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Tsipras propõe congresso extraordinário no Syriza

Perante as críticas internas às medidas que constam do princípio de acordo entre Atenas e os credores, o primeiro-ministro grego e líder do Syriza admite um referendo intrapartidário sobre as condições que venham a constar do terceiro resgate.

Reuters
30 de Julho de 2015 às 13:12
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A resposta encontrada por Alexis Tsipras para responder ao crescendo de críticas, no seio do Syriza, às medidas negociadas entre o governo helénico e os credores, algumas já aprovadas no parlamento helénico, passa pela realização de um congresso extraordinário do partido já em Setembro. O primeiro-ministro grego pretende assegurar a unidade do Syriza e, para o conseguir, está também disposto a promover um referendo intrapartidário sobre as condições que venham a constar do terceiro resgate.

 

Estas propostas, citadas pelo Guardian, foram feitas esta quinta-feira, 30 de Julho, num discurso proferido pelo também líder do Syriza na reunião do Comité Central do partido, órgão composto por 200 elementos, entre os quais alguns dos actuais 149 deputados da coligação de esquerda radical.

 

Tsipras pretende assim clarificar a situação interna do partido e resolver os problemas de unidade que ameaçam a integridade da coligação de esquerda radical, mas também a própria maioria parlamentar da coligação que suporta o actual governo de coligação entre o Syriza e os Gregos Independentes. O que a acontecer levaria à provável convocação de eleições legislativas antecipadas na Grécia. Numa entrevista à rádio grega Sto Kokkino, concedida na passada quarta-feira, Tsipras sustentava ser "a última pessoa a querer eleições se tivéssemos garantida uma maioria no parlamento". Mas sem maioria, "teremos de avançar para eleições", concluía o governante.

 

De acordo com a jornalista do jornal grego conservador Kathimerini, NikiKitsantonis, Alexis Tsipras disse também que o congresso extraordinário de Setembro permitirá discutir a forma de enquadrar um governo de esquerda na actual Europa e eventuais alternativas. O político realçou que a tentativa de decidir à pressa, num cenário de incerteza, a estratégia a seguir pelo Syriza contribuirá somente para agravar as já sentida fricções no partido, cada vez mais ameaçado por cisões. 

"Criámos as primeiras fissuras na hegemonia neoliberal europeia. Temos de dar uma resposta definitiva sobre se pode existir um governo de esquerda nesta Europa liberal e conservadora
Tsipras

 

Ainda segundo aquela jornalista, o líder do Syriza disse aos seus companheiros de partido que no caso de considerarem que o governo grego dispunha de alguma alternativa que não a de aceitar as exigências dos credores, então a coligação de esquerda radical deve pronunciar-se sobre as condições acordadas já este domingo, num referendo interno.  

 

Ontem, Tsipras assegurava que não permitirá ser chantageado pelos elementos mais radicais do Syriza, nomeadamente os representantes da Plataforma de Esquerda, a corrente cujas críticas face ao princípio de acordo alcançado entre a Grécia e as instituições têm sido de maior intransigência. Contudo, o Guardian escreve hoje que o chefe do Executivo helénico pretende convocar eleições legislativas antecipadas logo que o resgate de 86 mil milhões de euros esteja formalizado.

 

Continuando no discurso feito ao início desta tarde na Grécia, no órgão máximo do Syriza, Alexis Tsipras voltou a afiançar que o Executivo que lidera se encontrou na circunstância de ter de aceitar as condições propostas pela troika. "Não foi uma escolha nossa", resumiu lembrando que estava perante duas possibilidades: um compromisso difícil ou um "default" desordenado.

 

O Khatimerini adianta entretanto que no discurso de hoje o primeiro-ministro grego instou aqueles que "acreditam que outro governo poderia ter negociado um melhor acordo, [a] dizê-lo". E aproveitou para sustentar a acção governativa do seu Executivo:

 

"Criámos as primeiras fissuras na hegemonia neoliberal europeia. Temos de dar uma resposta definitiva sobre se pode existir um governo de esquerda nesta Europa liberal e conservadora". No início desta semana, Tsipras realçava que a necessidade de aliviar a dívida grega passou a ser um tema abertamente discutido pelas instituições, algo que também se deveu à sua governação, defendeu.

 

As sensibilidades do Syriza, um partido que congrega inúmeras correntes ideológicas, desde a esquerda moderada e pró-europeia até uma extrema-esquerda antieuropeia e defensora da saída grega do euro, têm feito sentir-se nas últimas semanas. Isto após o governo grego e a troika terem acordado um conjunto de medidas a implementar de forma a tornar possível a libertação de um financiamento ponte à Grécia, que assegurasse as necessidades financeiras mais imediatas, e dar início às negociações para um terceiro programa de assistência. As negociações ao nível técnico começaram esta semana.

 

Para aprovar esses pacotes de medidas, Tsipras precisou dos votos da oposição (Nova Democracia, Pasok e To Potami), uma vez que na votação do primeiro pacote viu 39 deputados do Syriza votar contra ou abster-se, enquanto no segundo pacote esse número acabou por registar uma ligeira queda para 36 parlamentares. O ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, foi um dos deputados que alterou o sentido de voto da primeira para a segunda votação.   

 

O encontro do Comité Central do Syriza decorre precisamente no dia da chegada de Delia Velculescu à Grécia. A economista romena vai liderar a equipa negocial do Fundo Monetário Internacional (FMI) nas conversações que decorrem no terreno desde a passada segunda-feira. Depois da vitória do Syriza nas eleições de 25 de Janeiro último, um dos principais cavalos de batalha assumido pelo Executivo passou a ser o de não incluir o FMI em qualquer eventual solução que viesse a ser encontrada para resolver os problemas de escassez financeira da Grécia. O Guardian lembra que durante as conversações para o resgate cipriota, foi atribuído o epíteto de "dama de ferro" a Delia Velculescu.

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