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Governo italiano acusa Bruxelas de “terrorismo financeiro” e diz que não vai ceder “um milímetro”
Luigi Di Maio e Matteo Salvini, líderes dos partidos da coligação italiana, acusam responsáveis da UE de usarem os mercados financeiros para enfraquecer o Executivo italiano e garantem que poderão ser exigidas compensações.
Os comentários do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, sobre os planos orçamentais de Itália não caíram bem ao Governo transalpino, que acusa as instituições europeias de "terrorismo financeiro".
Isto porque as dúvidas levantadas pelos responsáveis da Comissão Europeia estão, na opinião dos líderes dos dois partidos da coligação, Matteo Salvini e Luigi Di Maio, a contribuir para a desvalorização das acções italianas e para o forte aumento dos juros da dívida pública no mercado secundário.
Esta terça-feira, o vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, defendeu mesmo que o Governo italiano pode exigir uma compensação financeira, devido à subida dos custos de financiamento do país. "As palavras e as ameaças de Juncker e outros altos responsáveis da União Europeia continuam a aumentar o spread da dívida de Itália. Estamos prontos para exigir compensações àqueles que querem penalizar Itália", referiu num comunicado citado pela Reuters.
"Ninguém em Itália se deixa iludir pelas ameaças de Juncker", continuou o líder da Liga, acrescentando que a prioridade do Governo é responder às necessidades básicas dos seus cidadãos, e que as críticas ao plano orçamental do Executivo "não nos vão parar".
Salvini faz referência aos comentários proferidos na segunda-feira por Juncker e Moscovici, que deram sinais de desagrado com a meta do défice de 2,4% traçada pelo Governo italiano para os anos de 2019, 2020 e 2021, um patamar muito acima do que era esperado.
Pierre Moscovici disse à Reuters que a meta do défice se desvia claramente das regras da UE respeitantes à disciplina orçamental, enquanto Juncker, a partir da Alemanha, sugeriu que Itália não pode ter um tratamento especial, porque isso significaria "o fim do euro". O presidente da Comissão Europeia referiu ainda que "uma crise é suficiente", expressando o desejo de que a crise da dívida grega não seja seguida por outra em Itália.
Apesar do cepticismo das instituições europeias, di Maio garantiu esta manhã que o Governo de coligação não vai ceder "um milímetro". "Não vamos desistir da meta de 2,4%, isso tem de ficar claro… Não vamos recuar um milímetro", sublinhou, em entrevista à rádio RTL, acrescentando que os responsáveis europeus estão a tentar usar os mercados financeiros para enfraquecer o Executivo italiano. "Essas tentativas vão fracassar porque a coligação está totalmente unida", assegurou.
Já ontem, com os activos italianos sob pressão, Di Maio acusou as instituições financeiras de, "com as suas declarações", estarem a fazer "terrorismo nos mercados".
"Moscovici, que não é italiano, acordou e decidiu fazer uma declaração contra Itália, criando tensão nos mercados", criticou o líder do 5 Estrelas.
Itália "não é a Venezuela"
A tensão nos mercados está a prolongar-se na sessão de hoje. Os juros da dívida de Itália aproximaram-se dos níveis de 2014 e a bolsa de Milão caiu para mínimos de 17 meses, depois de Claudio Borghi, líder do comité de orçamento da câmara baixa, ter dito, numa entrevista a uma rádio italiana que o euro "não é suficiente" para resolver os problemas orçamentais do país, o que obrigou Di Maio a emendar a mão, rapidamente, assegurando que Itália não pretende sair do euro nem da União Europeia.
Também Borghi se viu obrigado a esclarecer as suas declarações e, numa entrevista à Bloomberg esta manhã, assegurou que o Governo não tem intenções de abandonar a moeda única. "Não somos loucos" e "não somos a Venezuela", referiu. "Não há nenhum plano de sair do euro neste Governo, independentemente da minha convicção pessoal".
Esse também é o entendimento da agência Moody’s que, numa conference call realizada esta terça-feira, mostrou-se convicta de que Itália não tem planos para deixar a moeda única, ainda que tenha dúvidas sobre se o actual ambiente político permita a implementação das necessárias reformas estruturais.
"Itália tem há muito um elevado endividamento e problemas para gerar crescimento económico, e o ambiente político que pode permitir que os esforços de reformas estruturais ocorram também está em dúvida", afirmou Sarah Carlson, vice-presidente da equipa de ratings soberanos da Moody's, citada pela Reuters.
"Tudo se resume à trajectória da dívida e crescimento, que está ligada ao esforço de reforma estrutural", acrescentou.