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Lagarde: Terceiro resgate para a Grécia exige alívio significativo da dívida
A directora-geral do FMI repete que a dívida grega se tornou agora insustentável. Pede a Atenas reformas estruturais, consolidação orçamental, restabelecimento da banca e também medidas que permitam uma reestruturação significativa da sua dívida.
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A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, reiterou nesta quarta-feira, 29 de Julho, que a Grécia precisa de uma reestruturação da dívida pública para concluir o terceiro programa de ajustamento económico e financeiro com sucesso.
Numa conferência 'online' através de Washington, Christine Lagarde lembrou que o FMI considerou que a dívida pública da Grécia é insustentável, numa análise feita há cerca de duas semanas.
"Tenho afirmado repetidamente que para a Grécia ser bem-sucedida e para que o seu programa [de ajustamento económico e financeiro] produza resultados é necessária uma reestruturação significativa da sua dívida", reiterou esta quarta-feira, 29 de Julho, a directora-geral do FMI.
Para Christine Lagarde, esse é um dos pilares para impulsionar a recuperação económica e financeira da Grécia, bem com a necessidade de implementar reformas estruturais, de consolidação orçamental e de criar condições de financiamento.
A directora-geral do FMI considerou que esses são os pontos-chave para fazer com que a economia grega "dê a volta" e volte a ganhar "soberania financeira", ou seja "regresse aos mercados sem qualquer suporte" institucional.
Questionada sobre como vê a oposição do Governo grego ao terceiro programa de ajuda financeira, com o primeiro-ministro Alexis Tsipras a afirmar que não acredita no texto, a ex-ministra das Finanças francesa disse que "o barulho político é muitas vezes uma necessidade".
"Eu própria já estive na política e há muita coisa que se diz, mas o que importa no final do dia é o que é feito", afirmou.
Christine Lagarde considerou ainda que o Governo grego "mostrou a determinação" para aprovar as medidas que acompanham o programa no Parlamento e que agora é importante ver como é que essas medidas são implementadas. "Isso é que demonstra que o programa pertence às autoridades gregas", disse.
Segundo o FMI, "a dívida pública grega tornou-se altamente insustentável devido à flexibilização das políticas ao longo do último ano, juntamente com a recente deterioração do contexto económico e financeiro interno por causa do fecho do sistema bancário que ampliou significativamente a dinâmica adversa".
"As necessidades financeiras até ao fim de 2018 são agora estimadas em 85 mil milhões de euros e a dívida deverá atingir o pico próximo dos 200% do PIB nos próximos dois anos", escreveu o FMI há três semanas, precisando que estas estimativas pressupõem um cenário em que seja possível acordar rapidamente um novo - e terceiro - programa de assistência.
Como os europeus recusam perdoar dívida, o FMI sugere que talvez tenham de aumentar "dramaticamente" para 30 anos o prazo de carência para o início do reembolso dos empréstimos já concedidos, mas também de um próximo, que poderá elevar-se a 50 mil milhões de euros, segundo se admite em Bruxelas. "Outras opções incluem transferências anuais explícitas para o Orçamento grego ou acentuados 'hair-cuts'. A escolha entre as várias opções cabe à Grécia e aos seus parceiros europeus", escreve o FMI, que exclui, pela sua parte, fazer qualquer movimento para aliviar as condições de pagamento dos empréstimos que concedeu a Atenas.
Quando prometeram equacionar um terceiro resgate para a Grécia, os líderes dos demais países do euro reconheceram que há "preocupações sérias sobre a sustentabilidade da dívida grega" devido "à flexibilização das políticas nos últimos doze meses". Ficou, porém, excluída a possibilidade de perdoar empréstimos garantidos pelos contribuintes europeus, como era reclamado pelo Syriza. "A cimeira do euro sublinha que ‘hair-cuts’ na dívida nominal não podem ser realizados".
Já a possibilidade de voltar a esticar as maturidades dos empréstimos europeus e prazos de carência voltou a ser assumida, na linha do que já havia sido prometido ao país em 2012. "O Eurogrupo continua preparado para considerar, se necessário, medidas adicionais (possíveis períodos de carência e de pagamento mais longos) de modo a assegurar que as necessidades brutas de financiamento continuam em níveis sustentáveis".
"Estas medidas ficarão condicionadas à integral implementação das medidas a serem acordadas num possível novo programa e serão consideradas depois de uma primeira revisão positiva" da implementação do programa, acrescenta-se. O problema aqui é que, para o FMI entrar num terceiro resgate, exige previamente garantias de que a dívida é sustentável, ao passo que os europeus dizem estar dispostos a rever as condições de pagamento dos empréstimos mais só quando virem provas mais reais de empenho reformista na Grécia.
No início da conferência 'online', e antes de responder a perguntas enviadas pelos jornalistas, a directora-geral do FMI fez um pequeno resumo das perspectivas para a economia mundial.
Referindo-se à Zona Euro, Christine Lagarde considerou que "apesar da situação na Grécia" a economia do conjunto dos 19 da moeda única está a dar sinais positivos, devido também à recuperação dos países que concluíram os seus programas de ajustamento, como a Irlanda e Portugal, "que estão a começar a alcançar melhores resultados".