou que a ordem assinada repõe todas as sanções que haviam sido levantadas na sequência do acordo alcançado em 2015 e revelou que Washington vai "restituir o mais alto nível de sanções económicas" contra o regime iraniano. 

O presidente norte-americano acrescentou que qualquer país que apoie o desenvolvimento do programa nuclear do Irão será também alvo de sanções por parte dos Estados Unidos.

"Os EUA não voltam a fazer ameaças vazias. Quando faço promessas, cumpro-as", atirou. Considerando que se trata de um acordo "desastroso", Trump mostrou abertura para negociar um novo compromisso que efectivamente contribua para a segurança internacional.


A agência noticiosa IRNA adianta que o presidente iraniano, Hassan Rouhani, vai fazer uma declaração pública numa estação televisiva estatal, a reagir ao anúncio de Donald Trump. Por sua vez, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, fez uma declaração pública a seguir ao discurso de Trump apoiando a decisão do presidente americano.

A comunicação social norte-americana tem referido nas últimas semanas que Trump e Netanyahu têm conversado sobre a posição de Washington relativamente ao Irão, um tradicional inimigo de Israel. Além de Israel, também a sunita Arábia Saudita é favorável à posição de Trump, uma vez que Riade pretende reduzir a capacidade de influência regional do xiita Irão.

Os EUA ficam em grande medida isolados na cena internacional, desde logo porque os restantes cinco países que assinaram o acordo com o Irão pretendem que o mesmo se mantenha em vigor. Resta saber, porém, o que fará Teerão agora que os Estados Unidos rasgaram o acordo e que as penalizações financeiras voltarão a pender sobre o regime iraniano. 

O presidente francês, Emmanuel Macron, já lamentou a decisão de Trump, que o próprio lhe antecipara num telefonema realizado esta terça-feira. Além de França, também a Alemanha e o Reino Unido encetaram esforços nas últimas semanas na tentativa de evitar que os EUA rasgassem o acordo, uma decisão com impacto negativo para muitas empresas europeias com presença no Irão. A União Europeia também já revelou que quer "preservar" o acordo com o Irão. A Rússia e a China também defendem a manutenção do acordo iraniano.


Esta poderá ser, até ao momento, a decisão mais relevante de Trump em termos de política internacional, sendo ainda impossível avaliar os efeitos que a mesma poderá ter não apenas no Médio Oriente mas também para o conjunto das relações internacionais. Oficiais do exército americano citados pela CNN apontam para o risco de o Irão atacar Israel. 


"No centro do acordo com o Irão está a ficção de que o Irão prossegue um programa nuclear com fins pacíficos", declarou Trump que assegurou ter "provas de que esse programa é uma mentira"
. Trump aludia aos documento apresentados há uma semana por Israel que alegadamente comprovam que Teerão nunca deixou de prosseguir objectivos com vista a alcançar armamento nuclear. 


Apesar de a decisão sobre a manutenção, ou não, do levantamento das sanções poder esperar até ao próximo dia 12 de Maio, os analistas coincidem ao considerar que Trump não quis sobrepor este anúncio à mudança oficial da embaixada americana em Israel para a cidade de Jerusalém. Outra decisão com potencial desestabilizador no Médio Oriente.

Um "rasgar" há muito esperado

Donald Trump sempre se mostrou muito crítico em relação ao chamado Plano de Acção Conjunta  (Joint Comprehensive Plan of Action), assinado em 2015 pelo então presidente americano Barack Obama e pelos restantes países com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, a que se juntou ainda a Alemanha (P5+1).

O compromisso firmado limitava o enriquecimento de urânio pelo Irão na quantidade estritamente necessária à produção energética, restringindo capacidade para o desenvolvimento de armamento nuclear. Além de ter de entregar 20% do seu stock de urânio enriquecido, Teerão comprometeu-se a permitir que investigadores da Agência Internacional de Energia Atómica fizessem visitas às instalações nucleares iranianas sem pré-aviso.

Contudo, o ainda candidato presidencial Trump classificava o acordo como o "pior acordo da história" e prometia rasgá-lo uma vez chegado à Casa Branca. O primeiro sinal concreto foi dado em Outubro do ano passado, quando o já presidente não certificou que Teerão estivesse a cumprir o compromisso assinado em 2015.

Desde então, Trump rodeou-se, nos últimos meses, de fortes críticos do acordo iraniano: Mike Pompeo, secretário de Estado, e John Bolton, conselheiro para a Segurança Nacional. Bolton defendeu que Washington devia intervir militarmente contra o Irão para acabar com a vontade do regime deter a bomba nuclear.

Trump sustenta que o acordo de 2015 falhou no objectivo de limitar o desenvolvimento de mísseis balísticos por parte do Irão, tendo apenas limitado as actividades nucleares iranianas por um curto período temporal (até 2030). Em contrapartida, o Irão garantiu 100 mil milhões de dólares decorrentes do levantamento de sanções, dinheiro que hoje Trump reiterou estar a ser usado por Teerão para financiar operações terroristas e guerras por procuração, designadamente na Síria e no Iémen. Trump insistiu no discurso desta terça-feira que foi um acordo "em que só um lado saiu a ganhar". 

(Notícia actualizada às 20:15)
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