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Obama em Cuba: "Vim aqui para enterrar o último resquício da Guerra Fria"

O presidente americano fez um discurso histórico esta manhã em Havana. Num discurso transmitido em directo na TV cubana, Obama disse que o regime não tem de temer os Estados Unidos, mas apelou a uma mudança de comportamento de Cuba.

Reuters
22 de Março de 2016 às 17:04
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A nove meses do final do seu mandato como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama fez esta terça-feira um discurso histórico em Cuba, que foi transmitido em directo para toda a população. O presidente americano procurou evidenciar um espírito de reconciliação com o regime comunista, garantindo que Washington quer terminar o embargo para benefício dos cubanos. Mas também é preciso que o governo cubano mude várias das suas práticas.

 

"Vim aqui para enterrar o ultimo resquício da Guerra Fria nas Américas. Vim aqui estender a mão da amizade ao povo cubano", afirmou Barack Obama, que foi muito aplaudido. Socorrendo-se de expressões em castelhano em várias passagens do seu discurso (como por exemplo "creo em los cubanos", a fazer lembrar John F. Kennedy em Berlim, em 1963), Obama procurou tranquilizar Raúl Castro, que preside aos destinos do país. "Não precisa de temer uma ameaça dos Estados Unidos".

 

Obama apelou directamente a Raúl Castro para que este deixe de perseguir a oposição ao seu regime – esta segunda-feira, o presidente cubano ficou incomodado quando um jornalista americano lhe perguntou por que razão existem presos políticos no país. "Acredito que não precisa de ter medo das vozes diferentes do povo cubano – nem da sua capacidade para intervir, reunir-se ou votar nos seus líderes", afirmou Obama.

 

Obama pede o fim de detenções arbitrárias

 

O presidente americano sublinhou que existe uma "mudança geracional" em Cuba e apelou a que "o povo cubano construa algo novo". "Deixem-me dizer aquilo em que acredito. Acredito que os cidadãos devem dizer o que pensam sem medo" e "devem ser livres de se reunir e criticar o seu governo, e de protestar pacificamente, e a lei não deve prever detenções arbitrárias das pessoas que exerçam esses direitos", afirmou.

 

Na conferência de imprensa desta segunda-feira, Raúl Castro enunciou vários problemas que identifica nos Estados Unidos. Obama reconheceu, por exemplo, que há discriminação com base na raça, e lembra que quando o seu pai, negro, chegou aos Estados Unidos, era ilegal casar-se com uma mulher branca em muitos dos estados americanos. "Mas as pessoas protestaram, debateram estes problemas, desafiaram os governantes". E por causa disso "eu posso estar aqui hoje como afro-americano e como presidente" dos EUA.

Aliás, a campanha eleitoral actualmente em curso nos Estados Unidos é o melhor exemplo de como a democracia fez o país evoluir. "Há dois cubanos americanos [Ted Cruz e Marco Rubio] no Partido Republicano que estão a concorrer contra o legado de um homem negro que é presidente", que lutam "para derrotar o candidato do Partido Democrata, que será ou uma mulher [Hillary Clinton] ou um socialista democrata [Bernie Sanders]. Quem é que acreditava nisto em 1959? É uma medida do nosso progresso enquanto democracia", atirou, provocando risos e aplausos na plateia de mil pessoas.
 

Fim do embargo não chega

 

Por isso, apesar de ter pedido ao Congresso que levante o embargo a Cuba, Obama diz que isso não será suficiente. "Mesmo que levantássemos o embargo amanhã, os cubanos não conseguiriam aplicar todo o seu potencial sem uma mudança contínua aqui em Cuba", avisou. "Um trabalhador deve poder ser directamente contratado pelas empresas que invistam em Cuba" e "a internet deve estar disponível em toda a ilha, para que os cubanos se liguem ao mundo" e a "um dos maiores motores de crescimento na história da humanidade".

 

A prosperidade, no século XXI, "também depende de uma troca de ideias livre e aberta. Se não é possível aceder a informação online, se não é possível ser exposto a diferentes pontos de vista, então vocês não vão atingir o vosso potencial. E com o tempo, a juventude perde a esperança", alertou.

 

Bem ao estilo da sua primeira campanha presidencial, Obama quis deixar uma mensagem de esperança, e declarou, em castelhano: "Sí, se puede" (sim, é possível). Esta tarde, Obama vai assistir a um jogo de basebol entre a selecção cubana e a equipa americana Tampa Bay Rays. No final do dia deixa Cuba, em direcção à Argentina.

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