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Grécia prepara-se para pedir à Europa extensão dos empréstimos

Em Atenas nega-se eleições antecipadas, e depois de se ter afirmado que não se pediria um prolongamento do programa de assistência "nem com uma pistola apontada à cabeça", uma fonte anónima citada pela Reuters diz que esse pedido será feito esta quarta-feira, mas para mais empréstimos por mais seis meses. Cofres do Estado e dos bancos gregos estarão quase vazios.

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Greece Said to Request Six-Month Bailout Extension
17 de Fevereiro de 2015 às 18:18
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"Se quiser mais apoio, [a Grécia] tem de pedir uma extensão" do programa de assistência financeira, repetiu esta tarde Pierre Moscovici, comissário dos Assuntos Económicos, ao recusar que o Eurogrupo e o FMI tenham na véspera feito qualquer ultimato à Grécia.

 

O comissário francês falava no final encontro do Ecofin, que reúne todos os ministros das Finanças da União Europeia, pouco depois de um porta-voz do primeiro-ministro Alexis Tsipras ter assegurado que essa opção não seria seguida "nem com uma pistola apontada à cabeça".  

 

Não vamos sucumbir à chantagem psicológica. 
Alexis Tsipras
Primeiro-ministro grego

"Nós não vamos sucumbir à chantagem psicológica", disse Tsipras no parlamento, ao agendar para sexta-feira a aprovação de medidas que fazem marcha atrás no que foi recentemente decidido, designadamente alargar o âmbito dos acordos colectivos (que obrigam todas as empresas de um determinado sector a respeitar as normas negociadas por sindicatos e associações patronais).

 

A meio da tarde, porém, uma fonte anónima próxima do Governo grego, citada pela Reuters, referia que esse pedido será feito amanhã, mas que se refere apenas à extensão dos "empréstimos europeus". Atenas quer financiamento europeu por mais seis meses, prazo que coincide com o oferecido por Bruxelas. 

 

Condicionalidade "light"?

 

Vários responsáveis europeus têm repetidamente frisado não há empréstimos sem condições. O que há é abertura para rever essas condições, de modo a acomodar parte do programa eleitoral do novo governo liderado pelo Syriza. Ontem o Eurogrupo reiterou que existe sempre "alguma flexibilidade" para mexer em metas e medidas dos programas dos países resgatados, que foram várias vezes alteradas em vários países durante a sua vigência, inclusive na Grécia. O ministro Yanis Varoufakis disse ontem não lhe ser possível perceber o que quer dizer "alguma flexibilidade", enquanto os seus colegas se queixavam de não perceber o que, em concreto, este pretende fazer e até querer.

 

O Eurogrupo tem insistido que essas novas medidas têm de ser financiadas por cortes ou mais receitas noutras áreas, embora tenha também mostrado abertura para suavizar a meta orçamental deste ano em função da evolução da economia grega. Ao mesmo tempo, exige que as autoridades gregas reiterem o seu "compromisso inequívoco com as obrigações financeiras para todos os seus credores" - ou seja, Atenas tem de manter a ambição de devolver aos países europeus os mais de 220 mil milhões de euros que recebeu de empréstimos desde 2010.

 

Quase ao mesmo tempo em Atenas, um porta-voz de Alexis Tsipras desmentia que esteja a ser ponderado pelo primeiro-ministro antecipar eleições na Grécia, caso o desacordo com o resto dos países europeus persista e seja necessário encarar a saída do país do euro. 

Estamos a caminhar para a hora da verdade 
George Osborne
Ministro britânico das Finanças

 

Em Bruxelas, questionado sobre se a Grécia está a caminhar para sair do euro, George Osborne, o ministro britânico das Finanças, respondeu: "Estamos a caminhar para a hora da verdade". 

 

Estado e bancos sem fundos

 

O programa europeu de assistência à Grécia termina em 10 dias, em 28 de Fevereiro. Dados do Banco da Grécia sugerem que os cofres do Estado estarão já no vermelho. No fim de Janeiro, as contas públicas fecharam com um défice primário (excluindo juros) de 149 milhões de euros, o que compara com um excedente de 812 milhões de euros no mesmo mês de 2014. Muitos gregos não pagam impostos quando há eleições, e essa pode ser uma explicação para o rombo nas contas.

 

Um dos próximos credores que baterá à porta de Atenas será o FMI. Embora ainda tenha previsto transferir 2,8 mil milhões no âmbito do segundo resgate (acordado em 2012), em Março chega a hora de Atenas começar a pagar os empréstimos recebidos no quadro do primeiro resgate (negociado em 2010): 1,4 mil milhões de euro é o valor do primeiro reembolso.

 

No mesmo período, vencem 6,8 mil milhões em Bilhetes do Tesouro (dívida de curto prazo) que o Estado grego tem vindo a emitir. Boa parte desses títulos estarão na posse dos bancos gregos que, em resultado da incerteza sobre o futuro da Grécia, têm assistido a uma forte fuga de depósitos. Tal como o Estado, também os bancos gregos estarão de novo à beira da ruptura. Amanhã o BCE decide se volta a estender, pela segunda vez, a linha de liquidez de emergência à banca helénica, actualmente fixada em 65 mil milhões de euros.

 

Terceiro resgate no horizonte?

 

"Há uma grande vontade política da nossa parte para encontrar uma solução que vá ao encontro dos interesses da Grécia e da Europa, no seu conjunto, e a Comissão Europeia considera que se pode chegar a um acordo no quadro do actual programa", afirmou o comissário europeu para o Euro e o Diálogo Social, Valdis Dombrovskis, no final do Ecofin.

 

"A bola está do lado da Grécia", repetiu, por seu turno, Luis de Guindos, o ministro das Finanças de Espanha, segundo o qual "o governo grego não deu quaisquer sinais de querer negociar ontem". Espero, acrescentou, que "reconsidere a sua posição". "Não vamos ter mais um encontro para falar de como o mundo funciona. Só haverá um encontro quando for claro [o que Atenas pretende], quando existir uma carta, um pedido e quando as condições estiverem confirmadas", precisou, por seu turno, o responsável austríaco, Jörg Schelling.

 

O segundo programa de assistência à Grécia, que envolve europeus e FMI – a troika – expira no fim deste mês. No total, há ainda sete mil milhões de euros por transferir para o Orçamento grego e 11 mil milhões estão reservados para a banca. O programa do FMI para a Grécia prolonga-se até Março de 2016. Se não houver qualquer recondução do programa europeu, estes montantes deixam de estar autorizados pelos parlamentos nacionais dos demais países do euro. Ou seja, depois do dia 28, a única fórmula de os demais europeus apoiarem eventualmente a Grécia será no âmbito de um novo - um terceiro - resgate, no qual o FMI dificilmente queirará envolver-se. 

 

(Notícia actualizada às 19h40)

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