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Um presidente americano volta a visitar Cuba 88 anos depois
Barack Obama inicia este domingo uma viagem histórica de três dias a Havana, na tentativa de acelerar a normalização das relações entre Cuba e os Estados Unidos. Obama viaja com a família, vai discursar perante os cubanos e vai assistir a um jogo de basebol.
O presidente dos Estados Unidos da América inicia este domingo uma visita de enorme importância e simbolismo a Cuba. Não só porque é o primeiro presidente norte-americano, desde 1928, a fazê-lo, mas especialmente porque esta visita marca mais um passo no processo de normalização das relações entre os dois países, separados por apenas 160 quilómetros, mas com divergências políticas profundas desde os tempos da Guerra Fria. Na terça-feira, Barack Obama vai fazer um discurso histórico em Havana, perante mil pessoas, com transmissão na televisão do país.
O último presidente americano a visitar Cuba foi Calvin Coolidge, em 1928. O embargo americano a Cuba foi decretado em 1960, e ainda se mantém em vigor. Obama prevê que ele só seja levantado na próxima legislatura, ou seja, no mínimo, apenas em 2017.
O primeiro sinal de que os 50 anos de afastamento entre Washington e Havana estavam prestes a terminar foi dado em Dezembro de 2013. No funeral de Nelson Mandela, Barack Obama cumprimentou Raúl Castro com um aperto de mão. Um ano depois, a 17 de Dezembro de 2014, ambos os líderes anunciaram que estavam empenhados em terminar o embargo americano a Cuba e em retomar as relações diplomáticas. De lá para cá, Cuba reabriu a sua embaixada em Washington, em Julho do ano passado. No mês seguinte, a bandeira americana voltou a ser hasteada na embaixada dos EUA em Havana.
A visita de Barack Obama tem como objectivo prosseguir essa trajectória de aproximação entre os dois países. Em declarações reproduzidas pelo The Guardian, o conselheiro de segurança de Obama, Ben Rhodes, diz esperar que a viagem sirva para "tornar o processo de normalização das relações permanente e irreversível", antes de Obama deixar o cargo de presidente dos EUA, em Janeiro do próximo ano. As eleições americanas estão marcadas para 8 de Novembro deste ano.
Barack Obama vai aterrar em Cuba este domingo à tarde. Na comitiva seguem também a primeira-dama Michelle Obama e as duas filhas do casal, Malia e Sacha, bem como a sogra do presidente, Marian Robinson. Segundo o roteiro da visita, Obama vai encontrar-se com os funcionários da embaixada americana e visitar a parte histórica de Havana, incluindo a catedral, local onde vai reencontrar o cardeal Jaime Ortega, que intermediou, com a ajuda do Papa Francisco, as negociações para o acordo de 2014 entre Washington e Havana.
Raúl Castro e basebol marcados para segunda-feira
Na segunda-feira, Obama começa o dia a depor uma coroa de flores no memorial de Jose Marti, um dos heróis cubanos da revolução falhada do final do século XIX. Logo depois, Obama encontra-se pela primeira vez com o presidente cubano, Raúl Castro. Será uma ocasião para analisar os progressos nas relações entre os dois países, em áreas em que há acordo e noutras em que não há – como os direitos humanos, nota o The Guardian. No final, haverá uma conferência de imprensa conjunta.
Logo depois, o presidente americano vai reunir-se com empresários cubanos, numa ocasião em que estarão presentes empresários americanos e americanos de origem cubana que participam na visita. À tarde, Obama vai ainda assistir a um jogo de basebol entre os Tampa Bay Rays e a selecção nacional de Cuba, no Estádio Latinoamericano. Está ainda previsto encontrar-se com dissidentes cubanos e membros do governo do país. Da agenda não consta nenhum encontro com Fidel Castro.
À noite, Raúl Castro oferece um jantar de Estado à família do presidente americano no Palácio da Revolução.
O discurso que tem gerado expectativas está marcado para terça-feira de manhã, no Gran Teatro Alicia Alonso. Na plateia vão estar pelo menos mil pessoas, entre as quais várias convidadas pelos EUA, e o discurso vai ser transmitido em directo pela TV cubana. O conselheiro Ben Rhodes descreve o discurso como "um grande momento na história dos dois países", por se tratar do "primeiro discurso de um presidente americano em Cuba em quase 90 anos".
Obama embarca posteriormente no Air Force One em direcção à Argentina, o país que vai visitar depois da ida a Cuba.